O deputado federal Pastor Sargento Isidório (Avante-BA) levou uma bebê reborn ao plenário da Câmara dos Deputados, nesta terça-feira (20), para afirmar que brincar ou ‘criar’ bonecas não é pecado. Durante o discurso, o parlamentar também chamou atenção para a importância de cuidar de pessoas reais em situação de vulnerabilidade.

“Eu estou aqui com a minha neta, bebê ‘esborni’, sei lá como é o nome, para dizer à Bahia e ao Brasil que se alguém cria a bebê ‘esborni’, compra roupinha, dá mamadeira, faz chá de fralda, faz gasto com esses bonecos de silicone, sem querer importunar o SUS [Sistema Único de Saúde] ou padres e pastores, que brinquem com suas bonecas, não é pecado“, disse.

Deputado cobra atenção a crianças reais

Em tom crítico, o parlamentar afirmou que o apego aos bonecos não pode substituir o cuidado com crianças reais em situação de vulnerabilidade. “Mas não devemos esquecer de nossas crianças feitas de carne e osso, que têm sentimentos, espírito e alma, e, na maioria das vezes, estão abandonadas”, completou.

Durante a fala, Isidório pediu que pessoas que tenham bebês reborn visitem orfanatos e abrigos de idosos, como forma de ampliar o cuidado humano para além da relação simbólica com os bonecos. Ele se referiu à boneca como sua “neta”, reforçando que o problema não está na afeição, mas na negligência das necessidades reais.

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Projetos visam limitar atendimento de bonecos no SUS

A crescente visibilidade dos bebês reborn, que simulam características reais de recém-nascidos, também chegou à pauta legislativa. Pelo menos três projetos de lei foram protocolados recentemente na Câmara dos Deputados tratando do uso e impacto dos bonecos em ambientes públicos.

Um dos projetos, de autoria da deputada Rosangela Moro (União/SP), estabelece diretrizes para o atendimento psicológico pelo SUS a pessoas que desenvolvam vínculos afetivos intensos com bonecos reborn e similares. A proposta inclui acolhimento, tratamento e orientação familiar.

Segundo o texto, a medida visa compreender os aspectos emocionais de indivíduos que se consideram “pais” ou “mães” dos bonecos.

A justificativa afirma que, “embora concebidos originalmente como peças artísticas“, os bebês reborn “têm sido progressivamente incorporados a dinâmicas afetivas complexas, muitas vezes associadas a situações de luto, perdas relacionais, carências emocionais severas ou isolamento social”.

Outras duas propostas abordam o uso de serviços públicos por pessoas que tratam os bonecos como se fossem filhos. O deputado Paulo Bilynskyj (PL-SP) propôs a proibição de atendimento a bonecos hiper-realistas em unidades de saúde, públicas ou privadas, vinculadas ao SUS.

Penalidades para atendimento de bonecos no sistema público

De acordo com o projeto, profissionais de saúde que descumprirem a norma poderão ser punidos com advertência, suspensão por até 30 dias e, em caso de reincidência, demissão. Já instituições privadas poderão ser multadas em até R$ 50 mil e até suspensas ou descredenciadas do SUS.

Outra proposta, do deputado Zé Trovão (PL-SC), proíbe o uso de serviços públicos destinados a seres humanos por parte de responsáveis por bebês reborn. O texto veta, por exemplo, a ocupação de vagas em creches, hospitais e unidades de saúde por esses bonecos.

Caso a norma seja desrespeitada, o projeto prevê advertência formal e multa de R$ 1 mil em caso de reincidência.

Salvador pode ter atendimento psicológico no SUS para quem trata reborn como filho

A vereadora Aladilce Souza (PCdoB), profissional da área e professora de enfermagem, apresentou, nesta quarta-feira (21), na Câmara Municipal de Salvador (CMS), um projeto de indicação voltado à criação de um protocolo clínico e de um programa de atenção psicossocial para esse público.

Segundo a parlamentar, há registros frequentes de pessoas que procuram unidades de saúde da capital baiana solicitando atendimento clínico aos bonecos como se fossem bebês reais.

“Essa prática, embora não configure, por si só, uma condição patológica, pode expressar sofrimento psíquico que merece atenção clínica e acolhimento qualificado”, pontuou Aladilce.

Segundo a líder da Oposição na CMS, a proposta inclui medidas de escuta, acolhimento, acompanhamento psicológico e psiquiátrico, além de ações educativas e formativas para profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS). O objetivo, conforme a vereadora, é garantir uma abordagem ética, empática e tecnicamente qualificada para lidar com essas situações, evitando julgamentos e condutas que possam constranger os envolvidos.