A jornalista Jéssica Senra publicou uma mensagem em seu perfil no Instagram em homenagem ao advogado Daniel Keller, de 41 anos, encontrado morto na manhã da sexta-feira (13), em um hotel de Salvador. Na publicação, ela fala sobre a sensibilidade do ex-companheiro e a forma como ele lidava com dores e injustiças desde a juventude.

“Este mundo não foi feito para pessoas como você. Ele pode ser muito cruel com aqueles que não se encaixam em certas caixas pré-moldadas”, escreveu Senra, que manteve um relacionamento público com Keller entre 2018 e 2021. Segundo a jornalista, as feridas causadas pela dureza do mundo nunca cicatrizaram, e o advogado escondia suas dores para não ferir outras pessoas.

Na sequência, ela relatou que essa tentativa de proteger os outros acabou fazendo com que Keller deixasse partes de si pelo caminho. “Dor escondida não cura. Dor escondida dói. Dor escondida nos consome por dentro”, disse.

A jornalista ressaltou que parte dessa dor foi canalizada em amor pela Justiça e pelo ensino. Ela também citou os momentos em que foi apoiada por Keller durante conquistas e dificuldades, expressando gratidão por tudo o que ele lhe ensinou sobre o amor e o mundo. “Nossos planos de vida nos levaram a caminhos distintos, mas o amor, o respeito, a admiração e o desejo de que você estivesse feliz permaneceram em mim”, afirmou. A mensagem termina com o desejo de que o advogado encontre paz e acolhimento.

Ao final da publicação, Jéssica Senra incluiu uma mensagem de serviço: “Se também estiver difícil por aí, procure o CVV através do número 188”, em referência ao Centro de Valorização da Vida, que oferece apoio emocional gratuito.

Advogado foi encontrado morto em hotel de Salvador

Daniel Keller foi localizado sem vida em um dos quartos do Hotel Mercure, no bairro Caminho das Árvores, em Salvador. A Polícia Militar foi acionada e encontrou uma arma de fogo no quarto, que foi recolhida pelo Serviço de Investigação de Local de Crime (SILC). O caso será investigado pela 1ª Delegacia de Homicídios (DH/Atlântico).

Segundo a Polícia Civil, as equipes estão coletando imagens de câmeras de segurança e depoimentos de testemunhas e familiares. O corpo foi removido pelo Instituto Médico Legal (IML), que também será responsável pela autópsia. A arma passará por perícia e laudos complementares serão realizados pelo Departamento de Polícia Técnica (DPT).

A mãe do advogado residia no terceiro andar do mesmo prédio onde o corpo foi encontrado. Até o momento, não foram divulgadas informações sobre velório ou sepultamento.

Trajetória acadêmica e atuação profissional

Formado em Direito pela Universidade Católica do Salvador (UCSal) em 2007, Keller possuía especialização em Ciências Criminais pela UFBA e tornou-se mestre em Direito em 2021. Além da advocacia, atuava como professor universitário em instituições como a UCSal, Faculdade Ruy Barbosa e FTC.

Sócio do escritório Daniel Keller Advocacia Criminal, ficou conhecido por participar de casos de grande repercussão, como a atuação na defesa da família de Lucas Terra, adolescente morto em 2001 em um crime relacionado à Igreja Universal. Outro destaque foi sua presença como assistente de acusação no julgamento da médica Kátia Vargas, acusada de matar os irmãos Emanuel e Emanuelle Dias em 2013. Na ocasião, a ré foi absolvida.

Nos últimos anos, Keller também produzia conteúdo jurídico nas redes sociais, com vídeos explicativos sobre casos e orientações legais, o que ampliou sua visibilidade tanto no meio jurídico quanto entre o público geral. Pouco antes da morte, suas redes sociais foram desativadas.

Comoção entre colegas de profissão

A notícia da morte causou forte repercussão entre advogados e promotores. O promotor Davi Gallo, amigo de Keller, afirmou: “Era muito admirado, um advogado inteligente e capaz que não tinha inimigos. Não advogava para crime organizado – é um choque”.

A OAB-BA e a CAAB também se manifestaram, destacando sua contribuição para a advocacia criminal e prestando solidariedade aos familiares e amigos. Em nota, a Ordem dos Advogados descreveu Keller como um profissional de “atuação firme” e lamentou o vazio deixado nos espaços de debate jurídico.

As investigações seguem sob responsabilidade da Polícia Civil da Bahia.