Câmara aprova manobra para tentar barrar julgamento de Bolsonaro e acusados de golpe no STF
Projeto aprovado por ampla maioria tenta sustar ação penal em curso na Suprema Corte, mas ministros já indicam que medida será desconsiderada

Em uma votação que escancarou a tensão entre os Poderes, a Câmara dos Deputados aprovou, nesta última quarta-feira (7), um projeto de resolução que tenta sustar o andamento da ação penal contra o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ) no Supremo Tribunal Federal (STF), acusado de participação em uma tentativa de golpe de Estado. A proposta, no entanto, vai além e impacta diretamente outros 33 denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR), incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O STF reagiu e já avisou que não aceitará interferência da Câmara.
Com 315 votos a favor e 143 contrários, o texto foi aprovado com apoio majoritário de parlamentares do Centrão e da oposição. O projeto foi apresentado pelo PL, partido de Bolsonaro, e ganhou força com o argumento de que, ao denunciar Ramagem, o Ministério Público teria automaticamente estendido a prerrogativa parlamentar a todos os demais envolvidos no processo.
“Quem fez uma denúncia colocando todo mundo no mesmo vagão? Ou seja, quem escolheu Ramagem e os outros na mesma denúncia? O Ministério Público. O Ministério Público tinha a oportunidade de, sabendo que ele era deputado, ter o cuidado de fazer uma denúncia em apartado”, disse o relator da proposta, deputado Alfredo Gaspar (União-AL).
STF reage e avisa que não aceitará interferência da Câmara
Mesmo antes da votação, o STF já havia sinalizado que a medida da Câmara não seria acatada. A Corte afirma que parlamentares não têm prerrogativa para interferir em ações penais que envolvem acusados sem foro privilegiado, como é o caso de Bolsonaro e da maioria dos demais réus. A decisão final, portanto, continuará sob responsabilidade do Supremo.
“Aprovar isso aqui é levar a Câmara para a irrelevância institucional. Os senhores acham que alguém aqui está dando peitada no Supremo? Isso aqui vai ser totalmente desconsiderado, porque não respeita nenhum fundamento constitucional”, declarou o líder do PT na Câmara, deputado Lindbergh Farias (RJ)
O processo citado é a Petição nº 12.100, referente à denúncia da PGR que aponta os 34 acusados por crimes como golpe de Estado, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, organização criminosa, dano qualificado e deterioração de patrimônio público tombado. As penas combinadas podem chegar a 43 anos de prisão.
“Fica sustado o andamento da Ação Penal contida na Petição n. 12.100, em curso no Supremo Tribunal Federal, em relação a todos os crimes imputados”, afirma o parágrafo único do projeto de resolução.
PL e aliados defendem suspensão como direito constitucional
A base legal usada pelos defensores do projeto é um dispositivo da Constituição que autoriza a Câmara a suspender processos contra parlamentares. Para o deputado Lafayette de Andrada (Republicanos-MG), isso justifica a sustação completa do processo.
“Em nome da imunidade parlamentar, a ação deve ser sustada. É sim ou não, e está acabado”, argumentou.
O líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), também celebrou a aprovação do texto, destacando o impacto imediato sobre Bolsonaro, afirmando que foi a melhor notícia do dia para a defesa do presidente Bolsonaro.
Ramagem, Bolsonaro e a trama golpista, segundo as investigações
A denúncia da PGR, aceita pelo STF, afirma que Ramagem usou sua posição como diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para auxiliar Bolsonaro na construção da trama golpista. O objetivo, segundo o Ministério Público, era desacreditar o sistema eleitoral e minar a confiança nas instituições democráticas, culminando nos ataques de 8 de janeiro.
De acordo com a Polícia Federal, Ramagem se tornou um dos principais conselheiros do ex-presidente e articulava estratégias para confrontar os ministros do Supremo. Mensagens trocadas entre os dois, segundo as investigações, indicariam que o deputado incentivava Bolsonaro a adotar um tom mais agressivo contra a Corte. A defesa do parlamentar, no entanto, nega envolvimento em qualquer ato golpista e classifica os indícios como “tímidos”.
O PL argumenta que os crimes atribuídos a Ramagem ocorreram após sua diplomação em dezembro de 2022 e, por isso, estariam protegidos pela prerrogativa parlamentar. “Porquanto o crime de organização criminosa armada, que possui natureza permanente, teria se estendido até janeiro de 2023, e os demais crimes imputados teriam ocorrido no dia 8 de janeiro de 2023”, justifica o texto encaminhado à Câmara.
Supremo deve manter processo, apesar de manobra da Câmara
O ministro Cristiano Zanin, presidente da Primeira Turma do STF, já enviou ofício à Câmara para informar que a Corte não considera legítima a tentativa de sustar o processo em sua totalidade. A expectativa é de que o STF continue com o julgamento dos réus, independentemente da decisão legislativa.
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