O governo chinês considerou como um “passo importante” o início das negociações comerciais com os Estados Unidos neste fim de semana na Suíça. As conversas, que marcam o primeiro encontro presencial entre os dois países desde o agravamento da guerra tarifária iniciada na gestão de Donald Trump, acontecem em uma propriedade oficial do representante permanente da Suíça nas Nações Unidas em Genebra.

Representando a China está o vice-primeiro-ministro He Lifeng. Pelo lado norte-americano participam o secretário do Tesouro, Scott Bessent, e o representante comercial dos Estados Unidos, Jamieson Greer. Em nota publicada pela agência estatal Xinhua, o governo de Pequim descreveu o diálogo como um “passo importante para promover a resolução do problema”, embora detalhes sobre avanços específicos não tenham sido divulgados.

Redução parcial das tarifas ainda é simbólica

Donald Trump afirmou, na sexta-feira (9), que considera reduzir as tarifas sobre produtos chineses de 100% para 80%. A medida seria uma tentativa de apaziguar os ânimos após meses de tensão. Segundo o secretário de Comércio americano, Howard Lutnick, o presidente “gostaria de neutralizar a situação com a China”.

Apesar da sinalização, analistas consideram a redução insuficiente. As tarifas originalmente anunciadas por Trump em seu novo mandato chegaram a 145 por cento, ampliando as barreiras às exportações chinesas. Pequim retaliou com tarifas de até 125 por cento sobre os produtos americanos.

O comércio entre os dois países estagnou e o impacto foi sentido nos mercados globais. A diretora-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Ngozi Okonjo-Iweala, afirmou que a iniciativa é um “passo positivo e construtivo para a redução da escalada”. Em abril, ela alertou para as consequências de uma possível dissociação entre as economias chinesa e norte-americana, mesmo que ambas representem apenas 3 por cento do comércio mundial de mercadorias.

China apresenta crescimento inesperado nas exportações

Durante as conversas em Genebra, o governo chinês levou um dado considerado animador. Em abril, as exportações do país cresceram 8,1 por cento, número quatro vezes maior do que o esperado pelos analistas. No entanto, as vendas para os Estados Unidos recuaram quase 18 por cento.

Apesar dos números, a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, destacou que o governo Trump não pretende reduzir unilateralmente as tarifas impostas à China e reiterou a necessidade de concessões por parte de Pequim.

Especialistas como Bonnie Glaser, diretora do programa Indo-Pacífico no German Marshall Fund, avaliam que um dos desdobramentos possíveis das negociações em Genebra seria a suspensão temporária das tarifas enquanto as discussões bilaterais continuarem. Já Lizzi Lee, do Asia Society Policy Institute, prevê apenas um “gesto simbólico” que poderá aliviar tensões, mas sem resolver os impasses estruturais.

Para o professor Xu Bin, da China Europe International Business School, mesmo que haja redução, os valores seguirão elevados. Segundo ele, as tarifas provavelmente cairão pela metade, mas ainda serão altas demais para restabelecer o fluxo comercial anterior.

Trump prioriza parceria com o Reino Unido

Trump também anunciou, na quinta-feira (8), o primeiro acordo tarifário de seu novo mandato. O Reino Unido foi o país escolhido para inaugurar a nova série de tratados comerciais. Em declarações na rede Truth Social, Trump classificou o pacto como “abrangente e completo” e prometeu que os efeitos positivos se estenderão por muitos anos.

Segundo Trump, o Reino Unido foi escolhido como o primeiro país a firmar esse tipo de acordo por causa da longa aliança entre as duas nações. “Por nossa longa história e aliança, é uma honra que o Reino Unido seja o nosso PRIMEIRO anúncio. Muitos outros acordos, que estão em estágios sérios de negociação, estão por vir!”, escreveu.

O ex-presidente não forneceu detalhes sobre as cláusulas ou termos técnicos do tratado, mas adiantou que o anúncio oficial será feito durante uma coletiva de imprensa marcada para as 11h, no horário de Brasília.