A volta dos Caboclos, realizada na noite de sábado (5), marcou o encerramento das comemorações do 2 de Julho, uma das datas mais emblemáticas do calendário baiano. O retorno ao Pavilhão da Lapinha é hoje reconhecido como o ponto alto da celebração da Independência da Bahia, não apenas pela sua força simbólica, mas pela espontaneidade e protagonismo do povo nas ruas.

Em entrevista ao editor-chefe do Portal M!, Osvaldo Lyra, o presidente da Fundação Gregório de Mattos (FGM), Fernando Guerreiro, classificou a volta como “a verdadeira festa”, destacando o caráter popular, livre e não institucionalizado do momento.

“Essa volta é a verdadeira festa. Que é o povo na rua, tomando conta, fazendo o que ele quiser. Não tem nada armado, não tem nada estruturado, é um festão”, declarou Guerreiro.

Diferença entre saída e volta dos Caboclos

Questionado sobre a diferença entre a saída e a volta dos Caboclos e a volta, o gestor cultural definiu que enquanto a saída no desfile cívico do 2 de julho – que neste ano comemorou os 202 anos da independência do Brasil na Bahia – é marcada por presença de autoridades, discursos políticos e protestos, o retorno transforma-se em uma explosão cultural e simbólica, onde o povo assume o controle da festa. Segundo Guerreiro, é nesse instante que a celebração atinge sua forma mais autêntica.

“É um encerramento da festa maravilhoso, é uma farra. E o 2 de Julho é uma festa muito facetada, são vários momentos, várias ações. A gente está vendo aqui a confusão dessa chegada maravilhosa”.

A crescente valorização da volta dos Caboclos tem chamado atenção. De um simples encerramento simbólico, o momento se transformou em um evento com identidade própria, ganhando vida no calendário cultural de Salvador.

Caboclos em exposição durante todo ano

Após a chegada ao Pavilhão, as imagens do Caboclo e da Cabocla permanecem disponíveis à visitação pública. O presidente da FGM reforçou o convite para que a população vá ao memorial.

“O memorial está aberto. E vocês podem visitar a partir da semana que vem o Caboclo o ano inteiro aqui pra todo mundo visitar”, pontuou ao Portal M!.

Rituais, danças e fé no retorno à Lapinha

A chegada ao Largo da Lapinha é envolta em emoção, aplausos e homenagens. O cortejo que parte do Campo Grande percorre o mesmo trajeto histórico do desfile cívico — passando pela Avenida Sete, Rua Chile, Pelourinho, Carmo e Soledade — mas com um espírito distinto. O que predomina é o envolvimento das religiões de matriz africana, danças populares e gestos de fé.

“A volta é vibrante, o cortejo vem em alta velocidade, com o povo dançando atrás. Quando os carros entram na casa, é um espetáculo de aplausos e oferendas. É um momento único, porque muitos não veem a saída dos carros pela manhã, então o retorno se torna ainda mais especial”, afirmou Guerreiro.

Volta dos Caboclos se fortalecem como símbolo de identidade

A festa do 2 de Julho é, por excelência, uma celebração de resistência, pertencimento e identidade. A volta dos Caboclos, nos últimos anos, consolidou-se como um dos principais momentos dessa narrativa coletiva. É o instante em que a memória da luta contra o domínio português encontra as expressões mais vibrantes da cultura popular baiana.

“A volta deixa de ser apenas um encerramento simbólico da festa e passa a ter vida própria, atraindo cada vez mais participantes e admiradores”, disse o gestor em entrevista anterior ao Portal M! na última sexta-feira (4).

Celebração cresce entre festas populares de Salvador

A força da volta da Cabocla coloca o evento entre as maiores manifestações populares de Salvador, ao lado da Lavagem do Bonfim, das festas de Iemanjá e de Santa Bárbara, e de outras celebrações do sincretismo religioso. A participação crescente da população, a presença marcante das religiões afro-brasileiras e a espontaneidade do cortejo noturno demonstram que a cidade está resgatando e ampliando o valor de suas tradições.

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