Em meio às crescentes incertezas no cenário internacional provocadas pelas medidas econômicas adotadas pelos Estados Unidos, o presidente das Frentes Parlamentares Brasil-China e dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), deputado federal Fausto Pinato (PP-SP), voltou a defender um maior protagonismo do Brasil dentro do grupo formado por economias emergentes. A declaração foi feita, nesta última quinta-feira (24), após reunião entre representantes de movimentos sociais e os chamados “sherpas”, diplomatas responsáveis pela articulação do bloco, realizada no Rio de Janeiro.

Pinato classificou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, como um “fanfarrão” e afirmou que ele já estaria enfrentando constrangimento internacional por conta dos anúncios de aumento tarifário, e, nesse contexto, os Brics se consolidam como uma alternativa para a reorganização das relações internacionais, especialmente em temas econômicos. Para ele, o bloco deve ser tratado como uma plataforma central da política externa brasileira, não apenas como uma opção secundária.

Defesa em atuação mais pragmática nas relações internacionais

Durante o encontro, o deputado demonstrou preocupação com os impactos das medidas protecionistas dos Estados Unidos, especialmente após o anúncio de novas tarifas comerciais, e sugeriu que o governo brasileiro deve responder com pragmatismo. Segundo ele, é preciso deixar de lado antigas disputas ideológicas que já não correspondem ao atual momento geopolítico e buscar parcerias que representem benefícios concretos para o país.

Nesse sentido, Pinato elogiou a conduta adotada pelo Itamaraty na reunião e destacou que o Brasil precisa reforçar sua presença diplomática em fóruns multilaterais como os Brics. Para o parlamentar, os ministros brasileiros devem estar mais atuantes nas articulações internacionais, ocupando espaço e defendendo os interesses nacionais de forma firme e estratégica.

Banco dos Brics e desenvolvimento econômico

Um dos pontos destacados por Fausto Pinato foi a necessidade de maior protagonismo do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), conhecido como Banco dos Brics, presidido atualmente pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Para o deputado federal, a instituição deve deixar de ser excessivamente burocrática e se tornar um verdadeiro instrumento de desenvolvimento para os países do bloco. Ele defendeu que o banco atue com mais agilidade na concessão de financiamentos e garantias, contribuindo para impulsionar projetos de reindustrialização e desenvolvimento tecnológico em um cenário global de incertezas.

O parlamentar também destacou que, diante do atual cenário internacional, é essencial que o Brasil concentre seus esforços na retomada do desenvolvimento econômico, com ênfase em tecnologia, reindustrialização e pragmatismo. Segundo ele, embora a participação de movimentos sociais nas discussões dos Brics seja válida, o foco principal da atuação brasileira no bloco deve estar voltado para resultados concretos nas áreas produtiva e comercial.

Representantes da sociedade civil apresentam recomendações aos Brics

A reunião no Rio de Janeiro contou com a participação de representantes de movimentos sociais e organizações da sociedade civil, que entregaram aos diplomatas dos países-membros o documento Brics People to People. O texto foi recebido pelo embaixador Mauricio Lyrio, que representa o Brasil no bloco, e pelos demais sherpas presentes.

O documento reuniu recomendações em áreas como governança global, educação, saúde e tecnologia digital, buscando aproximar a agenda dos Brics das demandas populares e do desenvolvimento humano. A presença desses setores foi vista como um sinal de abertura do bloco para vozes não estatais, ainda que a prioridade dos governos continue sendo o eixo econômico.

Discussões incluem nova moeda e expansão do bloco

Além das recomendações formais, os representantes da sociedade civil também levantaram propostas estratégicas, como a criação de uma moeda alternativa ao dólar nas transações comerciais e financeiras internacionais, com o objetivo de reduzir a dependência em relação à moeda norte-americana. Essa proposta se alinha ao interesse de países do bloco em fortalecer sua autonomia econômica.

Outros pontos discutidos foram a ampliação do número de países-membros dos Brics e a criação de mecanismos de apoio a nações em situação de guerra ou crise humanitária. Segundo João Pedro Stedile, dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), também foi enfatizada a importância de transformar o Banco dos Brics em um verdadeiro banco de desenvolvimento do Sul Global — conceito que abrange os países em desenvolvimento como uma categoria geopolítica.

“Comentamos com eles da importância de fato de os governos botarem mais prioridade no banco dos Brics, que está lá presidido pela nossa presidente [sic] Dilma (Rousseff)”, disse o dirigente.