O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) fez uma provocação ao ministro Alexandre de Moraes, relator da investigação sobre a tentativa de golpe de Estado, durante depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) na tarde desta terça-feira (10).

“Poderia fazer uma brincadeira?“, perguntou Bolsonaro. Moraes, sorrindo, respondeu: “O senhor quem sabe. Eu perguntaria os seus advogados“. Em seguida, o ex-presidente afirmou: “Gostaria de convidá-lo para ser meu vice em 2026“. Moraes respondeu prontamente: “Eu declino novamente“.

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Bolsonaro está inelegível até 2030

O depoimento, iniciado às 14h33, foi marcado por gestos simbólicos do ex-mandatário. Bolsonaro levou consigo um exemplar da Constituição Federal, que levantou durante sua fala ao afirmar que jamais atentou contra a democracia. A audiência ocorreu no inquérito que investiga articulações para impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2023.

Durante a oitiva, Bolsonaro reiterou que não foi o único a levantar questionamentos sobre a segurança das urnas eletrônicas. Segundo ele, seus posicionamentos sobre o sistema eletrônico de votação são antigos. “Uso essa retórica desde 2012”, afirmou. O ex-presidente tem um histórico de declarações que colocam em dúvida a lisura do processo eleitoral brasileiro.

Ao longo de seu mandato, Bolsonaro acumulou episódios de tensão institucional, nos quais ameaçou não acatar decisões do STF, além de fomentar desconfiança pública contra o Tribunal Superior Eleitoral. Suas falas, segundo investigadores, alimentaram um ambiente de descrédito em relação à legalidade das eleições.

O ex-presidente responde como réu por suposta participação em uma articulação para reverter o resultado das eleições presidenciais de 2022. A investigação conduzida pelo STF analisa a tentativa de impedir a posse do presidente eleito e os ataques de 8 de janeiro de 2023 às sedes dos Três Poderes, em Brasília.

Bolsonaro pede desculpas a Moraes

Durante o interrogatório, o ex-presidente voltou atrás em declarações anteriores nas quais sugeria que ministros do STF estariam envolvidos em irregularidades financeiras durante o processo eleitoral.

“Quais eram os indícios que o senhor tinha que nós estaríamos levando U$S 50 milhões, U$S 30 milhões?“, questionou Moraes.

“Não tem indícios nenhum, senhor ministro. Tanto é que era uma reunião para não ser gravada. Um desabafo, uma retórica que eu usei. Se fosse outros três ocupando teria falado a mesma coisa. Então, me desculpe, não tinha qualquer intenção de acusar de qualquer desvio de conduta os senhores três“, respondeu Bolsonaro.

Na ocasião, o ex-presidente havia mencionado supostos valores que estariam sendo recebidos pelos ministros. O ministro insistiu no ponto ao exigir que o ex-chefe do Executivo detalhasse os fundamentos da denúncia, o que resultou no pedido de desculpas público.

Ao chegar ao plenário da Primeira Turma do STF, onde ocorrem as oitivas, Bolsonaro indicou que pretendia fazer um longo depoimento. “Se puder ficar à vontade, posso falar por horas“, declarou o ex-presidente.

Ao ser questionado sobre a decisão de Moraes, que vetou a exibição de vídeos por parte do ex-presidente, Bolsonaro se limitou a comentar, ao chegar ao local: “Não achei nada“. A negativa foi comunicada cerca de uma hora antes do início oficial do interrogatório.

Na segunda-feira (9), também prestaram depoimento o ex-ajudante de ordens da Presidência, Mauro Cid, e o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Ambos são investigados por suposta participação em atos que buscavam contestar ou anular o resultado das eleições presidenciais de 2022.

Na manhã desta terça-feira (10), foram ouvidos o almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha; o general Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI); e o ex-ministro da Justiça, Anderson Torres. Todos negaram envolvimento em ações contra a ordem democrática.