Emissoras de rádio e televisão de São Paulo vivem um dilema pouco comum nestas eleições municipais. A lei eleitoral, que regula a disputa nas urnas, estabelece que apenas os postulantes cujos partidos possuam o mínimo de cinco representantes no Congresso Nacional são obrigatoriamente convidados a participar de debates, ou mesmo de séries de entrevistas. Esta premissa vale para concessões públicas, mas também é convencionalmente utilizada pela iniciativa privada.
Acontece que o PRTB, partido de Pablo Marçal – até então primeiro colocado nas intenções de voto –, não se enquadra nesta regra.
Com uma progressiva toada de desrespeito e agressões a seus adversários e à própria imprensa, já surge, nos bastidores, a dúvida de se não seria mais prudente deixar de convidar Marçal para próximos encontros. Tendo em vista até mesmo que o próprio empresário, em entrevista ao podcast “Flow”, já admitiu que usa aqueles espaços da grande mídia para fazer seus cortes para as redes sociais; se recusando, deliberadamente, a entrar em discussões mais aprofundadas.
Esta ideia ganhou força em alguns setores da imprensa especialmente depois de Marçal ter atacado os jornalistas Josias de Souza (UOL e TV Gazeta) e Malu Gaspar (O Globo); sendo que, neste último episódio, ocorrido na edição desta segunda-feira (2) do programa Roda Viva, da TV Cultura, houve um bate-boca acalorado entre os dois. A jornalista levantou o tom após ser acusada de mentir em uma reportagem sobre o empresário. “Quando o senhor foi preso, eu estava lá, em Brasília, cobrindo o Mensalão. O senhor não vai me ensinar a fazer jornalismo”, disse Malu.
O comportamento de Marçal surpreende até mesmo quem já promove debates há décadas. Sob condição de anonimato, um produtor de televisão relatou à reportagem que a tática do empresário é contrariar o decoro e a solenidade que se espera deste tipo de ocasião. “Ele pega a todos no susto ao não demonstrar o mínimo de respeito e cordialidade que precisamos em um ambiente no qual os ânimos já são, naturalmente, acirrados. Não é regra escrita, mas sim princípios comuns de boa convivência”.
Para Carlos Melo, cientista político e professor do Insper, o que pode continuar a justificar a presença de Pablo Marçal em debates é o desempenho do candidato em pesquisas de intenção de voto. “De fato, o partido não tem representação [no Congresso], logo fica à critério das televisões. O critério tem sido a colocação nas pesquisas e o interesse jornalístico. Politicamente, é um transtorno, porque isso avilta a ideia do debate, que pensado para discutir ideias, programas. Eles não estão cumprindo esse papel”, afirma o professor.
“Eu penso que deveria haver uma nova forma de debate, em que se obrigasse o candidato a discutir programas de governo. Caso contrário, que fosse cortado mesmo”, conclui Melo.
Além da boa colocação de Marçal nas recentes pesquisas, há também um outro importante fator: a reação da audiência. Dados divulgados pela Folha de São Paulo mostram que a sabatina mais vista da série realizada pela GloboNews foi a do candidato do PRTB. A conversa foi a única a chegar na marca de 1 ponto de audiência no Ibope PNT da TV paga, o equivalente a 125 mil telespectadores no Brasil inteiro.
Nos momentos em que o empresário discursava nos debates da Band e TV Gazeta, o Kantar Ibope identificou o pico de audiência desses encontros. Na Band, o debate chegou a 5 pontos na Grande São Paulo, sendo que cada ponto equivale a 191 mil pessoas. Na Gazeta, no último domingo (1º), foram 3 pontos.
A pergunta que se faz é: vale a pena?
Próximo debate
O próximo debate entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo será realizado no dia 15 de setembro, um domingo, às 21h pela TV Cultura. A Jovem Pan havia marcado seu debate para esta quinta-feira (5), mas cancelou o evento, já que os principais candidatos nas pesquisas de intenção de voto não haviam confirmado presença.
*Matheus Pastori, colaboração para o Muita Informação, de São Paulo
Leia também:
PRTB recebe notificação que pode invalidar a candidatura de Marçal