O apresentador Luciano Huck voltou a chamar atenção para os impasses do sistema político brasileiro ao publicar, neste último sábado (5), uma crítica ao modelo de governabilidade atual. Em postagem feita em seu perfil no X (antigo Twitter), ele retomou uma fala do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) durante o programa Roda Viva, em 1993, no qual o então ministro das Relações Exteriores destacava o excesso de poder do Congresso frente à ausência de responsabilidade decisória.

Ao comentar o vídeo, Huck destacou a permanência das dificuldades estruturais que atravessam os poderes da República e apontou a necessidade de uma reformulação no sistema político do país. Embora não tenha detalhado qual seria o modelo ideal, o apresentador sinalizou que a configuração vigente, marcada por disputas e entraves entre Executivo e Legislativo, já não sustenta a estabilidade institucional necessária.

“O regime (político) atual nosso não é nem presidencialista, nem parlamentarista, é um ‘congressualismo’ confuso, no qual o Congresso aumentou muito o poder para dizer não, para vetar, mas não aumentou a sua responsabilidade na decisão”, diz FHC no vídeo.

Postagem ocorre em meio à disputa entre Lula e Congresso sobre decretos do IOF

O posicionamento de Huck ocorre em um momento de tensão entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional. A crise foi intensificada após o Legislativo decidir derrubar decretos do governo federal que tratam da cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). A resposta do Executivo foi imediata: o governo acionou o Supremo Tribunal Federal (STF), buscando garantir a legalidade dos atos por meio de uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF).

A medida judicial levou o ministro Alexandre de Moraes, relator da ação, a suspender temporariamente tanto os decretos do governo quanto a decisão do Congresso. O magistrado também marcou uma audiência de conciliação entre os dois poderes para o próximo dia 15, na tentativa de construir um entendimento institucional que evite novos embates e preserve o equilíbrio federativo.

Conflito institucional revela fragilidade do modelo de coalizão

A recente crise entre Executivo e Legislativo reacende o debate sobre o chamado “presidencialismo de coalizão” – um termo cunhado por cientistas políticos para descrever a dependência do presidente da República em formar alianças com partidos diversos no Congresso a fim de garantir a governabilidade. Na prática, esse arranjo muitas vezes leva à negociação constante de cargos e favores em troca de apoio político, dificultando a autonomia do Executivo e contribuindo para instabilidades recorrentes.

A leitura de Huck, que já cogitou ser candidato à Presidência em eleições anteriores, é de que esse modelo evoluiu para um “presidencialismo de colisão”, marcado mais por confrontos do que por pactos institucionais. Sua análise, ancorada em um diagnóstico feito por FHC três décadas atrás, reforça a ideia de que o país ainda não encontrou um sistema político capaz de garantir eficiência administrativa sem abrir mão da representatividade democrática.

“Quando um diagnóstico pensado há 32 anos – por alguém com conhecimento de causa e bom senso como o presidente FHC – continua atual, é sinal de que falhamos em construir soluções. Ainda dá tempo de mudar. O desafio agora é resgatar o bom senso e o diálogo, antes que vire apenas um presidencialismo de confusão”, disse Huck.

Interesse de Huck pela política permanece em pauta

Embora tenha se mantido fora das urnas em 2018 e 2022, Luciano Huck tem feito declarações frequentes sobre temas políticos e sociais, mantendo-se próximo do debate público nacional. A postagem mais recente sinaliza que o apresentador continua atento à conjuntura e disposto a influenciar o debate sobre o futuro do sistema de governo no Brasil.