A megaoperação no Rio de Janeiro (RJ), que resultou em mais de 100 mortes e se tornou a mais letal da história do país, reacendeu um tema que a direita brasileira quer transformar em bandeira política: a segurança pública. O episódio abriu espaço para que o grupo conservador tente recuperar protagonismo e conter o avanço da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Pesquisa sobre megaoperação no Rio reacende disputa

Após meses sem uma estratégia unificada, especialmente desde que Lula voltou a crescer nas pesquisas e protagonizou um encontro com Donald Trump, líderes da direita encontraram na crise da segurança uma oportunidade de reposicionar o discurso — e de testar alianças com foco em 2026. A aprovação do governador Cláudio Castro (PL) subiu para 53% entre os fluminenses, de acordo com pesquisa Genial/Quaest divulgada na quinta-feira (31).

Em agosto, o índice de aprovação de Castro era de 43%. Já a taxa de desaprovação oscilou de 41% para 40%, demonstrando estabilidade entre os eleitores críticos à gestão.

Segundo o diretor da Quaest, Felipe Nunes, o crescimento está diretamente ligado à percepção de que a ação teve caráter de enfrentamento ao crime organizado, e não de autopromoção política.

“A melhora na aprovação do governador aconteceu porque a maioria acredita que a operação foi autorizada para combater o crime organizado, não como uma ação para ganhar popularidade”,
explicou Nunes em publicação no X (antigo Twitter).

“Consórcio da Paz” e sinal de união

Durante a semana, governadores ligados à direita se reuniram duas vezes para discutir uma resposta conjunta à escalada da violência. O encontro principal ocorreu no Palácio Guanabara, no Rio, e contou com três nomes cotados para a disputa presidencial: Ronaldo Caiado (União Brasil, Goiás), Romeu Zema (Novo, Minas Gerais) e Tarcísio de Freitas (Republicanos, São Paulo) — este último participou de forma remota.

Do encontro surgiu o “Consórcio da Paz”, iniciativa que pretende integrar ações entre os estados no combate ao crime organizado. Segundo Caiado, o grupo será aberto a todos os governadores interessados. Embora os participantes neguem que o consórcio tenha viés eleitoral, o movimento é visto nos bastidores como um ensaio de frente unificada da direita na véspera do ano eleitoral.

Críticas ao Planalto e disputa de narrativa

As discussões giraram em torno de críticas à condução da segurança pública pelo governo federal. O governador Cláudio Castro, do Rio, voltou a acusar o Planalto de negligência no tema.
“É uma crítica recorrente que eu faço: entendo que essa gestão não vê segurança pública como prioridade. É uma crítica que eu faço recorrentemente e eu mantenho”, afirmou em entrevista ao Metrópoles no dia da operação.

Com a repercussão nacional e internacional da megaoperação, a direita pretende prolongar o debate o máximo possível. Pesquisas recentes mostram que a sensação de insegurança aumentou entre os brasileiros, o que reforça o cálculo político de apostar nesse tema — um dos poucos com alto apelo popular.

PEC da Segurança e embate no Congresso

A ofensiva também deve se estender ao Congresso Nacional. Governadores e parlamentares conservadores se articulam para pressionar na tramitação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança, enviada pelo governo Lula. A expectativa é que a oposição tente alterar ou desfigurar pontos-chave do texto, ampliando a disputa de narrativa sobre quem, de fato, se compromete com o combate ao crime.

A megaoperação, que expôs os limites entre o enfrentamento policial e a preservação de direitos, acabou servindo de ponto de inflexão política. E, para a direita, representa uma chance de reconstruir discurso, alianças e força eleitoral — com a segurança pública no centro da estratégia rumo a 2026.