A Câmara dos Deputados deverá enfrentar mais um período de baixa atividade neste mês de junho. Após uma semana sem votações por causa do Fórum Parlamentar dos Brics, os trabalhos seguirão impactados pelos festejos juninos, especialmente o São João, tradicionalmente comemorado por parlamentares nordestinos em suas bases.

A celebração é considerada um momento estratégico de aproximação com eleitores. Deputados da região costumam deixar Brasília para participar das festas em seus Estados, o que contribui para o esvaziamento do plenário.

Feriado e presença nas bases

O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), é um dos que priorizam os festejos. Ele deve comparecer ao São João de Patos (PB), cidade de sua família. Segundo aliados, Motta não costuma faltar à celebração, independentemente do cargo que ocupa.

Em março, ele anunciou nas redes sociais a programação do evento com a frase. “Pessoal, sabe quem está saindo na frente mais uma vez?“. A festa em Patos acontece entre os dias 19 e 23 de junho e contará com atrações como Luan Estilizado, Wesley Safadão, Bruno & Marrone e Henrique & Juliano.

Em 2024, Motta esteve no evento ao lado de políticos como o senador Ciro Nogueira (PP-PI) e o ex-ministro das Comunicações Juscelino Filho. Em abril, escreveu no X: “Algumas coisas que são intocáveis para mim: (…) o melhor São João do Nordeste em Patos“.

Sessões esvaziadas e virtuais

A previsão é de sessões esvaziadas ao longo do mês. Na semana de Corpus Christi, a Câmara deve funcionar de segunda (16) a quarta-feira (18), antecipando o feriado. Já na semana seguinte, as sessões serão virtuais.

O deputado José Rocha (União Brasil-BA) defende que o trabalho continue mesmo durante o período junino. “O São João é de uma importância muito grande para todo o Nordeste”, disse. “Que se respeite apenas o dia de feriado, 24, para deputados estarem em suas bases”.

Rocha não vê problema na adoção de sessões remotas. “O importante é que haja trabalho. Se é em sessão virtual ou presencial, não importa. O que importa é estar votando matéria”, afirmou.

Após junho, os parlamentares terão três semanas de atividades até o recesso entre 18 de julho e 1º de agosto. Deputados avaliam que o primeiro semestre da presidência de Motta tem sido marcado por lentidão.

Para esses parlamentares, a falta de votações relevantes prejudica principalmente o governo, que vê sua agenda travada na Casa. Até agora, apontam apenas a decisão sobre a ação penal contra o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ) como votação de impacto.

Recesso ‘branco’ e comparações

Em maio, logo após essa votação, a Câmara entrou em um “recesso branco”. Motta viajou para Nova York com outros deputados para participar do LIDE Brazil Investment Forum 2025, evento com empresários e autoridades brasileiras.

O “recesso branco” é uma prática frequente desde a pandemia, quando deputados se ausentam sem pausa oficial. Para ocorrer o recesso formal, é necessária a votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), o que não aconteceu em 2023 nem em 2024.

Levantamento do Estadão mostra que, nos dois primeiros meses da gestão de Motta, o plenário e as comissões votaram menos propostas que no mesmo período sob Arthur Lira. Neste ano, a Câmara aprovou 105 propostas em 49 sessões.