Alan Sanches critica silêncio de Jerônimo sobre trabalho análogo à escravidão em obras da BYD: ‘Se esconde’
Deputado frisou a discrepância entre os objetivos divulgados e os fatos constatados pela fiscalização

O deputado estadual Alan Sanches (União Brasil), líder da oposição na Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA), cobrou um posicionamento do governador Jerônimo Rodrigues (PT) sobre o resgate de 163 trabalhadores chineses em condições análogas à escravidão em Camaçari. A ação foi realizada por uma força-tarefa liderada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) na última segunda-feira (23), que também resultou na interdição das obras da montadora BYD.
“O governador, que tanto cobra um posicionamento das pessoas, agora não deve se esconder. Governador, você é o líder de um governo, você é o líder da Bahia, precisa se posicionar sobre essas coisas. Não se esconda, governador. Trate isso realmente como deve ser tratado, com a importância que precisa. Mais uma vez, o senhor se esconde dos problemas que a Bahia enfrenta”, declarou Sanches em vídeo divulgado em suas redes sociais.
O deputado afirmou ainda que não viu ‘uma linha’ do governador petista defendendo as pessoas. “O direito trabalhista dessas pessoas, os direitos humanos, nós não vemos nenhum dirigente do Partido dos Trabalhadores em defesa dessas pessoas, em defesa também dos empregos aqui para os baianos”, reforçou.
Promessas e contradições, segundo Alan Sanches
O deputado também mencionou a contradição entre as promessas feitas pela montadora chinesa e a realidade. A chegada da BYD à Bahia foi acompanhada de compromissos de geração de emprego para a população local, mas a presença dos 163 trabalhadores chineses desrespeitando direitos trabalhistas gerou questionamentos.
“Se era para gerar emprego aos baianos, por que traz 160 chineses? E quando você traz esses chineses, você ainda dá um tratamento desumano. É dessa forma realmente que o governo acha que deve tratar as pessoas?”, indagou Sanches, destacando a discrepância entre os objetivos divulgados e os fatos constatados pela fiscalização.
Empresa chinesa teve contrato rescindido
A BYD anunciou na noite de segunda-feira (23) a rescisão do contrato com a Jinjiang Construction Brazil Ltda, uma empresa chinesa contratada para trabalhar nas obras da fábrica de Camaçari (BA). A fábrica foi adquirida pela fabricante de veículos em parceria com o Governo da Bahia, após a desocupação pela Ford no ano passado.
A decisão da BYD ocorreu após a operação conjunta de diversos órgãos, incluindo o Ministério Público do Trabalho (MPT), o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), a Defensoria Pública da União (DPU), a Polícia Rodoviária Federal (PRF), o Ministério Público Federal (MPF) e a Polícia Federal (PF). A força-tarefa resgatou 163 funcionários da Jinjiang que estavam trabalhando em condições semelhantes à escravidão nas obras.
Interdição das obras e rescisões de contratos
A operação resultou na interdição dos trechos da obra sob responsabilidade da Jinjiang, além da rescisão imediata dos contratos de trabalho dos funcionários, que não estavam em conformidade com a legislação brasileira. A denúncia do MPT, que motivou a ação, indicou que os trabalhadores enfrentavam jornadas excessivas e sem descanso, com alguns sendo forçados a trabalhar por até 25 dias consecutivos sem pausa.
Além da carga horária irregular, o MPT também relatou condições degradantes de alojamento e alimentação, além de maus-tratos e agressões. A empresa retinha parte dos salários dos trabalhadores, enviando o dinheiro diretamente à China, deixando apenas uma pequena quantia para as despesas pessoais dos funcionários.
Restrições e intimidação aos trabalhadores
O MPT ainda revelou que os funcionários estavam sujeitos a restrições severas de movimento. Eles só podiam sair para comprar alimentos e não podiam interagir com brasileiros. Caso optassem por romper o contrato antes do término, os trabalhadores corriam o risco de serem enviados de volta à China sem receber os valores devidos, pois a empresa descontava os custos de passagem e manutenção no momento da rescisão.
Diante das condições encontradas, o MPT notificou a BYD, considerando-a corresponsável pelas irregularidades. Uma audiência foi agendada para quinta-feira (26) com a presença das empresas, para que apresentem soluções para melhorar as condições de alojamento e regularizem as questões identificadas durante a operação.
Fiscalização contínua e ações futuras da BYD
A força-tarefa indicou que continuará monitorando a situação e não descarta a realização de novas inspeções no local. A análise dos documentos solicitados também seguirá em andamento, com o objetivo de garantir que as irregularidades sejam corrigidas.
A BYD, em um primeiro momento, havia apenas afastado os gestores acusados de abusos, mas a decisão de rescindir o contrato com a Jinjiang foi comunicada oficialmente após a conclusão da investigação. A Jinjiang é uma parceira global da BYD em diversos projetos de construção, tanto dentro quanto fora da China, e foi contratada pela própria fabricante para atuar no Brasil.
Jerônimo se pronunciou sobre denúncia
No início de dezembro, o governador Jerônimo Rodrigues (PT) afirmou que confia na BYD após o Ministério Público do Trabalho (MPT) da Bahia abrir inquérito para investigar as condições de saúde e segurança dos funcionários da planta da empresa, em Camaçari.
O petista disse que já conversou com representantes da companhia, que informaram que estão sendo tomadas atitudes sobre a denúncia. “Eu confio na BYD, conversamos ontem, estão sendo tomadas atitudes sobre o que foi denunciado. Eu só espero que a gente não possa ver o que eu senti na época da política eleitoral”, declarou Jerônimo.
Ele prometeu garantir a defesa do direito trabalhista e frisou que ele e o presidente Lula são oriundos de uma classe operária rural e de famílias pobres. “Sabemos muito bem o que significam boas condições de trabalho. Eu acho que o grandioso aqui é a BYD reafirmar, como fez com a gente, que está tratando, que vai fazer auditoria, que ela vai falar sobre isso, mas a expectativa minha, enquanto governador, é que eu confio, estarei ao lado para a gente fazer isso, para a gente poder resolver todas as pendências ou qualquer tipo de denúncia que possa chegar até a gente”, disse.
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