Morre Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai e símbolo da esquerda latino-americana, aos 89 anos
Informação foi confirmada pelo atual presidente uruguaio, Yamandú Orsi

O ex-presidente do Uruguai, José “Pepe” Mujica, morreu, nesta terça-feira (13), aos 89 anos, após lutar contra um câncer de esôfago diagnosticado em abril de 2024. Nos últimos meses, o tumor já havia se espalhado para o fígado, e, segundo o próprio Mujica, seu corpo não suportaria novos tratamentos. A informação foi confirmada pelo atual presidente uruguaio, Yamandú Orsi.
“É com profundo pesar que anunciamos o falecimento do nosso camarada Pepe Mujica. Presidente, ativista, líder. Sentiremos muita falta de você, querido velho“, declarou Orsi em publicação nas redes sociais.
Mujica estava sob cuidados paliativos em sua chácara nos arredores de Montevidéu, onde viveu até os últimos dias ao lado da esposa, a ex-vice-presidente Lucía Topolansky.
Em suas últimas declarações públicas, Mujica se mostrou resignado com a morte. “Estou morrendo. O que peço é que me deixem em paz. Que não me peçam mais entrevistas nem nada. Meu ciclo já terminou. Sinceramente, estou morrendo. E o guerreiro tem direito ao seu descanso”, declarou.
A consciência sobre a finitude da vida já se manifestava nas entrevistas concedidas nos meses anteriores. Ao jornal New York Times, Mujica revelou estar “destruído” pelo tratamento de radioterapia, embora tenha mantido a lucidez e o bom humor. “Só existe uma vida e ela acaba. Você tem que dar sentido a ela. Lute pela felicidade, não apenas pela riqueza”.
O ex-presidente afirmou ainda que a vida é linda, e que ele a amava com todos os seus altos e baixos. “Eu amo a vida. E estou perdendo-a porque é minha hora de ir embora. Que sentido podemos dar à vida? O homem, comparado a outros animais, tem a capacidade de encontrar um propósito. Se você encontrar [um propósito], você terá algo pelo qual viver”.
Além do câncer, Mujica enfrentava uma doença autoimune que comprometia seus rins há mais de duas décadas. Em julho de 2024, Lucía Topolansky relatou que o marido vivia “o momento mais difícil” do tratamento, mas que mantinha o espírito otimista e tranquilo.
Do cárcere à Presidência do Uruguai
Nascido em 20 de maio de 1935, nos arredores de Montevidéu, Mujica teve origem humilde e ingressou na militância política ainda jovem. Atuou como integrante dos Tupamaros, grupo guerrilheiro de esquerda que combatia a ditadura militar uruguaia. Foi preso em diversas ocasiões, passando cerca de 14 anos encarcerado, em condições de tortura e solitária.
Após ser libertado em 1985, com o fim do regime militar, participou da fundação da coalizão de esquerda Frente Ampla (FA). Em 2005, foi eleito senador, e quatro anos depois venceu as eleições presidenciais contra Luis Alberto Lacalle, assumindo o governo em 2010 como o presidente mais velho da história do Uruguai.
Durante sua gestão, promoveu reformas progressistas que incluíram a legalização da maconha, do aborto e do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Rejeitou os privilégios do cargo, recusando-se a morar no palácio presidencial e doando boa parte de seu salário para instituições sociais.
Atuação marcada pela simplicidade
Mujica ficou internacionalmente conhecido pelo estilo de vida austero. Vivia com a esposa e um cachorro de três patas na chácara Rincón del Cerro, na zona rural de Montevidéu, onde cultivava crisântemos e conservas em potes. Transformou a residência oficial da presidência em abrigo para desabrigados.
“Quando estou no campo trabalhando com o trator, às vezes paro para ver como um passarinho constrói seu ninho. Ele nasceu com o programa. Ele já é arquiteto. Ninguém o ensinou”, declarou ao New York Times. “Eu admiro a natureza. Eu quase tenho uma espécie de panteísmo. Você tem que ter olhos para vê-la”.
Mesmo fora do cargo, sua influência permaneceu. Ao comentar a vitória de Yamandú Orsi nas últimas eleições, afirmou que se despedia “tranquilo e agradecido”, mas repudiou especulações sobre participar do novo governo. “Tudo o que quero agora é me despedir”, disse.
Despedida da política e o legado
Mujica deixou o Senado em 2018 alegando estar “cansado da longa viagem“. Pouco tempo depois, retornou à política e foi reeleito, mas em 2020 renunciou definitivamente à vida pública por questões de saúde.
Mesmo em seu afastamento, continuou a se posicionar sobre questões globais. “Espero que a vida humana seja prolongada, mas estou preocupado. Há muitas pessoas loucas com armas atômicas. Muito fanatismo. Deveríamos estar construindo moinhos de vento. No entanto, gastamos em armas. Que animal complicado é o homem. Ele é inteligente e estúpido”, afirmou.
Nos últimos meses, Mujica reiterou que não desejava mais compromissos públicos. “Sábio”, como se referiu a si mesmo com ironia, dizia estar no “final da vida”. Apesar das dores físicas, preservava o tom reflexivo e, por vezes, bem-humorado. “Gostaria de ser lembrado como um velho maluco”.
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