Aos 90 anos, Dalai Lama desafia China e confirma reencarnação fora de seu controle
Líder espiritual budista celebra aniversário com festa na Índia, apoio internacional e declaração que reacende tensão sobre sua sucessão

O 14º Dalai Lama, Tenzin Gyatso, completou 90 anos, neste domingo (6), em meio a homenagens, orações e uma clara sinalização política: sua reencarnação será escolhida fora da China. O líder espiritual do Tibete, laureado com o Prêmio Nobel da Paz em 1989, vive exilado na cidade de Dharamsala, no norte da Índia, desde 1959, quando deixou o Tibete após a ocupação chinesa.
Durante a cerimônia, o Dalai Lama reafirmou seu compromisso com a tradição budista da reencarnação. Segundo ele, sua sucessão será conduzida “de acordo com os costumes ancestrais” e fora do território controlado por Pequim.
“Nascerá no mundo livre”, declarou, provocando fortes reações do governo chinês.
Richard Gere participa de festa
Vestido com suas vestes tradicionais vermelho-bordô e amarelas, Gyatso foi aclamado por milhares de devotos e monges no Complexo Tsuglagkhang, onde as celebrações incluíram danças, cantos e um bolo de nove andares. Um dos momentos mais simbólicos foi a presença do ator norte-americano Richard Gere, seguidor do budismo.
“Sua Santidade pertence ao mundo. E pertence ao universo”, afirmou emocionado o ator hollywoodiano.
China rejeita sucessor legítimo e promete impor seu próprio Dalai Lama
A resposta chinesa não tardou. O governo de Pequim, que considera o Dalai Lama um separatista, reafirmou que apenas autoridades chinesas têm o direito de aprovar o próximo líder espiritual tibetano. A China já anunciou que rejeitará qualquer nome escolhido sem sua autorização — cenário que poderá gerar, futuramente, dois Dalai Lamas: um reconhecido pela comunidade budista no exílio e outro imposto por Pequim.
A disputa por influência religiosa se conecta diretamente à política e à soberania regional. Especialistas alertam que a sucessão do Dalai Lama pode desencadear uma nova fase de tensões geopolíticas envolvendo a China, a Índia e até os Estados Unidos.
Complexo ritual budista para reconhecer nova encarnação
Ao contrário de outras religiões, a liderança do budismo tibetano não é herdada nem decidida por votação. O Dalai Lama é considerado a reencarnação do Bodhisattva da Compaixão, e seu sucessor é encontrado por meio de sinais místicos, sonhos e testes espirituais.
Após a morte do atual Dalai Lama, monges tibetanos entrarão em um período de luto e contemplação. Eles consultarão o lago sagrado Lhamo Latso, em busca de visões sobre o local onde o novo líder teria renascido. Uma equipe de lamas, então, buscará uma criança nascida pouco após a morte do antecessor, observando comportamentos extraordinários e realizando testes simbólicos — como o reconhecimento de objetos pessoais do antigo Dalai Lama.
Foi assim que Tenzin Gyatso foi reconhecido em 1937, aos 2 anos de idade, após identificar itens de seu predecessor e passar por diversos rituais. A tradição será mantida, garantiu o atual líder.
Índia e EUA reforçam apoio e desafiam influência de Pequim
O aniversário de Gyatso foi marcado por declarações de apoio político. O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, afirmou que o Dalai Lama é “um símbolo duradouro de amor, compaixão e disciplina moral”. Já o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, declarou que o líder espiritual “continua a inspirar pessoas ao encarnar uma mensagem de unidade e paz”.
Esse respaldo não é apenas retórico. A Índia abriga mais de 100 mil tibetanos no exílio, incluindo o próprio Dalai Lama. O país vê sua presença como um ativo diplomático estratégico, especialmente diante dos confrontos territoriais no Himalaia com a China.
Em 2020, o Congresso dos Estados Unidos aprovou a Lei de Política e Apoio ao Tibete, que defende o direito do Dalai Lama a escolher seu sucessor e prevê sanções a autoridades chinesas que interfiram no processo.
Precedente do Panchen Lama: símbolo do controle chinês
O temor de manipulação da sucessão do Dalai Lama não é infundado. Em 1995, o líder espiritual reconheceu um menino como reencarnação do Panchen Lama, a segunda figura mais importante do budismo tibetano. Dias depois, o garoto foi sequestrado pelas autoridades chinesas e nunca mais foi visto. Em seu lugar, Pequim nomeou um outro menino, rejeitado por grande parte da comunidade budista.
Essa interferência criou um precedente perigoso. Muitos budistas temem que o mesmo aconteça com a próxima encarnação do Dalai Lama, especialmente após declarações de autoridades chinesas defendendo o uso da “urna dourada” — método imperial do século 18 — para legitimar sua escolha.
Futuro com dois Dalai Lamas?
A possibilidade de haver dois Dalai Lamas — um legítimo e outro imposto — já foi considerada pelo próprio Gyatso.
“No futuro, se for observado o surgimento de dois Dalai Lamas, um daqui, em um país livre, e outro escolhido pela China, ninguém respeitará o segundo”, disse em entrevista de 2019.
Enquanto isso, o atual líder espiritual afirma estar com boa saúde e pretende viver até os 130 anos. Ainda assim, a batalha por sua sucessão — e por sua herança espiritual — já começou. E promete ser uma das mais delicadas e simbólicas disputas entre fé, identidade cultural e poder político no século 21.
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