Mãe Ana fala sobre desafio de viver em um mundo com diversidade de falas

Em dezembro de 2019, Mãe Ana de Xangô foi escolhida para assumir a liderança do Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, um dos mais importantes do Brasil, após a morte de Mãe Stella de Oxóssi. A decisão veio em um jogo de búzios, conduzido pelo babalorixá Balbino Daniel de Paula, e marcou um momento significativo na história do candomblé.

Em participação no especial SobreTudo, do Portal M!, Mãe Ana de Xangô compartilhou sua emoção ao receber a missão de comandar o terreiro, expressando a honra e a responsabilidade de dar continuidade ao legado de suas antecessoras e de guiar a comunidade com sabedoria e devoção.

Ao falar sobre o assunto, mãe Ana se disse muito feliz com a escolha. “Me sinto lisonjeada por ser a escolhida de Xangô Opô Afonjá dentro de uma casa milenar fundada em 1910 por Mãe Aninha, uma ialorixá também de Xangô, e as sucessoras. Eu me sinto honrada em receber esse título por todas ancestrais que aqui passaram”, ressaltou.

Outro ponto destacado por mãe Ana foi a “grande responsabilidade” da posição, sobretudo por se tratar de um universo religioso. “É um espaço sagrado, e está nas minhas mãos, que Xangô me entregou a casa dele para eu cumprir esse papel de liderança religiosa, de ialorixá, e suceder a minha mãe de santo [mãe Stella de Oxóssi]. E eu falo verdadeiramente para o meu coração com o orixá, porque para o orixá não se mente”, enfatizou.

Principais desafios

No comando de um dos principais terreiros do Brasil, mãe Ana de Xangô também terá muitos desafios. Questionada sobre o assunto, a ialorixá ressaltou que um dos principais será de direcionar um “mundo religioso” com “diversidade de falas”.

“Eu vejo como orientação, todo tempo eu falo isso, não é fácil. É uma missão de grande responsabilidade e, a cada dia, é um novo olhar, é uma nova descoberta, é um novo aprendizado. Esse compromisso, eu vou chamar assim, e fidelidade, responsabilidade, é com os orixás, e direcionar um mundo religioso onde tem diversidades de falas, pensamentos diferentes, a todo tempo, é desafio”, apontou.

Segundo ela, é necessário habilidade e competência para “direcionar e conduzir”, além de lidar com pensamentos e ideologias distintas. Mãe Ana também destacou a importância de manter o legado de suas ancestrais. “Seguir a caminhada de mãe Aninha, mãe Bada, mãe Senhora e mãe Stella, que é ainda a minha ialorixá. Ela é uma ancestral, mas ela foi minha mãe de santo”, pontuou.

Legado de Mãe Stella

Ao falar de mãe Stella, que dirigiu o Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá por quase quatro décadas, mãe Ana também ressaltou o legado deixado por ela. Conforme a ialorixá, a educação foi um dos pilares deixados pela mãe de santo.

“Mãe Stella deixa um grande legado. A educação, um dos pilares. Uma mulher empoderada, forte, determinada e com seu conhecimento, ela traz a educação e a forma de um novo olhar sensível para a religião do candomblé de matriz africana. Ela chega e coloca isso nitidamente em questões de respeito, de tradição, de cultura e educação”.

Confira o Sobretudo com Mãe Ana na íntegra: