A advogada e influenciadora digital Adélia Soares, ex-participante do Big Brother Brasil e conhecida por atuar na defesa de Deolane Bezerra, será conduzida coercitivamente para prestar depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Bets, que investiga a atuação de casas de apostas ilegais no Brasil. A condução foi autorizada pela Justiça Federal de São Paulo após a ausência de Adélia na oitiva marcada para o dia 29 de abril. A audiência no Congresso está marcada para esta terça-feira (13).

Segundo a relatora da CPI, senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), Adélia é sócia da empresa Payflow Processadora de Pagamentos LTDA, apontada pelas investigações como fachada para movimentações financeiras irregulares associadas ao mercado ilegal de jogos de azar. A defesa da advogada foi procurada pela reportagem, mas ainda não se manifestou.

Investigação aponta falsidade ideológica e associação criminosa

De acordo com requerimento apresentado por Soraya à comissão, Adélia foi indiciada pela Polícia Civil do Distrito Federal pelos crimes de falsidade ideológica e associação criminosa. As investigações indicam que ela teria colaborado com uma organização estrangeira para estruturar e operar ilegalmente plataformas de apostas no país, utilizando a Payflow como intermediária nas transações.

A empresa é suspeita de viabilizar operações com documentos falsos, lavagem de dinheiro e transações em desacordo com as normas do Banco Central. Parte do dinheiro movimentado pela companhia teria sido canalizado para contas no exterior, por meio de empresas registradas em paraísos fiscais, como as Ilhas Virgens Britânicas, o que aponta para a internacionalização do suposto esquema criminoso.

A equipe técnica da CPI estima que o esquema no qual Adélia está envolvida pode ter movimentado até R$ 2 bilhões em apenas 2 anos. A comissão vê o caso como um dos mais graves investigados até agora e pretende aprofundar as apurações com o depoimento da advogada.

CPI das Bets também convoca Virgínia Fonseca para depor

Além de Adélia Soares, a CPI das Bets também convocou a influenciadora digital Virgínia Fonseca para prestar depoimento. A audiência está marcada para esta terça-feira (13). Como se trata de convocação formal, a presença de Virgínia é obrigatória.

Segundo Soraya Thronicke, a influenciadora exerce “forte influência” sobre milhões de seguidores nas redes sociais e já participou de campanhas publicitárias promovendo sites de apostas. Virgínia tem cerca de 53 milhões de seguidores no Instagram e quase 40 milhões no TikTok.

“Nos últimos anos, a influenciadora esteve envolvida em campanhas de marketing para casas de apostas, utilizando sua ampla base de seguidores”, afirma a senadora no requerimento.

Na última quarta-feira (7), a CPI também aprovou a convocação do influenciador Rico Melquiades. A data de seu depoimento ainda será definida.

CPI ganha mais tempo, mas enfrenta críticas por falta de resultados

A CPI das Bets foi prorrogada por mais 45 dias e segue com os trabalhos até o final de maio. A extensão foi negociada com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), mas parlamentares críticos à comissão avaliam que ela tem produzido poucos resultados práticos após mais de 130 dias de investigações.

No dia 29 de abril, a CPI prendeu em flagrante um homem convocado como testemunha, acusado de falso testemunho. Ele foi identificado como “laranja” de uma intermediária de jogos ilegais. A ação foi vista por opositores da comissão como uma tentativa de criar um “fato político” para justificar a continuidade das investigações.

Apesar das críticas, a relatora Soraya Thronicke tem defendido a importância da CPI para expor a conexão entre casas de apostas online, redes de influenciadores e possíveis esquemas de lavagem de dinheiro. Com o aprofundamento das apurações, a comissão espera apresentar um relatório robusto nas próximas semanas.