A uma semana das eleições municipais, especialistas em marketing político ouvidos pelo Portal M! analisaram as estratégias de campanha dos três principais candidatos a prefeito em Salvador: Bruno Reis (União Brasil), Geraldo Júnior (MDB) e Kleber Rosa (PSOL). Em um cenário marcado por promessas de mudança, por um lado, e continuação, por outro, cada candidato adotou táticas distintas para conquistar o eleitorado. Os especialistas exploraram as abordagens e as reações do público.
Na avaliação do especialista e professor de marketing da Wyden, James Pimentel, a estratégia que mais se destacou foi a do prefeito Bruno Reis, pois soube se “conectar com a periferia de Salvador”, inclusive com a utilização de memórias afetivas do seu mandato e de figuras que representam esse público.
“Essa abordagem emocional e uma comunicação mais jovem o ajudaram a ampliar sua base de eleitores, especialmente entre os mais novos. Por outro lado, a estratégia de Geraldo Jr. ficou devendo. Ele tentou se fortalecer ao associar sua imagem à de Lula, mas focou demais em ataques, apontando problemas de gestão sem oferecer soluções concretas. Esse tipo de estratégia, no contexto polarizado atual, se assemelha à usada pela oposição a Lula, o que não foi uma jogada inteligente”, avaliou.
Ainda conforme o especialista, um ponto positivo do candidato à reeleição foi reforçar a imagem de ‘candidato do povo’. “Ele optou por trazer figuras representativas desse público e reforçar os feitos do seu mandato, em vez de prometer grandes mudanças futuras. Isso foi um ponto positivo, pois fortaleceu a confiança daqueles que já o apoiavam”, enfatizou.
O ponto negativo, por sua vez, na avaliação de James Pimentel, foi a falta de discussão “mais profunda sobre propostas futuras”. “Embora a memória de seu mandato tenha peso, desde quando ele era vice, em 2015, uma visão clara do que virá poderia conquistar eleitores que buscam algo novo”, afirmou.
Na mesma linha, o especialista em marketing político, jornalista e professor Yuri Almeida, enfatizou que o candidato à reeleição conseguiu ter a melhor estratégia por ter compreendido o “sentimento da cidade”.
“Nesse aspecto, a campanha de Bruno Reis vai ter um desempenho melhor, porque o sentimento da cidade do Salvador, pelo que apontam as pesquisas, é uma ideia de continuidade do trabalho, da gestão que o prefeito vem realizando. Então, eles souberam apresentar o candidato, mostrar os feitos, os avanços, as melhorias que eles fizeram na cidade e despertar na sociedade, no conjunto de eleitores, a ideia de que ele fez uma boa gestão e, portanto, precisa renovar o mandato para ‘Salvador seguir em frente'”, explicou Yuri Almeida, que é criador do LabCaos, hub especializado em marketing político, monitoramento e ciência de dados.
Conforme o especialista, do ponto de vista da internet, a campanha apresentou o balanço da gestão, sinalizou quais são as propostas e a importância da renovação do mandato. Almeida pontuou ainda que as redes de Bruno já são trabalhadas há algum tempo, sobretudo por ser o atual gestor municipal.
“Bruno Reis faz uma campanha que a gente chama de campanha permanente. Então, acabou o processo eleitoral em 2020, ele continuou ativo nas redes com esse objetivo eleitoral de conquistar mais seguidores, de aumentar a sua base de seguidores, de fãs, e sempre trabalhando na sua imagem pessoal, trabalhando a sua ideia de gestão”, listou.
Por conta deste cenário, Yuri Almeida acredita que o trunfo da campanha do candidato do União Brasil foi a “capacidade de traduzir o sentimento”, apostando em uma linguagem mais “humanizada”.
“Não são conteúdos tão sérios, tão engessados como estamos acostumados ainda a ver em algumas campanhas eleitorais. Eles conseguem dinamizar mais. Bruno Reis se tornou, ao longo do tempo, mais desenvolto, com uma performance melhor de atuação e se você for analisar as redes, elas traduzem esse sentimento”, analisa.
