Em Salvador, o modelo, influenciador digital e empresário Carlos Cruz encontrou na moda uma forma de transformar vidas. Descoberto há nove anos em um ônibus quando seguia para o trabalho, ele construiu carreira internacional como modelo, mas decidiu voltar à capital baiana para investir em um projeto social que já impactou centenas de jovens negros.

Hoje à frente do Periferia do Futuro, Carlos lidera uma rede com mais de 250 modelos de comunidades, considerada a maior do país. A iniciativa vai além das passarelas e se tornou um espaço de acolhimento, formação e geração de oportunidades em áreas como maquiagem, tranças, costura e até tatuagem.

“Eu percebi que não conseguia mudar vidas sendo contador, mas com a arte eu consegui transformar realidades. Hoje temos mais de 250 modelos pretos que, ao invés de serem números da violência, são fatores de inspiração para outros jovens”, disse Carlos Cruz.

Da passarela à transformação social

Formado em contabilidade, Carlos iniciou a carreira na moda quase por acaso. Desfilou para marcas internacionais como Puma, Hugo Boss e Prada, mas escolheu retornar a Salvador para investir na formação de talentos locais. Segundo ele, a capital baiana sempre foi carente de oportunidades no setor e perdia muitos profissionais para o Sudeste.

Foi com essa percepção que ele decidiu criar o projeto. Ainda antes da formalização, Carlos trouxe o fotógrafo italiano Glauber Bassi para registrar 80 modelos de comunidades. O trabalho virou exposição exibida em cidades como Milão, Paris, Istambul, São Paulo e Salvador.

“Quando a gente levou a exposição para fora, mostramos um pouco da nossa cidade e da nossa Bahia para o mundo. Eu percebi que precisava levar essa saga adiante, porque a moda é incrível, mas transformar vidas é ainda maior”, afirmou.

Parceria e fortalecimento da rede

Na gestão do projeto, Carlos divide responsabilidades com Silvado Tavares, idealizador de uma das primeiras iniciativas de moda social em Salvador, o Top Model Fama, hoje transformado em PJT Models.

“Sivaldo acreditou em mim quando ninguém acreditava. Ele mudou a minha vida e me inspirou a criar algo que também transformasse a vida de outras pessoas”, contou. Carlos disse que sempre se emociona ao falar do amigo. “Ele foi um cara que falou de autoestima para mim há nove anos atrás. Eu não acreditava em meu potencial, ele acreditou ao me ver dentro de um ônibus e de fato foi o que mudou minha vida. E eu fiz disso uma dívida, que é transformar vidas através da minha história”, disse Cruz.

Além das passarelas, o Periferia do Futuro oferece oficinas de maquiagem, costura, trancista e, em breve, de tatuagem. Também lançou a marca própria Yame, que significa “aquele que produz” em iorubá, com roupas confeccionadas pelos próprios alunos.

O sonho de expandir

O Periferia do Futuro já articula expansão para outros estados e até para Brasília, onde pode ganhar uma sede. Carlos, que participou de movimentos pela inclusão de modelos negros no São Paulo Fashion Week, vê a iniciativa como continuidade dessa luta.

“O objetivo é salvar jovens da violência e dar esperança de que os sonhos não serão interrompidos. Queremos que a arte chegue antes da bala”, disse.

Inspiração e futuro

Para Carlos, o grande diferencial do projeto é formar jovens que sejam exemplos para suas comunidades. “Não é só sobre ser modelo, é sobre ser exemplo. Periferia do Futuro não veio para abrir portas, veio para arrombar paredes e criar oportunidades reais”, destacou.

Com encontros semanais na Funceb e no Boca de Brasa, em Salvador, o projeto segue crescendo como espaço de resistência, arte e afirmação da identidade negra.

Para as aulas, Carlos acaba arcando com despesas de transporte de muitos alunos com recursos próprios. Ele também acaba sendo a referência quando precisam de medicamentos ou alimentos em casa. “Toda ajuda é bem-vinda, pois manter toda essa operação é caro”, disse ele que também planeja instalar o projeto em uma sede própria.

Para contribuir com o Periferia do Futuro, você pode fazer um PIX:

PIX: 61.980.022/0001-50 – Banco Cora SCFI – Instituto Periferia do Futuro.

Assista a matéria completa aqui: