A Câmara Municipal de Salvador (CMS) vai prestar uma homenagem à Mãe Stella de Oxóssi, que completaria 100 anos no último dia 2 de maio se estivesse viva. Uma sessão especial acontecerá, nesta quinta-feira (15), às 18 horas, fora das dependências da Casa Legislativa, no Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, localizado em São Gonçalo do Retiro, no bairro Cabula. O evento também busca valorizar as tradições de matriz africana.

A iniciativa é da vereadora Marta Rodrigues (PT), presidente da Comissão de Reparação da CMS, e tem como proposta estreitar os laços entre o poder público e os terreiros, espaços historicamente marginalizados. Segundo a petista, “a sessão representa um momento de reparação e de reconhecimento da trajetória de Mãe Stella como liderança religiosa, intelectual e militante do povo preto”.

Poder público no terreiro

A presença da Câmara Municipal dentro de um espaço sagrado como o terreiro de candomblé representa um rompimento com práticas de exclusão histórica. Para a ajoiê Ana Santo Amaro, filha do Ilê Axé Opô Afonjá, o gesto é carregado de significado.

“É de grande satisfação para mim ver esse momento de levar o Legislativo até o terreiro e prestar essa homenagem à nossa ialorixá”, disse.

Ela destaca ainda que a iniciativa reforça a legitimidade das casas de culto de matriz africana enquanto espaços de resistência e conhecimento. “O terreiro de candomblé, ao longo do tempo, sofreu discriminação e resistência, e agora recebe o poder público em um momento de valorização e reconhecimento. A vereadora Marta Rodrigues tem uma importância fundamental nisso, rompendo barreiras e trazendo essa iniciativa para os cantos de Salvador”.

Ana afirmou que, caso estivesse fisicamente presente, mãe Stella veria com entusiasmo o encontro entre o Legislativo e o terreiro. Segundo ela, a ialorixá sempre foi uma mulher voltada para o diálogo, o discurso e as parcerias, e essa aproximação com o Legislativo simboliza a abertura das instituições civilizatórias. Ela também ressaltou a importância da articulação da vereadora Marta Rodrigues, apontando que sua atuação é fundamental tanto para o povo de santo quanto para os legislativos, ao romper barreiras e levar essa iniciativa a diversos espaços da cidade.

Símbolo da resistência cultural e religiosa

Mãe Stella, falecida em 2018, foi uma das principais ialorixás do país e líder espiritual do Ilê Axé Opô Afonjá. Sua trajetória foi marcada pelo protagonismo no combate ao racismo religioso e na valorização da cultura afro-brasileira. Além de sua atuação no candomblé, destacou-se como escritora, tendo publicado nove livros que contribuíram para registrar a tradição oral da religião, entre eles Meu tempo é agora e Òsósi – O Caçador de Alegrias.

Ela também foi a primeira mãe de santo a integrar a Academia de Letras da Bahia, onde teve sua produção literária reconhecida como uma ponte entre o saber ancestral e a intelectualidade contemporânea. Sua atuação ultrapassou os muros do terreiro, alcançando espaços acadêmicos, políticos e sociais com a autoridade de quem viveu para a preservação da ancestralidade.

A vereadora Marta Rodrigues enfatiza que a sessão especial é também um ato político. “Esse evento é uma forma de reconhecer e valorizar a trajetória de Mãe Stella, uma mulher que dedicou sua vida à preservação da cultura de matriz africana, à luta contra o racismo religioso e à defesa do povo preto”.

“A sessão no Terreiro de Opô Afonjá é um ato de reparação histórica, e é um momento importante para a Câmara Municipal reconhecer o legado dessa grande mulher”, pontuou Marta Rodrigues.