O prefeito de Varsóvia, Rafal Trzaskowski, candidato liberal e pró-União Europeia, venceu o primeiro turno das eleições presidenciais da Polônia com uma pequena margem sobre o ultraconservador nacionalista Karol Nawrocki. Os dados oficiais, divulgados nesta segunda-feira (19), indicam um cenário de polarização que será definido no segundo turno, marcado para 1º de junho.

Trzaskowski, representante da Coalizão Cívica (PO), obteve 31,36% dos votos, enquanto Nawrocki, apoiado pelo partido conservador Lei e Justiça (PiS), ficou com 29,54%. Outros dois candidatos de extrema direita somaram juntos 21,15%, e seu eventual apoio no segundo turno pode ser determinante para o desfecho da eleição. A participação no primeiro turno foi de 67%, refletindo o alto grau de mobilização da sociedade polonesa diante de uma disputa que pode alterar profundamente o cenário político nacional e o posicionamento internacional do país. As informações são do G1.

Disputa ideológica define segundo turno

A corrida eleitoral na Polônia é marcada por uma forte disputa ideológica. Trzaskowski representa o campo liberal, com uma agenda voltada para a integração europeia e fortalecimento das relações com a Alemanha e a França. Por outro lado, Nawrocki se posiciona como defensor de uma Polônia mais alinhada aos Estados Unidos, especialmente à ala republicana representada por Donald Trump.

O embate reflete a divisão interna da sociedade polonesa quanto ao papel que o país deve desempenhar na União Europeia e à condução de sua política externa. Além disso, o cargo de presidente na Polônia, embora simbólico em muitos aspectos, possui poderes estratégicos, como o comando das Forças Armadas, influência na política internacional e a prerrogativa de vetar leis aprovadas pelo Parlamento.

Repercussão para governo Tusk

A eleição presidencial funciona, na prática, como um plebiscito sobre a gestão do primeiro-ministro Donald Tusk, ex-presidente do Conselho Europeu e atual líder do governo polonês. Desde que retornou ao cargo em dezembro de 2023, após a derrota do PiS nas legislativas, Tusk enfrenta dificuldades para avançar com sua agenda reformista devido ao veto do presidente Andrzej Duda, também vinculado ao PiS, que ocupa a presidência há dez anos.

Se Trzaskowski vencer, analistas acreditam que Tusk poderá governar com maior estabilidade e implementar suas propostas. Já uma vitória de Nawrocki poderia desencadear nova crise institucional, com possibilidade até de convocação de novas eleições parlamentares, conforme apontam especialistas.

Alianças internacionais em jogo

O resultado do pleito também terá impacto direto sobre as alianças internacionais da Polônia. Um presidente alinhado ao governo Tusk poderá aprofundar a integração com os principais países da União Europeia e enfraquecer o chamado Grupo de Visegrado, bloco regional formado por Hungria, Polônia, República Tcheca e Eslováquia, que tem se posicionado de forma crítica em relação à UE.

Em contrapartida, caso Nawrocki seja eleito, a tendência é de reaproximação com os Estados Unidos sob a influência de Donald Trump. O historiador, que se reuniu com o presidente americano duas semanas antes da votação, tem como marca de campanha um discurso nacionalista e eurocético, o que gera apreensão entre os aliados europeus.

Perspectivas para segundo turno

A principal incógnita para o segundo turno está relacionada ao destino dos votos dos eleitores da extrema direita, que somaram mais de 20% no primeiro turno. O apoio desse eleitorado a Nawrocki pode ser decisivo. Ao mesmo tempo, Trzaskowski aposta na mobilização dos setores moderados e pró-europeus da sociedade polonesa para garantir a vitória.

A decisão entre um projeto de continuidade da agenda liberal europeísta e outro de retorno a políticas mais conservadoras e nacionalistas coloca a Polônia diante de uma encruzilhada política com reflexos para além de suas fronteiras. A expectativa é que o segundo turno mantenha a alta participação dos eleitores e reflita o grau de polarização que tem marcado a política polonesa nos últimos anos.