Vítima de tragédia de Brumadinho é identificada após 6 anos

A Polícia Civil de Minas Gerais confirmou, na sexta-feira (7), a identificação da corretora de imóveis Maria de Lurdes da Costa Bueno, uma das vítimas do rompimento da barragem da mineradora Vale em Brumadinho. A confirmação ocorreu por meio de exames antropológicos realizados em segmentos corpóreos encontrados na região atingida pela tragédia. Maria de Lurdes se torna a 268ª vítima identificada do desastre.

Apesar dos avanços nas buscas, 6 anos após o colapso da estrutura, os corpos de Tiago Tadeu Mendes da Silva e Nathália de Oliveira Porto Araújo ainda seguem desaparecidos. As buscas, conduzidas pelo Corpo de Bombeiros, continuam ativas, com a promessa de prosseguirem até que todas as vítimas sejam encontradas.

Homenagem e luta por justiça

O reconhecimento de Maria de Lurdes foi compartilhado pela Associação dos Familiares das Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem em Brumadinho (Avabrum), que reforçou a necessidade de manter viva a memória das vítimas e a luta por justiça. “A luta por justiça, encontro, memória, não repetição e direito dos familiares não pode parar!”, publicou a organização em suas redes sociais.

A postagem incluiu uma imagem de Maria de Lurdes acompanhada de uma frase do filósofo e poeta Rubem Alves: “aquilo que o coração ama, fica eterno”. O gesto simboliza a dor e a esperança dos familiares que aguardam respostas e punições para os responsáveis pelo desastre.

Quem era Maria de Lurdes

Maria de Lurdes da Costa Bueno, conhecida carinhosamente como Malu, era corretora de imóveis e sócia de uma imobiliária junto com o marido, Adriano Ribeiro da Silva, em São José do Rio Pardo (SP). Ela viajou a Brumadinho para conhecer o Instituto Inhotim, o maior centro de arte ao ar livre da América Latina.

A viagem foi planejada a pedido de seu enteado, Luiz Taliberti, que sonhava em visitar o local. Com ela estavam seu marido, seus dois enteados, Luiz e Camila Taliberti, e a noiva de Luiz, Fernanda Damian de Almeida, que estava grávida de 5 meses. Todos estavam hospedados na Pousada Nova Estância, uma das primeiras estruturas engolidas pela avalanche de rejeitos. Nenhum deles sobreviveu.

Impacto da tragédia e a busca por respostas

O rompimento da barragem da Vale, ocorrido em 25 de janeiro de 2019, resultou na morte de 270 pessoas. A maioria das vítimas eram trabalhadores da mineradora ou de empresas terceirizadas que atuavam no local. A Avabrum contabiliza 272 vidas perdidas, considerando os bebês de duas mulheres que estavam grávidas. Além das vidas humanas, o desastre causou destruição de comunidades inteiras e um impacto ambiental irreversível na bacia do Rio Paraopeba.

Após 6 anos da tragédia, ninguém foi preso pelo rompimento da barragem. O processo criminal, que inicialmente tramitava na Justiça estadual, foi federalizado e, atualmente, está em fase de apresentação de defesa pelos réus. Ao todo, 16 pessoas foram denunciadas, incluindo executivos da Vale e da consultoria alemã Tüv Süd, responsável pelo laudo de estabilidade da barragem. No entanto, em 2023, o ex-presidente da mineradora, Fábio Schvartsman, conseguiu um habeas corpus e deixou de ser réu no processo.

Já no ano passado, o Supremo Tribunal Federal (STF) aprovou, por unanimidade, a homologação de um acordo de R$ 170 bilhões para reparação dos danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG). A decisão foi oficializada, no dia 6 de novembro, após o presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso, levar o tema ao plenário. O acordo, firmado no mês anterior, em 25 de outubro, envolve as mineradoras Vale, BHP e Samarco.

Memorial e preservação da memória

No último aniversário da tragédia, a Avabrum organizou um ato para homenagear as vítimas e reiterar a luta contra a impunidade. Como parte das homenagens, foi inaugurado o Memorial Brumadinho, um espaço concebido para preservar a história do desastre e servir como ponto de reflexão e conexão com as vítimas.

O Instituto Camila e Luiz Taliberti (ICLT), criado em homenagem aos enteados de Maria de Lurdes, também tem desempenhado um papel fundamental na defesa dos direitos humanos e na busca por justiça. Presidido por Helena Taliberti, mãe de Luiz e Camila, o instituto atua em parceria com a Avabrum para garantir que o caso não seja esquecido e que os responsáveis sejam devidamente punidos.

A identificação de Maria de Lurdes representa um pequeno avanço na longa jornada de luto e reivindicação por justiça dos familiares das vítimas de Brumadinho. O trabalho das equipes de busca continua, mantendo viva a esperança de que todas as vítimas sejam encontradas e que a impunidade não prevaleça.