Oferendas a Iemanjá: significados e tradições no 2 de fevereiro no Rio Vermelho
Relação dos seres humanos com oceanos e suas divindades é um fenômeno presente em diversas culturas ao longo da história

As águas de Salvador são tomadas, em todo 2 de fevereiro, por votos de esperança, pedidos e agradecimentos na maior manifestação pública do candomblé e umbanda, e uma das festas populares mais tradicionais da Bahia. O bairro do Rio Vermelho se transforma em um grande palco de devoção e festa para Iemanjá, a Rainha do Mar, que neste ano acontece neste domingo (2).
Milhares de fiéis e admiradores da religião afro-brasileira de diversas partes do Brasil se reúnem para oferecer presentes e fazer pedidos a essa divindade das águas. Entre flores, perfumes e objetos diversos, cada item ofertado carrega um significado profundo e uma conexão espiritual especial com a orixá.
De acordo com Mameto Laura Borges Unzo Maiala, as oferendas são uma expressão do que vem do coração de cada um. “Cada conexão que a gente tem, quando a gente se junta, é aquilombar. Quando a gente aquilomba para poder fazer cada oferta dessa, vem de dentro. Então, vir de dentro é você trazer o que sente energeticamente como positivo e como pode ofertar”, afirma.
Perfumes e flores: mais que aromas, energias
Os perfumes são uma das oferendas mais tradicionais. Segundo Laura Borges, eles são ofertados não apenas pelo aroma, mas pela simbologia da energia que transmitem. “Quando você oferta um perfume, não é um perfume só para cheirar. É um perfume para que aquelas águas sempre tragam um bom fluido, um bom brilho”, explica.
As flores também possuem uma importância singular e variam de acordo com o desejo do devoto. “Quando você traz uma flor, quando faz um pedido, há um significado particular naquela escolha”, ressalta a Mameto, que frisa que cada cor e tipo de flor podem representar aspectos diferentes, como amor, paz, prosperidade e saúde.

Pentes e equilíbrio espiritual
Outros objetos também são comumente ofertados a Iemanjá, como pentes de madeira. Esses itens carregam um forte simbolismo ligado à força e ao equilíbrio. “Quando você oferta um pente – tem que ter cuidado, é de madeira -, é para que você traga a referência daquela rainha no seu caminho, para a sua cabeça ter um equilíbrio, para ter uma força”, destaca Laura Borges.
Até mesmo itens simples podem ser utilizados para transmitir mensagens e pedidos. “Cada coisa traz uma representação. Mas a maior representação é sempre a que você coloca. Pode ser um grão de arroz. Aquele arroz para que traga uma paz no seu caminho. Então, dentro de cada apanhado, está o seu pedido e está a sua fé”, conta ela, que segue.
“O que você emana com fé e com carinho, e o que você oferta, que é recebido por essa mãe d’água, é onde você coloca todo o seu amor e sua dedicação nessa troca. Na troca do pedido, da fé, na troca da força, onde você cada vez mais constrói o seu ego de ligação junto à natureza”.
Importância do respeito à natureza
Mais do que um ato de devoção, a entrega das oferendas deve ser feita com respeito ao meio ambiente. “Agora, é preciso ter cuidado, porque não adianta ofertar essa grande mãe d’água sujando o seu território”, alerta a Mameto. “Até no perfume que a gente vai colocar, precisamos compreender que a embalagem não pode ir”, reforça.
A religião de matriz africana valoriza a relação harmônica entre os seres humanos e a natureza, o que inclui cuidar dos oceanos e evitar o descarte de materiais que possam poluir as águas. “Quando a gente agride a nossa natureza, quando a gente agride o ecossistema, essa mãe não fica alegre. Essa mãe é alegre com a casa dela limpa e bem recebida”, alerta Laura Borges.
O ato de ofertar como ligação espiritual
Cada oferenda feita no dia 2 de fevereiro é, acima de tudo, um gesto de conexão espiritual. Não se trata apenas do objeto em si, mas da energia, do amor e da dedicação depositados nesse ato de fé.
Assim, a festa de Iemanjá vai muito além do aspecto festivo. Ela se torna um momento de reforço da fé, de respeito às tradições e de conscientização ambiental. O mar, que recebe tantos pedidos e oferendas, também espera ser cuidado e protegido, para que essa relação de troca se mantenha viva e equilibrada.
História da festa
A Festa de Iemanjá tem origens que remontam ao período do tráfico transatlântico de pessoas escravizadas. A divindade chegou ao Brasil por meio de africanos, principalmente da etnia iorubá, que trouxeram consigo suas tradições religiosas.
No Brasil, Iemanjá é representada como uma mulher de cabelos longos e cauda de sereia, associada à maternidade e à proteção de mulheres e crianças. Seu culto se expandiu ao longo do tempo, especialmente em regiões costeiras, onde é reverenciada por pescadores e devotos.
A celebração, que tem forte identidade em Salvador, nem sempre ocorreu da forma como é conhecida hoje. Inicialmente, a festa era realizada em diferentes datas, algumas vezes no período de dezembro, e estava relacionada a divindades de rios, como na tradição africana original.
Em Cuba, por exemplo, há festividades semelhantes às praticadas atualmente na Bahia. Com o tempo, a homenagem se consolidou no dia 2 de fevereiro, quando pescadores do bairro do Rio Vermelho passaram a oferecer presentes a Iemanjá em busca de fartura na pesca. Além de Salvador, a festa também é realizada na cidade do Rio de Janeiro.
Tradição e influência cultural
De acordo com o historiador Murilo Melo, a relação dos seres humanos com os oceanos e suas divindades é um fenômeno presente em diversas culturas ao longo da história. “Acaba sendo uma memória ancestral do ser humano de cultuar os oceanos. Sempre precisamos dos oceanos para garantir a sobrevivência e desbravar novos mundos, desde o Egito antigo já havia toda essa relação do homem com o mar. E não somente na tradição africana, pois os católicos têm Nossa Senhora das Candeias, de Santana e outras divindades que possuem essa relação com o mar. No caso de Iemanjá, é a afirmação de uma etnia”, explica.
O evento, que atrai milhares de pessoas todos os anos, é marcado pela entrega de oferendas, como flores e perfumes, ao mar. Contudo, práticas mais sustentáveis vêm sendo incentivadas, buscando reduzir o impacto ambiental das homenagens.
“Iemanjá representa a fertilidade, a garantia do sustento dos pescadores, a vida, a proteção no imaginário religioso da cidade. Todas as festas e manifestações culturais são fluidas e vejo com muito bons olhos esse diálogo com a contemporaneidade, onde existe uma maior preocupação com o meio ambiente”, destaca Melo.
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