Neste domingo (26), Milton Nascimento completou 83 anos envolto em afeto, lembranças e música — elementos que sempre fizeram parte de sua trajetória. A equipe do artista, carinhosamente chamado de Bituca, celebrou a data nas redes sociais com uma coletânea de fotos raras de seu acervo pessoal. As imagens resgatam passagens da infância, da juventude e dos muitos palcos que consagraram o cantor e compositor como um dos grandes mestres da música popular brasileira.

Entre os registros divulgados, aparecem imagens de Milton ainda criança, um retrato de juventude em trajes formais, e fotos no auge da carreira, além de uma mais recente, onde o músico surge de boina, sentado, com semblante sereno. Um dos vídeos resgatados mostra uma performance de Nada Será Como Antes, gravada nos anos 1970, que simboliza bem a força e o lirismo de sua obra.

Filho e amigos celebram Bituca nas redes

O filho de Milton, Augusto Kesrouani Nascimento, fez questão de celebrar a data com fotos de viagens recentes ao lado do pai e uma mensagem de carinho.

“Hoje o cara mais incrível desse mundo completa 83 anos. O melhor parceiro de viagens. Exímio copiloto. O mais apaixonado por picolé de limão”, escreveu.

As redes sociais se encheram de homenagens vindas de grandes nomes da música brasileira. Chico Buarque, Gilberto Gil, Djavan, Maria Bethânia, João Bosco, Paulinho Moska, Samuel Rosa, Chico César, Evandro Mesquita, Hamilton de Holanda e Frejat foram alguns dos artistas que expressaram seu carinho e admiração por Bituca.

A ministra da Cultura, Margareth Menezes, também dedicou palavras de reconhecimento ao cantor. “Viva Milton Nascimento! Maestro maior do canto atemporal. Parabéns e obrigada por tudo”, publicou.

O músico Pedro Martins compartilhou um vídeo tocando violão ao lado de Milton e escreveu: “Melhor professor de violão que já tive! Parabéns para o maior de todos”.

Diagnóstico e cuidados com a saúde

No início de outubro, o filho do cantor revelou que Milton Nascimento foi diagnosticado com demência por corpos de Lewy (DCL), uma doença neurodegenerativa progressiva e sem cura, que afeta funções cognitivas e motoras. A notícia comoveu fãs e colegas, mas também reacendeu discussões sobre o cuidado com a saúde mental e neurológica na terceira idade.

A demência por corpos de Lewy é considerada a terceira forma mais comum entre as síndromes demenciais, ficando atrás apenas do Alzheimer e da demência vascular. Segundo o neurologista André Felício, coordenador da pós-graduação em Neurologia da Afya Educação Médica, o diagnóstico é confirmado quando os sintomas começam a interferir na rotina do paciente.

“A suspeita vem quando a perda de memória ou de atenção começa a impedir a independência da pessoa. O ponto chave que diferencia alguém com demência e sem demência é a autonomia”, explicou o especialista.

Ele destacou que, apesar de não haver cura, o tratamento adequado com medicamentos pode reduzir sintomas e retardar a progressão da doença. O acompanhamento médico é essencial, assim como a realização de exames que ajudam a diferenciar o tipo de demência — entre eles, ressonância magnética e testes de dopamina cerebral.

Conexão entre Lewy e Parkinson

A demência por corpos de Lewy compartilha sintomas com o Mal de Parkinson, como tremores e rigidez muscular, já que ambos envolvem alterações nos níveis de dopamina. Por isso, muitas vezes, os pacientes são inicialmente diagnosticados com Parkinson.

“É comum que essas pessoas sejam diagnosticadas primeiro com Parkinson, mas, na verdade, já tenham Lewy sem manifestação cognitiva”, afirma André Felício. O próprio Milton Nascimento foi diagnosticado com Parkinson há cerca de dois anos, antes da confirmação da demência.

Estilo de vida e prevenção

Ainda que a ciência não conheça as causas exatas da doença, o neurologista ressalta que hábitos de vida saudáveis têm papel protetor contra o avanço das síndromes demenciais.

“Exercício físico, sono de qualidade, alimentação equilibrada e estímulo cognitivo ao longo da vida são fatores neuroprotetores”, disse.

Um estudo recente da Universidade de São Paulo (USP) apontou que até 60% dos casos de demência podem estar ligados a fatores modificáveis, o que reforça a importância da prevenção.

Um legado imortal

Mesmo com o avanço da idade e os desafios de saúde, Milton Nascimento segue como um símbolo da resistência e da sensibilidade artística brasileira. Sua voz única, que ecoou em canções como Cais, Travessia, Maria Maria e Canção da América, continua a emocionar gerações e a influenciar músicos em todo o mundo.

Aos 83 anos, Bituca celebra mais que uma data: celebra uma vida inteira dedicada à arte, à poesia e ao poder transformador da música.