Violência contra mulheres: 91% das vítimas são agredidas diante de testemunhas
Pesquisa revela que em 25% dos casos, filhos presenciam violência doméstica

Um levantamento inédito, divulgado nesta segunda-feira (10), pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública em parceria com o Instituto Datafolha, revelou um dado alarmante: nove em cada dez mulheres que sofreram violência no Brasil no último ano afirmaram que as agressões ocorreram na presença de terceiros. Em 25% dos casos, as agressões foram cometidas diante dos próprios filhos das vítimas.
A pesquisa “Visível e Invisível: Vitimização de Meninas e Mulheres”, divulgada logo após o Dia Internacional da Mulher comemorado neste último sábado (8), destaca que 91,8% das mulheres que relataram violência no último ano foram agredidas com testemunhas. Amigos ou conhecidos estavam presentes em 47,3% das situações, enquanto os filhos assistiram a 27% dos casos. Outros parentes testemunharam 12,4% das violências, e apenas 7,7% dos episódios ocorreram diante de desconhecidos.
Violência presenciada: retrato preocupante
A pergunta sobre a presença de terceiros foi incluída pela primeira vez nesta quinta edição da pesquisa, realizada a cada dois anos. Foram entrevistadas 793 mulheres com 16 anos ou mais em 126 municípios brasileiros entre os dias 10 e 14 de fevereiro deste ano. O objetivo do levantamento é ampliar a compreensão da violência contra mulheres para além dos dados registrados pelas autoridades policiais.
Para Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a alta taxa de testemunhas revela uma preocupante “conivência silenciosa” com a violência doméstica.
“As pessoas no entorno sabem que essa mulher está sofrendo violência. Muitas vezes, enquanto sociedade, ainda somos coniventes com muitas formas de violência. É o famoso ‘em briga de marido e mulher não se mete a colher'”, afirma.
Conivência e banalização da violência
A diretora explica que, em muitos casos, essa conivência ocorre porque as pessoas ao redor não reconhecem a gravidade de certos comportamentos abusivos. “Você sabe que aquela mulher está em uma relação abusiva, percebe o comportamento controlador do parceiro, mas como não vê a violência física explícita, acredita que não precisa intervir”, diz Samira.
Esse ciclo de negligência e normalização é perigoso. Segundo a especialista, as agressões mais graves geralmente são precedidas por formas de violência consideradas “menores”, como humilhações e ameaças. “O tempo entre uma agressão e um feminicídio pode ser muito curto. Não há como prever quando a violência irá escalar”, alerta.
Impacto da violência testemunhada pelas crianças
Outro ponto crítico apontado pelo estudo é a exposição de crianças e adolescentes a episódios de violência doméstica. A pesquisa reforça que crescer em ambientes violentos está associado a diversos impactos negativos na saúde mental e emocional, como depressão, ansiedade, baixa autoestima e isolamento social.
“O quanto isso, de algum modo, alimenta essa máquina que se reproduz?”, questiona Samira. “Como podemos mudar essa cultura se as crianças que convivem com essas situações acabam naturalizando esses comportamentos?”
Perfil das mulheres mais afetadas pela violência
O estudo também traçou o perfil das mulheres mais vulneráveis à violência no último ano. As faixas etárias mais atingidas foram as de 25 a 34 anos (43,6%), 35 a 44 anos (39,5%) e 45 a 59 anos (38,2%). Entretanto, a pesquisa indica que a violência atinge mulheres de todas as idades, com alta prevalência entre aquelas com idades entre 16 e 59 anos.
Ao menos 21,4 milhões de mulheres brasileiras – ou 37,5% da população feminina com 16 anos ou mais – foram vítimas de algum tipo de violência em 2024. As formas mais comuns incluem agressões físicas, como socos, chutes ou empurrões, além de violências psicológicas, como humilhações e ameaças.
Como combater violência de forma eficaz
Especialistas ressaltam a importância de campanhas de conscientização que abordem as diversas formas de violência contra mulheres, desde as agressões físicas até os abusos emocionais e psicológicos. Além disso, políticas públicas voltadas ao acolhimento das vítimas e punição dos agressores são fundamentais para reverter esse cenário alarmante.
O Fórum Brasileiro de Segurança Pública defende a necessidade de ampliar os canais de denúncia e fortalecer redes de apoio. Para as vítimas, o Disque 180 é um dos principais serviços de acolhimento e orientação, disponível 24 horas por dia de forma gratuita e sigilosa.
Com os dados apresentados, fica claro que a violência contra mulheres é um problema estrutural que demanda ações coordenadas e um compromisso efetivo da sociedade e do poder público para sua erradicação.
Redação
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