A 24ª edição do Prêmio Grande Otelo, considerada a mais importante honraria do cinema nacional, promete ser histórica. Agendada para 30 de julho na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro, a cerimônia celebrará a retomada da visibilidade internacional do cinema brasileiro. No entanto, uma decisão da Academia Brasileira de Cinema tem sido alvo de controvérsias: o longa Ainda Estou Aqui, primeiro filme brasileiro a conquistar um Oscar, será homenageado, mas não poderá concorrer a nenhuma das categorias da premiação.

A medida, anunciada por meio de comunicado oficial, pegou o público e o setor audiovisual de surpresa. O filme, dirigido por Walter Salles e estrelado por Fernanda Torres, estava regularmente inscrito para concorrer, como uma das 345 produções submetidas à seleção. A justificativa da Academia é que o longa ganhará destaque especial durante o evento, o que, segundo o regulamento, o torna inelegível para as categorias competitivas.

Proposta da homenagem e tema da edição

A escolha de homenagear Ainda Estou Aqui foi explicada como uma forma de celebrar o protagonismo internacional do cinema brasileiro, tema central da edição deste ano. A presidente da Academia, Renata Almeida Magalhães, destacou os avanços do setor em 2024.

“Das participações e prêmios nos mais importantes festivais como Cannes, Veneza e Berlim, ao Oscar, nosso cinema viajou pelo mundo. E, mais importante que tudo, está reconquistando o nosso próprio público”, afirmou.

O gesto, no entanto, não foi recebido com unanimidade. Ao excluir o filme da disputa, mesmo nas categorias técnicas, a organização gerou indignação entre profissionais da área e o público. Críticos apontam que, embora a homenagem seja válida, ela acaba sendo injusta com outros membros da equipe que poderiam ter sido reconhecidos individualmente — como diretores de arte, editores e técnicos de som.

Reações e questionamentos sobre decisão

Nas redes sociais, a repercussão foi imediata. Cinéfilos, críticos e profissionais do setor acusaram a Academia de tratar a produção de forma contraditória: ao mesmo tempo em que a coloca como símbolo do sucesso do audiovisual brasileiro, impede que ela seja avaliada em pé de igualdade com outras obras nacionais. A falta de transparência no processo de escolha também foi criticada.

Histórico de premiações e impacto do longa no cenário internacional

Ainda Estou Aqui é uma adaptação do livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva e tem se consolidado como um marco para o cinema brasileiro. Em 2024, o filme conquistou o Oscar de Melhor Filme Internacional, feito inédito na história do país. Além disso, venceu o prêmio de melhor roteiro no Festival de Veneza, garantiu a estatueta de melhor atriz de drama no Globo de Ouro para Fernanda Torres e levou o troféu de melhor longa-metragem ibero-americano nos Prêmios Goya.

O longa também está indicado em três categorias no Prêmio Platino 2025, que será realizado no próximo dia 27 de abril, em Madri. A expectativa é que a obra continue acumulando reconhecimentos, mesmo com a exclusão do Grande Otelo.

Um prêmio em meio a debates sobre critérios e reconhecimento

A edição deste ano do Prêmio Grande Otelo promete reunir grandes nomes e produções do audiovisual brasileiro. Em 2024, O Sequestro do Voo 375 foi o destaque, conquistando seis troféus, seguido por Pedágio, de Carolina Markowicz. A premiação contempla 30 categorias, sendo 29 definidas por júri técnico e uma por voto popular.

Enquanto isso, a exclusão de Ainda Estou Aqui da disputa reabre o debate sobre os critérios de reconhecimento no Brasil e a necessidade de maior valorização de toda a cadeia produtiva do cinema — não apenas de seus nomes mais visíveis.