A exatamente uma semana do primeiro turno das eleições, o jornal Folha de São Paulo e o portal UOL promoveram o penúltimo debate entre os quatro principais colocados nas pesquisas de intenção de voto para prefeitura da maior cidade da América Latina. Foram convidados Ricardo Nunes (MDB), Guilherme Boulos (PSOL), Pablo Marçal (PRTB) e Tabata Amaral (PSB), que se reuniram na sede do UOL, na Avenida Brigadeiro Faria Lima, Zona Sul da cidade.
O debate, que foi o décimo encontro entre os postulantes, teve regras diferentes daquelas às quais o eleitor e os próprios candidatos estão acostumados. Além do tempo para elaboração de perguntas, cada participante dispunha de um banco de 20 minutos, que poderiam ser usados a qualquer momento. Esta dinâmica afetou diretamente o desempenho dos postulantes – para o bem e para o mal.
O atual prefeito, Ricardo Nunes, foi de longe o mais prejudicado. Ao se alongar em respostas, o candidato à reeleição acabou por gastar seu tempo e, do meio para o fim, se viu com poucos minutos para se dirigir aos adversários. Sem poder se defender em muitas oportunidades, isto colocou Nunes ainda mais na mira dos concorrentes, que concentraram nele e em sua gestão algumas das principais críticas, cobranças e acusações do programa.
Por outro lado, a agilidade do modelo do embate parece ter colaborado para que houvesse uma maior espontaneidade por parte dos candidatos, o que favoreceu o confronto direto, comentários bélicos e alguns deslizes – o maior deles veio de Pablo Marçal. “Mulher não vota em mulher. Mulher é inteligente”, disse o empresário, em uma declaração rapidamente classificada como misógina e que deve afetar, ainda mais, sua imagem perante o eleitorado feminino.
Já Guilherme Boulos surpreendeu quando, pela primeira vez em um debate, negou contundentemente ser usuário de drogas. “Nunca usei cocaína, que fique muito claro. Não sou usuário de drogas. Já usei maconha uma vez na adolescência. Me deu uma dor de cabeça danada”, afirmou o deputado. Ao ser provocado novamente por Marçal, o candidato do PSOL também expôs algo que, segundo ele, o empresário estava guardando para atacá-lo.
“A baixaria não tem limite. Quando ele [Pablo Marçal] cita o Hospital do Servidor, ele está se referindo a um período quando, com 19 anos, eu enfrentei uma depressão crônica e passei alguns dias lá. Nunca falei sobre isso publicamente, porque não cabe. Enfrentei a depressão como muitos jovens enfrentam. Isso pode ser confirmado pelos prontuários do hospital”, revelou Boulos.
Nos bastidores, se especula que este seria o episódio ao qual Marçal já aludiu algumas vezes, afirmando que o usaria na reta final da campanha.
Pablo Marçal controla tempo para atacar Nunes
O ex-coach foi o candidato que melhor administrou seu tempo de fala. De tal maneira que, no último bloco do debate, ainda lhe restavam cerca de cinco minutos. Como era de se esperar, o empresário os utilizou para provocar os demais e, sobretudo, para um objetivo principal: desestabilizar Ricardo Nunes, que se mostrou irritado ao perceber que praticamente não participaria do fim da atração.
De forma um tanto quanto tragicômica – já que, pelas regras, o adversário não poderia responder de forma apropriada –, o empresário pediu para fazer uso da palavra por seguidas vezes para questionar o prefeito sobre um episódio de violência doméstica envolvendo a esposa do candidato à reeleição. Marçal ainda desafiou Nunes a citar trechos da Bíblia, citou um suposto envolvimento do prefeito com a ‘Máfia das Creches’ e questionou o motivo pelo qual Marta Suplicy (PT), atual candidata a vice na chapa de Boulos, é ex-secretária da administração do candidato do MDB, que depende dos votos da direita.
Em quarto lugar nas pesquisas, Tabata é ignorada
O formato do debate na reta final da campanha também reforçou o esvaziamento de Tabata Amaral. Diante de um cenário formado por discussões acaloradas e sobre temas dos quais geralmente não trata, Tabata ficou reduzida a um papel coadjuvante de um incessante bate-boca entre seus três adversários. Algumas falas, inclusive, menosprezaram a presença da candidata do PSB.
Ao ser questionado pela deputada, Boulos desconversou e disse que seus oponentes eram dois bolsonarias – não ela. Já Marçal ironizou: “você está convidada a ser secretária da Educação no meu governo”, debochou o empresário. “Eu jamais aceitaria estar ao lado de uma pessoa que foi condenada. Trabalhar com alguém sujo e desonesto como ele para mim não é uma possibilidade”, rebateu a deputada federal durante entrevista, minutos após o fim do programa.
Debate na TV Globo
A menos de três dias da eleição, a TV Globo promove, nesta quinta-feira (3), aquele que é considerado o debate mais decisivo da campanha até aqui – uma vez que o eleitor tende a tomar uma decisão definitiva apenas de última hora. Previsto para ter início às 22h, o programa será o 11º e último embate entre os candidatos no primeiro turno.
*Matheus Pastori, colaboração de São Paulo para o Portal M!
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