G20 no Brasil: Eleição de Trump pode impactar pautas ambientais e sociais, dizem analistas
Cúpula do G20 acontece no Brasil sob expectativa de uma presidência americana mais isolacionista

A eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos, às vésperas da cúpula do G20, levanta dúvidas quanto à continuidade dos compromissos que as maiores economias do mundo planejam firmar, segundo especialistas entrevistados pela Agência Brasil. Durante seu mandato anterior, Trump priorizou políticas internas e chegou a retirar os EUA do Acordo de Paris sobre mudanças climáticas, evidenciando uma postura avessa a espaços de diálogo internacional.
Marcada para os dias 18 e 19 de novembro no Rio de Janeiro, a Cúpula do G20 simboliza o encerramento dos trabalhos conduzidos pelo país que preside o grupo, função que atualmente cabe ao Brasil. Neste encontro, líderes mundiais devem ratificar acordos discutidos ao longo do ano e traçar estratégias para enfrentar desafios globais.
Embora a presidência de Joe Biden ainda vigore durante o evento, os compromissos assumidos terão que ser respeitados pelo governo Trump a partir de 2025. “Isso preocupa o mundo todo porque a economia dos Estados Unidos ainda é a maior do mundo”, afirma Vitelio Brustolin, pesquisador da Universidade de Harvard. Segundo ele, pautas que hoje ganham relevância, como proteção ambiental, combate à fome e tributação de grandes fortunas, “com a vitória de Trump, são esvaziadas”.
Brustolin explica que Trump apresenta um perfil isolacionista, favorecendo os interesses dos EUA em detrimento de alianças internacionais, como o G20. Ele relembra o abandono do Acordo de Paris em 2017 como exemplo do desinteresse de Trump por acordos multilaterais. “Então, como é que se fala em compromissos em um evento como esse quando o histórico do Trump não é de manutenção desse tipo de compromisso?”, questiona.
Aproximação de Biden
Nesse contexto, especialistas ponderam sobre a postura de Biden no evento. De acordo com Márcio José Melo Malta, professor associado de Relações Internacionais da UFF, o encontro pode ser a última oportunidade de Biden consolidar seu legado. “Seria uma ótima oportunidade para Biden, no seu final de mandato, na perspectiva de legado. Uma ótima oportunidade para tentar encerrar o mandato com chave de ouro e enaltecer o papel do G20”, observa.
Leonardo Neves, professor de Relações Internacionais do Ibmec e pesquisador da FGV, acrescenta: “Não é claro se o governo Biden vai assumir compromissos ou tentar avançar em um debate já que ele sabe que, muito possivelmente, ou melhor, quase que certeiramente, daqui a dois meses, o governo vai ser do candidato a presidente eleito Donald Trump. Então, por consequência, ele iria desfazer tudo”, aponta. Segundo Neves, Biden poderá decidir entre buscar apoio para “constranger Trump” ou evitar compromissos que possam ser revertidos.
Diálogos não serão perdidos
Apesar das incertezas trazidas pelo retorno de Trump, a professora Lia Valls, da Uerj, acredita que os avanços nas discussões não serão totalmente descartados. “Um governo do Trump tem impactos importantes, sem dúvida nenhuma. Mas, pelo menos, será possível mostrar onde conseguimos chegar, a convergência em vários assuntos. Além disso, todas as conversas que ocorreram a nível da sociedade civil durante esse tempo também não vão se perder”, defende.
A agenda do G20 ao longo de 2024 incluiu diversas reuniões ministeriais e bilaterais, além de encontros de grupos de trabalho. Para Valls, o fórum tem um caráter colaborativo, mas não gera compromissos formais, o que torna as discussões flexíveis quanto ao compromisso de longo prazo.
Com a eleição de Trump, a dinâmica do G20 em anos futuros poderá sofrer mudanças. Os Estados Unidos estão programados para sediar o encontro em 2026, após a presidência sul-africana em 2025. “Como será que o Trump vai se comprometer com uma agenda de G20, que obriga convergências, discussões. Será que ele vai levar adiante? Talvez sim, mas com que bandeira?”, questiona Valls.
Em 2024, o Brasil priorizou no G20 temas como inclusão social, combate à pobreza e à fome, desenvolvimento sustentável e reforma de governança global. A professora acredita que, sob a presidência de Trump, a agenda do G20 poderá ter uma direção diferente, menos alinhada aos atuais temas promovidos pelo Brasil.
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