O Partido dos Trabalhadores (PT) voltará a realizar eleições internas para definir seu novo presidente nacional, após um intervalo de sete anos sem consulta direta aos filiados. Marcado para 6 de julho o primeiro turno, e, caso necessário, 20 de julho o segundo, o pleito será disputado por cinco nomes, mesmo diante do desejo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva por uma candidatura de consenso.

Os pré-candidatos são o ex-prefeito de Araraquara e atual favorito do grupo ligado a Lula, Edinho Silva; o ex-presidente do partido e deputado federal Rui Falcão (SP); o secretário de Relações Internacionais do PT, Romênio Pereira; o prefeito de Maricá (RJ), Washington Quaquá; e o ex-dirigente da corrente Articulação de Esquerda, Valter Pomar.

Candidatura unificada é objetivo de Lula, mas divergências persistem

O presidente Lula, embora ainda não tenha feito uma declaração pública de apoio direto, é apontado por aliados como defensor da candidatura de Edinho Silva. A preferência se deve ao perfil conciliador do ex-ministro da Secretaria de Comunicação Social do governo Dilma Rousseff, visto como capaz de articular internamente no partido e, ao mesmo tempo, ajudar a pavimentar o caminho para uma possível reeleição de Lula em 2026.

“A minha pré-candidatura não é de oposição a ninguém. O PT é um partido democrático e, como tal, naturalmente, tem suas contradições internas. Isso é saudável e fortalece o partido. Cada candidatura representa uma visão de partido e todas elas são legítimas e precisam ser respeitadas”, disse Edinho.

No entanto, o surgimento de outras pré-candidaturas, especialmente a de Rui Falcão, considerado uma das vozes mais experientes e respeitadas dentro da legenda, pode levar Lula a adotar uma postura mais discreta no processo. Fontes do partido indicam que, apesar da predileção por Edinho, Lula mantém apreço e gratidão por Falcão, que presidiu o partido em momentos críticos, como durante o processo de impeachment de Dilma e a prisão do próprio Lula.

Articulações internas seguem para tentar consenso

O atual presidente interino do partido, senador Humberto Costa (PT-PE), tem atuado como articulador para tentar unificar os pré-candidatos em torno de uma candidatura única. Em reuniões recentes, Costa enfatizou a importância de evitar uma eleição fragmentada, o que poderia enfraquecer o partido num momento de preparação para os próximos embates eleitorais.

Ainda assim, alguns pré-candidatos demonstram resistência. Washington Quaquá, por exemplo, afirmou que, embora reconheça a liderança de Lula, não recebeu confirmação direta sobre o suposto apoio do ex-presidente a Edinho Silva. Já Edinho, por sua vez, defende que sua candidatura não se opõe a nenhuma corrente interna, mas sim expressa a pluralidade e a democracia interna do partido.

Regras do processo e perfil do eleitorado

A eleição direta está regulamentada por uma resolução do Diretório Nacional do PT, aprovada em dezembro de 2024. Poderão votar os filiados que tenham se inscrito no partido até 28 de fevereiro deste ano. O novo presidente eleito terá mandato de quatro anos, com possibilidade de uma reeleição. A regra se aplica também aos presidentes estaduais e municipais.

De acordo com os dados mais recentes do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o PT conta com 1.653.361 filiados em todo o país. A expectativa da direção partidária é de ampla participação, especialmente considerando que o partido volta a um formato mais democrático de escolha após um longo período de consenso interno e sucessões negociadas.

Gleisi Hoffmann muda de foco após passagem por período turbulento

A atual presidente nacional, Gleisi Hoffmann, que assumiu o comando em 2017 durante o momento mais turbulento da história recente do partido, não disputa a reeleição. À frente da legenda durante a prisão de Lula e as eleições de 2018 e 2022, Gleisi agora concentra esforços no governo, ocupando a Secretaria de Relações Institucionais, onde atua na interlocução com o Congresso.

Sua missão é articular a votação de pautas prioritárias, como a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, além de assegurar apoio legislativo para medidas centrais do governo Lula.

Desafio do novo comando será consolidar unidade para 2026

Independentemente de quem vença, o novo presidente do PT terá como principal desafio fortalecer a unidade interna da legenda. Com tendências diversas e uma base militante plural, o partido busca se posicionar de forma competitiva para as eleições municipais de 2026 e, sobretudo, preparar o terreno para uma possível nova candidatura de Lula à Presidência da República.