O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) declarou, nesta terça-feira (13), que Brasil e China estão “dispostos a unir suas vozes contra o unilateralismo e o protecionismo”. A declaração foi dada à imprensa internacional em Pequim, ao lado do presidente chinês, Xi Jinping. Sem citar diretamente o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, Lula fez referência a políticas tarifárias que, segundo ele, “tornaram o mundo mais imprevisível, instável e fragmentado”.

Presidente do Brasil defende regras da OMC

Lula afirmou que “guerras comerciais não têm vencedores” e defendeu o fortalecimento de um comércio justo com base nas regras da Organização Mundial do Comércio (OMC). Ele citou a Comunidade de Futuro Compartilhado Brasil-China como exemplo de alternativa às disputas ideológicas globais e destacou que a relação entre os dois países “nunca foi tão necessária”.

“Há anos, a ordem internacional já demanda reformas profundas. Nos últimos meses, o mundo se tornou mais imprevisível, mais instável e mais fragmentado. A defesa intransigente do multilateralismo é uma tarefa urgente e necessária”, destacou o presidente brasileiro.

Projetos em curso e parcerias estratégicas em áreas-chave

Durante o discurso, Lula falou sobre os acordos firmados entre a China e o Brasil, entre os quais estão a integração entre bancos centrais, o lançamento de dois novos satélites para monitoramento ambiental e agrícola, e a mobilização de recursos para projetos de infraestrutura e sustentabilidade. “Nunca um número tão grande de projetos foi discutido de maneira sistemática em tão pouco tempo. Os primeiros resultados concretos já podem ser constatados. A cooperação entre os bancos centrais permitirá uma maior integração financeira e facilitará investimentos”, destacou Lula.

“O presidente Xi e eu também conversamos sobre a mobilização de financiamento para projetos de infraestrutura, sustentabilidade e energia. Há poucas semanas, uma missão chinesa esteve no Brasil para examinar oportunidades de investimentos em infraestrutura no âmbito das rotas de integração sul-americana”, completou.

Ferrovia bioceânica ainda sem sinal verde da China

Apesar de celebrar os acordos com a China, Lula pode voltar ao Brasil sem alcançar um dos principais objetivos da visita a Pequim: o financiamento chinês para a construção da ferrovia bioceânica, projeto estratégico do Novo PAC que visa conectar o Atlântico ao Pacífico e ampliar o escoamento da produção brasileira até a Ásia. A obra é considerada um dos maiores desafios de engenharia da integração sul-americana, pois envolve a travessia da Cordilheira dos Andes.

Integrantes do Palácio do Planalto já sinalizam que a decisão chinesa deve ficar para os próximos 30 dias. Apesar das negociações, autoridades chinesas ainda demonstram cautela e levantam preocupações geopolíticas, além da necessidade de formação de cadeias de suprimento e qualificação de mão de obra.

Impasse diplomático e adesão limitada à Nova Rota da Seda

O Brasil tem evitado uma adesão formal à Nova Rota da Seda, megaprojeto global chinês de infraestrutura que já conta com mais de 150 países, inclusive na América Latina. A recusa brasileira em novembro passado gerou insatisfação em Pequim. Para contornar o impasse, os dois países decidiram alinhar o Novo PAC à iniciativa chinesa por meio de um plano de sinergia, sem compromissos diplomáticos mais profundos.

Questionado sobre possíveis retaliações dos Estados Unidos, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, disse que o Brasil “quer fazer parcerias com todos e não aceita veto de ninguém. O Brasil prega o multilateralismo, não funciona na base da ameaça e da tensão de nenhum país”.

A ministra do Planejamento, Simone Tebet, reforçou a urgência de uma decisão chinesa. Ela pediu apoio para viabilizar financeiramente a ferrovia e lembrou que o Brasil não tem orçamento para executá-la sozinho.

Também apontou que o projeto pretende interligar regiões como a Bahia, o Centro-Oeste e a área do Matopiba ao porto de Chancay, no Peru, considerado o maior investimento chinês na América do Sul. Segundo a ministra, apenas a parceria com a China poderá viabilizar o trecho mais caro da infraestrutura, que são as ferrovias.

União da América Latina

Ainda durante a declaração na China, Lula pediu que os líderes dos países da América do Sul e do Caribe se unissem, destacando que o futuro desses países não depende da China ou dos Estados Unidos. “Ou nos juntamos entre nós e procuramos quem queira construir um mundo compartilhado ou vamos seguir sendo a região que representa a pobreza no mundo”, disse Lula.

“Por séculos, recursos da América Latina e do Caribe enriqueceram outras partes do mundo. Sempre existiram distorções no comércio internacional. A imposição de tarifas arbitrárias só agrava as distorções”, completou o presidente brasileiro, que estava ao lado dos presidentes da Colômbia, Gustavo Petro, e do Chile, Gabriel Boric.