Desafio dos opositores
Yuri Almeida falou ainda sobre as estratégias que mais ficaram ‘devendo’, e destacou o desafio enfrentado pelos principais opositores de Bruno: Geraldo Júnior e Kleber Rosa. Na avaliação do especialista, embora a estratégia emedebista tenha buscado passar a ideia de uma votação alinhada ao governador Jerônimo Rodrigues (PT) e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), não era o sentimento que estava na “cabeça do eleitorado”.
“Então, essa narrativa de voto unificado do time, do trio, no caso Federal, Estadual e Municipal, não era a estratégia que o povo queria ouvir nesse momento. A comunicação acabou apostando nessa narrativa de que o candidato de Lula venceria, que o candidato de Jerônimo, de Rui, enfim, do PT, da base do governo, e poderia sair vitorioso com essas vantagens, mas esse elemento não é suficiente para se vencer a eleição. Precisa construir um candidato competitivo ao longo do tempo. Os partidos que compõem a oposição ao prefeito Bruno Reis não conseguiram fazer uma oposição sistemática, mostrar um outro projeto para a cidade. E aí a cidade, que avalia a gestão do prefeito positivamente, não vai, como se diz no baianês, ‘engolir essa'”, afirmou.
Questionado sobre as estratégias dos dois principais opositores e os embates que acabaram marcando suas campanhas, Yuri Almeida apontou a existência de uma “briga de posicionamento” entre o emedebista e o psolista. “Geraldo querendo mostrar que era o candidato de Lula, de Jerônimo, de Rui, Wagner, e de todo o time do 13, o time do PT, buscando essa fatia do eleitorado, e Kleber Rosa tentando mostrar um outro projeto, outra perspectiva”.
Ele apontou ainda que a candidatura do PSOL, em função de possuir uma menor “densidade eleitoral”, deveria apostar em uma construção “mais antecipada”. Como exemplo disso, ele citou a candidatura de Guilherme Boulos (PSOL) à prefeitura de São Paulo e lembrou que o psolista está na “discussão programática da cidade há muito tempo”.
“Lá, você tem a possibilidade de um candidato do PSOL, de esquerda, ir para o segundo turno. Só que o processo lá em São Paulo é diferente do processo em Salvador. Boulos vem na discussão programática da cidade há muito tempo. Então, às vezes, é o que falta historicamente aqui, pegando as últimas campanhas, da major Denice, que foi a candidata de última hora, da própria deputada Alice Portugal , que não teve uma boa expressão de votação eleitoral, Pelegrino ao longo de várias eleições que perdeu… Acho que a escolha do candidato e a plataforma política precisam ser construídas de uma forma mais antecipada, e não no processo da eleição”, afirmou.
Por sua vez, a avaliação do professor da Wyden, James Pimentel, é de que a tentativa de Geraldo Júnior de associar sua imagem à do presidente Lula foi válida, no entanto, ele apontou que a campanha emedebista “se limitou” a criticar a gestão do prefeito Bruno Reis.
“Sua tentativa de se associar a Lula foi válida, dado o peso político do presidente, especialmente no Nordeste. Contudo, sua campanha se limitou a criticar a gestão atual sem oferecer um plano claro de mudança. Ele adotou uma postura de ataque, o que se mostrou contraditório em relação ao perfil de Lula, que busca união”, relatou.
Já no caso da candidatura psolista, o especialista apontou uma falha na falta de diversificação do discurso, fator que, em sua avaliação, pode ter contribuído na limitação do alcance popular de Kleber Rosa.
“Ele seguiu uma linha mais consistente, afirmando repetidamente ser a única candidatura genuinamente de esquerda. Seu foco em propostas, como geração de empregos para as classes C e D, mostrou coerência, mas ele falhou ao não diversificar seu discurso, o que limitou seu alcance popular. Kleber parece estar construindo uma candidatura de longo prazo, visando se firmar no cenário político de Salvador para futuras disputas, embora agora suas chances de eleição sejam visivelmente menores”, concluiu.
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