O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PY) se reuniu, nesta sexta-feira (9), com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, durante viagem oficial a Moscou. Acompanhado de ministros, ele participou das celebrações pelos 80 anos do Dia da Vitória, que marca a rendição da Alemanha nazista em 1945, além de uma reunião de trabalho no Kremlin para reforçar a parceria estratégica entre os dois países.

O encontro ocorre em um momento geopolítico delicado, 3 anos após o início da guerra entre Rússia e Ucrânia. Lula, um dos poucos líderes ocidentais presentes na cerimônia, defendeu o fortalecimento das relações bilaterais em diversas áreas, incluindo defesa, ciência, tecnologia, educação e energia. Ele também aproveitou a ocasião para criticar duramente a nova política tarifária do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

“As últimas decisões anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos de taxação de comércio com todos os países do mundo, de forma unilateral, joga por terra a grande ideia do livre comércio, joga por terra a grande ideia do fortalecimento do multilateralismo e joga por terra muitas vezes o respeito à soberania dos países que nós temos que ter”, afirmou Lula durante a reunião.

Expansão comercial e desafios

Atualmente, o Brasil importa principalmente fertilizantes e diesel da Rússia, itens essenciais para o agronegócio, enquanto exporta carne bovina e café. Lula ressaltou o desejo de reequilibrar essa balança comercial, que registrou um fluxo de cerca de US$ 12,5 bilhões em 2024, mas com um déficit expressivo para o Brasil. “Essa minha visita aqui é para estreitar e refazer, com muito mais força, a nossa construção de parceria estratégica”, declarou o presidente.

“O Brasil tem interesses políticos, interesses comerciais, interesses culturais, interesses científico-tecnológicos com a Rússia. Por seu lado, a Rússia deve ter muitos interesses com o Brasil”.

Ambos os países integram o Brics, bloco de economias emergentes que ganhou novos membros nos últimos anos, incluindo Arábia Saudita, Egito e Irã. A cúpula do Brics está prevista para julho no Rio de Janeiro, mas a presença de Putin é incerta devido ao mandado de prisão internacional expedido pelo Tribunal Penal Internacional.

Tensões diplomáticas

A visita de Lula gerou críticas de opositores políticos e irritou autoridades ucranianas. Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, já havia criticado Lula por sua postura considerada pró-Rússia, e descartou, em ocasiões anteriores, a participação do Brasil nas negociações de paz. Lula, no entanto, mantém sua proposta de mediar um cessar-fogo abrangente entre as partes em conflito, em conjunto com a China.

O Itamaraty defendeu a viagem em meio às críticas, destacando que o Brasil busca manter diálogo aberto com grandes potências e fortalecer organismos multilaterais como a ONU e o G20. “Presidente Lula intensifica relação com o país [Rússia], se coloca à disposição para ajudar num acordo de paz e amplia parcerias em ciência, tecnologia e inovação”, publicou o Ministério das Relações Exteriores.

Desfile militar e agenda

Lula, ao lado da primeira-dama Rosângela da Silva, Janja, assistiu ao desfile militar na Praça Vermelha, que contou com exibições de tanques, aviões de caça e tropas de diversos países aliados da Rússia. O evento, usado por Putin para reforçar o nacionalismo russo, teve participação de cerca de 30 líderes globais, incluindo o presidente da China, Xi Jinping, e chefes de governo de países como Venezuela, Cuba e Belarus.

Após as cerimônias, Lula participou de um almoço no Kremlin e se reuniu reservadamente com Putin. Ele também manteve um encontro com o primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, antes de seguir para Pequim, onde continuará sua agenda internacional.

A ex-presidente Dilma Rousseff, atualmente à frente do Banco do Brics (NDB), também esteve presente nas festividades. Seu mandato no banco foi renovado recentemente em acordo com Putin, embora sua substituição estivesse prevista, o que acabou sendo adiado devido a sanções internacionais contra a Rússia.

Missão internacional

A missão internacional de Lula visa consolidar a posição do Brasil como um ator relevante nas negociações diplomáticas globais, ao mesmo tempo que busca ampliar a cooperação econômica e tecnológica com a Rússia. Apesar das críticas do Ocidente, a estratégia do governo brasileiro é fortalecer sua influência junto ao Sul Global e manter canais abertos com todas as grandes potências.

O desfecho da visita, especialmente no que diz respeito às negociações de paz e aos novos acordos comerciais, poderá ter impactos duradouros tanto para a política externa brasileira quanto para a posição geopolítica do país em um cenário global cada vez mais polarizado.

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