Internado há 18 dias no hospital Gemelli, em Roma, o papa Francisco sofreu dois episódios de insuficiência respiratória aguda nesta segunda-feira (3), segundo informou o Vaticano. O pontífice permaneceu consciente durante todo o tempo e recebeu atendimento imediato.

Segundo a Santa Sé, a complicação foi causada pelo acúmulo de muco endobronquial e broncoespasmo. Diante da situação, os médicos realizaram dois procedimentos de broncoscopia para remover as secreções e estabilizar a respiração do papa.

O Vaticano informou que Francisco, de 88 anos, continua sob ventilação mecânica não invasiva e seu prognóstico segue reservado. “Permaneceu alerta, orientado e cooperativo em todo o momento“, diz o boletim médico.

Estado de saúde

O papa foi internado no dia 14 de fevereiro devido a um quadro de bronquite, que evoluiu para pneumonia bilateral. No boletim divulgado no domingo (2), o Vaticano relatou que seu estado era estável, após uma crise de broncoespasmo na sexta-feira (28).

O broncoespasmo é uma contração involuntária dos músculos que revestem os brônquios, dificultando a passagem do ar. A condição pode ser agravada por infecções respiratórias, como a enfrentada pelo pontífice.

Essa é a quarta hospitalização de Francisco desde 2021 e a mais longa até o momento. O estado de saúde do papa levanta questionamentos sobre sua capacidade de continuar exercendo suas funções, já que o direito canônico não prevê procedimentos específicos para casos de comprometimento da lucidez do pontífice.

Pontífice segue trabalhando do hospital

Mesmo hospitalizado, Francisco tem mantido algumas atividades. No domingo (2), enviou uma mensagem aos fiéis durante a oração do Angelus, agradecendo as orações pela sua recuperação.

Nesta segunda-feira (3), o papa enviou uma mensagem à Assembleia Geral da Pontifícia Academia para a Vida, que discute o tema “Fim do mundo? Crises, responsabilidades e esperanças”. No texto, ele enfatiza a necessidade de reflexão sobre a “policrise” global, abordando desafios como guerras, mudanças climáticas, crises energéticas, pandemias e migrações.

“Se não analisarmos seriamente nossas resistências profundas à mudança, tanto como indivíduos quanto como sociedade, continuaremos a repetir os mesmos erros cometidos diante de crises anteriores“, afirmou Francisco na mensagem.

O papa ressaltou a importância da ciência para a compreensão das transformações globais, destacando que “o conhecimento científico nos apresenta continuamente novas descobertas” e alertando contra soluções baseadas na tecnocracia.

“Não será a tecnocracia que nos salvará. Submeter-se a uma desregulação utilitarista e neoliberal global significa impor a lei do mais forte, e essa é uma lei que desumaniza“, declarou.

Francisco também falou sobre a necessidade de escuta no processo de tomada de decisão. “O tema da escuta é decisivo. Ele é uma das palavras-chave de todo o processo sinodal que iniciamos e que agora está na fase de implementação“, afirmou.

Fortalecimento de organizações internacionais

O pontífice defendeu a relevância das organizações internacionais no enfrentamento das crises globais. Ele lamentou a “crescente irrelevância dos organismos internacionais, minados por atitudes míopes que priorizam interesses particulares e nacionais“.

Apesar das dificuldades, Francisco enfatizou a necessidade de fortalecer essas instituições. “Devemos continuar a trabalhar com determinação para ‘organizações mundiais mais eficazes, dotadas de autoridade para assegurar o bem comum global, a erradicação da fome e da miséria e a defesa inegociável dos direitos humanos fundamentais‘”, citando a encíclica Fratelli tutti.

Finalizando sua mensagem, Francisco confiou os participantes da Assembleia à intercessão de Maria e encorajou-os a continuar seu trabalho. “Caminhemos como povo peregrino, povo da vida e pela vida, confiantes na promessa de ‘um novo céu e uma nova terra‘”, concluiu o papa, enviando sua bênção diretamente do Hospital Gemelli, onde segue internado.