Derrota de Marina Silva expõe crise na Rede: grupo ligado a Heloísa Helena assume comando do partido
Conflito antigo entre lideranças marca novo capítulo na disputa por rumos e estratégia da legenda ambientalista

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, enfrentou uma significativa derrota política neste fim de semana durante o 6.º congresso nacional da Rede Sustentabilidade, realizado em Brasília. O evento, que reuniu delegados de diversos estados, terminou com a eleição de Paulo Lamac como novo porta-voz nacional do partido, em uma votação que explicitou o racha interno entre duas alas da legenda.
Lamac, atual secretário de Relações Institucionais de Belo Horizonte, foi eleito com ampla vantagem. Representante da chapa “Rede pela Base”, ligada à ex-senadora e presidente do partido, Heloísa Helena, ele recebeu 216 votos, o equivalente a 73,5% dos delegados presentes. A chapa adversária, “Rede Vive”, apoiada por Marina Silva e encabeçada por Giovanni Mockus, conquistou apenas 26,5% dos votos, totalizando 78 apoios.
Derrota política de Marina Silva explicita divisão partidária
A eleição marcou mais um capítulo das tensões internas que se intensificaram desde 2022 no diretório nacional da Rede. De um lado, a ala ligada a Heloísa Helena defende maior aproximação com movimentos sociais e posicionamento mais independente frente ao governo federal. Do outro, Marina Silva, fundadora do partido e atual ministra no governo Lula, busca preservar a influência institucional da legenda e ampliar sua inserção no Executivo.
“A tarefa agora é tentar unir o partido e seguir em frente, estruturando nossa participação nos movimentos sociais e na disputa eleitoral”, publicou Heloísa Helena no Instagram, no domingo (13).
Durante o encontro, Marina também fez um apelo à unidade após o resultado da eleição.
“A Rede é um ecossistema. Tem lugar para todo mundo”, disse ela, conforme registrado pelo perfil oficial do partido em publicação sobre a eleição.
Judicialização e disputa acirrada nos bastidores
A tensão entre os grupos se refletiu também no campo jurídico. A chapa apoiada por Marina entrou com ação judicial alegando irregularidades no processo de escolha dos delegados e descumprimento do estatuto da legenda, especialmente em relação à proporcionalidade das correntes internas. Uma liminar chegou a ser concedida para suspender o congresso, mas foi derrubada na noite da quinta-feira (10), poucas horas antes da abertura oficial do evento.
Na decisão, o desembargador Fábio Eduardo Marques autorizou a realização do encontro e determinou que os votos dos delegados do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul fossem computados normalmente. Em nota divulgada após a vitória, a comissão eleitoral da Rede afirmou defender “o acesso à Justiça como instrumento legítimo de fortalecimento da democracia”, mas considerou “lamentável o uso reiterado e desproporcional da judicialização como estratégia de tumulto e de contestação vazia das decisões democráticas tomadas no âmbito interno do partido”.
Apoio a Glauber Braga marca tom político do congresso
O congresso também serviu de palco para declarações políticas mais amplas. Heloísa Helena discursou em apoio ao deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ), que entrou no sexto dia de greve de fome na Câmara nesta segunda-feira (14). O parlamentar protesta contra o processo de cassação de seu mandato, aprovado recentemente pela Comissão de Ética.
“Toda nossa solidariedade a esse valoroso, guerreiro, militante destacado, defensor da classe trabalhadora e que honra a classe trabalhadora: Glauber fica!”, exclamou Heloísa, puxando um coro entre os presentes.
Caso o plenário da Câmara confirme a cassação de Glauber, a própria ex-senadora, que é a primeira suplente da federação PSOL-Rede, assumirá a cadeira na Câmara dos Deputados.
Implicações para futuro da Rede Sustentabilidade
O resultado do congresso representa um momento decisivo para a Rede, que enfrenta o desafio de manter sua relevância no cenário político nacional. Com posições divergentes sobre a estratégia de atuação institucional, a legenda precisará encontrar um caminho de consenso para se fortalecer nas eleições municipais de 2024 e nas disputas que se aproximam em 2026.
A derrota de Marina Silva, uma das fundadoras e figura mais conhecida da sigla, sinaliza que o partido pode adotar posturas mais críticas ao governo federal, mesmo com a presença da ministra na Esplanada dos Ministérios. O futuro da legenda dependerá, em grande parte, da capacidade de articulação entre suas lideranças e do engajamento da militância nas decisões internas.
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