O filme “Ainda Estou Aqui”, dirigido por Walter Salles, estreou em 200 salas de cinema na França sob o título “Je Suis Toujours Là”, atraindo uma ampla gama de críticas. Enquanto o tradicional jornal Le Monde destacou negativamente a atuação de Fernanda Torres e a abordagem melodramática da trama, outros veículos franceses, como Le Figaro e Trois Couleurs, elogiaram a profundidade narrativa e a qualidade artística do longa.

A produção, que retrata a história de Eunice Paiva e seu enfrentamento às consequências da ditadura militar no Brasil, agora busca uma vaga no Oscar 2025, enfrentando uma forte concorrência no cenário internacional.

Crítica do Le Monde foca em atuação e narrativa

A análise do Le Monde foi uma das mais contundentes entre os veículos franceses. O crítico Jacques Mandelbaum dedicou uma página ao filme em uma recente edição do jornal. Ele considerou que a narrativa de “Ainda Estou Aqui” peca por sua “concentração melodramática” na personagem Eunice Paiva, mãe e ativista que lutou por justiça após a morte do marido, o ex-deputado Rubens Paiva, assassinado pela ditadura militar em 1971.

De acordo com Mandelbaum, o foco dramático prejudica a exploração do contexto político da época, resultando em uma “compreensão superficial do mecanismo totalitário”. Além disso, ele avaliou a atuação de Fernanda Torres como “um tanto monocórdica”, estabelecendo um paralelo com o trabalho de Sônia Braga em “Aquarius”, de 2016. Para o crítico, ambas as personagens apresentam uma representação “religiosa demais do sofrimento”.

Como reflexo de sua insatisfação, o Le Monde atribuiu ao longa apenas uma estrela em sua escala de até quatro.

Elogios de outros veículos reforçam o impacto do filme

Apesar das críticas do Le Monde, outros veículos franceses ofereceram avaliações muito mais favoráveis à obra de Walter Salles. A revista Télérama, por exemplo, classificou o filme como “très bien”, a segunda melhor nota em uma escala de cinco estrelas.

O Le Figaro, um dos jornais mais influentes da França, enalteceu “Ainda Estou Aqui” como uma “homenagem magnífica a uma mulher combativa”. A publicação destacou a força de Eunice Paiva ao dedicar sua vida à busca por justiça e pela memória do marido. O jornal também exaltou Fernanda Torres, descrevendo-a como “uma das maiores atrizes do mundo”.

A revista Trois Couleurs também se mostrou entusiasta ao definir o longa como “um painel dilacerante” que conecta os traumas do passado à “atualidade de um fascismo que ameaça voltar”.

Outras publicações, como Les Échos, Cahiers du Cinéma e L’Humanité, também destacaram a relevância política e emocional do filme. Segundo a Cahiers du Cinéma, “Ainda Estou Aqui” é “um filme realizado com sutileza, que reafirma a necessidade da transmissão”. O Les Échos, por sua vez, elogiou a obra como “um grande filme impressionista e político”.

Cenário da estreia na França

O lançamento de “Ainda Estou Aqui” em mais de 200 salas de cinema na França marca um momento importante para a produção brasileira. Sob o título “Je Suis Toujours Là”, o longa amplia a visibilidade internacional de Walter Salles, um dos cineastas brasileiros mais reconhecidos fora do país.

A recepção mista da crítica francesa reflete o impacto cultural do filme em um público acostumado a narrativas que exploram dramas históricos e políticos. Enquanto algumas resenhas apontam para o excesso de carga emocional, outras enaltecem a capacidade do diretor em construir uma obra envolvente e reflexiva.

Rivalidade com ‘Emilia Pérez’ no Oscar 2025

Além de conquistar espaço no mercado europeu, “Ainda Estou Aqui” também busca consolidar sua presença no cenário internacional ao disputar uma vaga no Oscar 2025 na categoria de Melhor Filme Internacional. O principal rival da produção brasileira é “Emilia Pérez”, representante da França na premiação.

A obra francesa, dirigida por Jacques Audiard, também aborda temas sociais e históricos, o que coloca os dois filmes em uma disputa acirrada pela atenção dos jurados. Os indicados ao Oscar serão anunciados no próximo dia 23, e a expectativa em torno da seleção é grande, considerando o impacto de ambas as produções em seus respectivos países.

Tributo à história brasileira

“Ainda Estou Aqui” vai além de um simples drama familiar. A obra resgata uma das páginas mais sombrias da história do Brasil, destacando a força de Eunice Paiva como símbolo de resistência contra a impunidade e o autoritarismo. Sua narrativa emociona ao explorar o impacto pessoal e político da ditadura militar, oferecendo um retrato íntimo e universal sobre luta, memória e justiça.

Fernanda Torres, no papel de Eunice, conduz a trama com intensidade, representando uma mulher que, apesar das perdas, jamais desistiu de lutar por aquilo em que acreditava. “Ainda Estou Aqui” não é apenas um filme; é um testemunho do poder do cinema como ferramenta de reflexão e transformação.

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