Funcionário da Abin relata temor de prisão e interrupção de ataque hacker ao governo do Paraguai

Agente afirmou que ofensiva contra Paraguai começou na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro, mas prosseguiu durante governo Lula


Redação
Redação 04/04/2025 07:30 • Política
Funcionário da Abin relata temor de prisão e interrupção de ataque hacker ao governo do Paraguai - Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

Um funcionário da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) afirmou à Polícia Federal (PF) que a tentativa de invasão hacker a sistemas do governo do Paraguai chegou a ser interrompida inicialmente por temor de que a operação fosse descoberta. Segundo o depoimento, havia receio entre os envolvidos de que a Polícia Federal tomasse conhecimento da ação e que os agentes da Abin pudessem ser presos. As informações são do G1.

A paralisação da operação ocorreu no momento em que a PF aprofundava investigações sobre a existência de uma suposta “Abin paralela“, usada para práticas de espionagem com fins pessoais e políticos durante o governo de Jair Bolsonaro.

O agente afirmou que a ofensiva contra o Paraguai começou na gestão passada, mas prosseguiu durante o governo Lula, com aval de Luiz Fernando Corrêa, atual diretor da Abin, e Saulo de Cunha Moura, diretor interino entre março e maio de 2023.

O governo Lula interrompeu a ação em março de 2023, ao tomar conhecimento. Parte do depoimento relata que Alessandro Moretti, então diretor interino da Abin, foi o primeiro a suspender a operação, batizada de Vortex. As informações foram divulgadas pela TV Globo.

Suspensão antes do ataque

A interrupção ocorreu na véspera da missão. Agentes estavam prestes a embarcar para o Chile e Panamá, onde seria iniciada a ofensiva. Segundo o depoente, havia temor de que outro diretor da Abin revelasse a operação à PF, o que poderia resultar em prisão de servidores da agência.

Que o receio é que a polícia federal prendesse o pessoal na imigração; que Moretti autorizara a ação em momento anterior; que a operação vortex foi retomada depois; que Moretti no momento posterior autorizou a operação vortex“, diz trecho do depoimento.

O agente relatou que a ofensiva havia sido apresentada ao general Augusto Heleno, então chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), e ao ex-ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida.

Servidor diz que alvo era o ‘Anexo C’ de Itaipu

Segundo o servidor, o objetivo era obter dados sigilosos sobre valores negociados no Anexo C do Tratado de Itaipu. O documento define regras financeiras e de prestação de serviços de eletricidade da usina binacional, e suas cláusulas passaram a ser revistas em abril de 2023.

A ação, conforme o depoente, não incluía interceptação de telecomunicações, apenas de dados informáticos. As ferramentas usadas incluíam Cobalt Strike e técnicas de engenharia social, como envio de e-mails fraudulentos para capturar senhas e acessos.

O agente afirmou ainda que foram invadidos sistemas da Presidência da República do Paraguai, do Senado e da Câmara daquele país.

Infraestrutura internacional da operação

A ofensiva foi executada por meio de servidores localizados no Panamá e no Chile. Segundo o agente, as ferramentas utilizadas foram apresentadas em reuniões internas da Abin e aprovadas pela alta cúpula da agência.

Na terça-feira (1º), o governo paraguaio convocou o embaixador do Brasil em Assunção, José Antônio Marcondes, para pedir explicações sobre a suposta espionagem. Já nesta quinta-feira (3), o Ministério Público do Paraguai informou que abriu processo criminal para investigar o caso.

O servidor da Abin foi chamado novamente um mês depois para prestar novo depoimento e esclarecer dúvidas da PF sobre a operação. Ele revelou o nome secreto da ação: Operação Vórtex.

O Itamaraty divulgou nota confirmando a existência da operação, mas atribuiu sua execução ao governo Bolsonaro. Segundo o ministério, a ação foi suspensa pela gestão Lula ao ser informada em março de 2023.

Com a repercussão, o governo do Paraguai também suspendeu as negociações sobre a venda de energia da usina de Itaipu. A comercialização era justamente o alvo da espionagem, segundo o relato do agente.

O Ministério Público paraguaio afirmou que os envolvidos podem ter cometido crimes como “acesso indevido a dados, acesso indevido a sistemas de informática e interceptação de dados“. O órgão também destacou que a investigação poderá determinar a necessidade de cooperação internacional.

Como parte da reação diplomática, o Paraguai também chamou seu embaixador em Brasília, Juan Ángel Delgadillo, para consultas sobre o caso. Já o Itamaraty reiterou que a operação foi originada no governo anterior, e enfatizou que a atual gestão interrompeu a atividade tão logo foi informada.

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