O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cumpre agenda oficial na China, onde consolidou novos acordos de cooperação internacional com foco em inovação, transição energética e investimentos bilaterais. Somente nesta segunda-feira (12), Lula participou de quatro audiências com empresários chineses, que resultaram no anúncio de aproximadamente R$ 27 bilhões em aportes para o Brasil.

Principais acordos no radar entre Brasil e China

Entre os principais compromissos firmados está a instalação de uma planta para produção de Combustível Sustentável de Aviação (SAF) com investimento de US$ 1 bilhão da Envision Group, além da criação de um Centro de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) em energia renovável, em parceria com o Senai Cimatec e a Windey Technology Group.

“O presidente atendeu separadamente várias empresas que vão investir no Brasil, fazer parcerias com instituições brasileiras, montar centros de pesquisa, e gerar desenvolvimento de tecnologia na área de energia”, afirmou o ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT).

Além dele, a comitiva brasileira inclui o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), e os deputados federais Elmar Nascimento (União Brasil) e Daniel Almeida (PCdoB).

Investimentos chineses impulsionam transição energética e tecnologia

A Envision Group anunciou o investimento de US$ 1 bilhão na produção de SAF, combustível feito a partir de fontes renováveis, como a cana-de-açúcar. O projeto é um dos pilares da Lei do Combustível do Futuro e promete reduzir as emissões do setor aéreo brasileiro.

Outra parceria estratégica foi celebrada com a Windey Technology, que criará um centro de P&D para energias renováveis em cooperação com o Senai Cimatec. O foco será em projetos de energia eólica, solar, híbridos e armazenamento.

Empresários de peso como Feng Xingya (GAC), Chen Qi (Windey), Cheng Fubo (Norinco) e Lei Zhang (Envision) participaram das reuniões com Lula, que foram acompanhadas por ministros brasileiros e executivos chineses.

Comércio exterior e agronegócio ganham novo fôlego

A visita ocorre em um momento de intensificação do comércio bilateral. Em 2023, o intercâmbio entre os dois países alcançou US$ 157,5 bilhões. Só no primeiro trimestre de 2025, as trocas somaram US$ 38,8 bilhões, com superávit expressivo para o Brasil.

Em março, 38 frigoríficos brasileiros foram habilitados para exportação de carnes à China — o maior número de autorizações já concedido de uma só vez, ampliando a fatia chinesa nas exportações do agronegócio nacional, que já representava 36,2% em 2024.

Lula reforça laços políticos e critica protecionismo dos EUA

O presidente Lula destacou, em discurso no Seminário Empresarial Brasil-China, que a parceria entre os países é “indestrutível”.

“Se depender do meu governo e da minha disposição, Brasil e China serão parceiros incontornáveis e nossa relação será indestrutível. Porque a China precisa do Brasil, e o Brasil precisa da China”.

O líder brasileiro fez críticas indiretas aos Estados Unidos, destacando os danos do protecionismo comercial e exaltando a importância da cooperação multilateral.

“Não existe saída para um país sozinho. Nós precisamos trabalhar juntos… o protecionismo no comércio pode levar à guerra”.

Delivery, fast-food, semicondutores e veículos elétricos estão no centro das apostas

Durante o seminário, empresas como Meituan, Mixue, Longsys, GAC Motor e Didi anunciaram entrada ou expansão no Brasil:

• Meituan (Keeta): R$ 5,6 bilhões em cinco anos, com previsão de 100 mil empregos indiretos e instalação de central no Nordeste.
• Mixue: R$ 3,2 bilhões até 2030, com expectativa de 25 mil empregos.
• Longsys/Zilia: R$ 650 milhões para expansão de fábricas em SP e Manaus, focadas em semicondutores.
• GWM e GAC: R$ 7,3 bilhões em veículos elétricos e híbridos, incluindo instalação em Goiás.
• Didi/99: Construção de 10 mil pontos de recarga elétrica e expansão de serviços de entrega.
• CGN: R$ 3 bilhões para hub de energia renovável no Piauí.
• Nortec Química: R$ 350 milhões em parceria com empresas chinesas.

Cooperação estratégica à frente da COP30

A viagem de Lula também antecipa articulações para a COP30, que será realizada em Belém. O alinhamento entre Brasil e China nos fóruns multilaterais como BRICS, G20 e OMC reforça a postura dos dois países como defensores do Sul Global.

“A construção dessa aliança econômica entre China e Brasil, dessa troca de parcerias entre empresas brasileiras e chinesas não tem retorno”, disse Lula, encerrando o evento ao lado do presidente da Apex Brasil, Jorge Viana.