Portugal realizou, neste domingo (18), a terceira eleição geral em três anos e, mais uma vez, o resultado não solucionou o impasse político que assola o país. A Aliança Democrática (AD), coalizão de centro-direita liderada pelo primeiro-ministro Luís Montenegro, venceu a disputa, mas não obteve maioria absoluta no Parlamento, o que obriga o país a seguir sob um governo minoritário. As informações são do G1.

AD conquista maioria relativa, mas sem base sólida para governar

O cenário é marcado por fragmentação partidária, insatisfação popular e o crescimento vertiginoso da extrema direita, representada pelo Chega, partido que alcançou entre 20% e 24% dos votos, segundo pesquisas de boca de urna. A legenda, comandada por André Ventura, se consolida como a terceira maior força do país e pode até ultrapassar o Partido Socialista (PS) como principal oposição, de acordo com votos ainda a serem contados no exterior.

A AD obteve entre 29% e 34% dos votos e conquistou 79 das 230 cadeiras da Assembleia da República, de acordo com projeções preliminares. Já o PS, principal legenda de centro-esquerda e até então rival histórico do PSD, ficou com cerca de 55 assentos, seu pior desempenho desde 1987.

Montenegro classificou a vitória como um “voto de confiança” e reafirmou que não fará alianças com o Chega. A decisão de manter a postura de isolamento à direita abre espaço para um governo instável e vulnerável a moções de desconfiança, como a que derrubou seu último mandato em março.

Extremismo ganha terreno e agita debate político

O avanço do Chega preocupa setores democráticos e indica uma guinada conservadora no eleitorado português. Fundado há apenas 6 anos, o partido antiestablishment foi impulsionado pelo discurso duro contra imigração, corrupção e criminalidade, além de ataques aos partidos tradicionais.

“Fizemos o que nenhum outro partido jamais conseguiu em Portugal. Hoje, podemos declarar com segurança, diante de todo o país, que o bipartidarismo em Portugal acabou”, disse o líder André Ventura.

A legenda propõe medidas controversas, como castração química para estupradores reincidentes, fim da política de imigração aberta e penas mais duras para crimes violentos. Com um discurso nacionalista e populista, o Chega atraiu eleitores frustrados com a alternância entre PS e PSD.

Fragmentação e crise institucional à vista

Com um Parlamento dividido, cresce a apreensão sobre a governabilidade em Portugal. A AD poderá buscar acordos pontuais com siglas menores, mas analistas consideram improvável que tais alianças resultem em estabilidade a longo prazo. O país também corre o risco de enfrentar nova crise institucional, caso um novo voto de desconfiança seja articulado pela oposição.

A população portuguesa, por sua vez, manifesta cansaço diante da sequência de eleições e escândalos. A renúncia do ex-primeiro-ministro António Costa, em 2023, após ser alvo de investigação — sem que se comprovassem ilegalidades —, e a recente contestação ao nome de Montenegro, acusado de conflito de interesses envolvendo negócios familiares, abalaram a confiança da sociedade nas instituições políticas.

Sistema eleitoral e diferenças com Brasil

O modelo de governo em Portugal é semipresidencialista, com eleições parlamentares baseadas em listas partidárias. Diferente do Brasil, o voto é para partidos e não em candidatos individuais. O partido ou coalizão que obtém mais cadeiras pode tentar formar governo, mas depende de apoio suficiente na Assembleia para aprovar suas propostas e evitar a dissolução do Parlamento.

Nas últimas eleições, a AD venceu com apenas 28,8% dos votos e perdeu o controle após ser derrotada em uma moção de confiança por 142 a 88. A repetição do cenário agora acende o alerta sobre a viabilidade de governabilidade sem maioria clara.

Futuro político segue incerto

A expectativa é de que os próximos dias sejam marcados por negociações nos bastidores e avaliação da composição final do Parlamento, com os votos do exterior podendo redefinir posições no bloco de oposição. Enquanto isso, o avanço da extrema direita e a fragilidade da base governista colocam Portugal diante de um dos momentos mais delicados de sua democracia recente.