Violência contra mulheres: 91% das vítimas são agredidas diante de testemunhas

Pesquisa revela que em 25% dos casos, filhos presenciam violência doméstica


Redação
Estadão Conteúdo e Redação 10/03/2025 12:38 • Cidades
Violência contra mulheres: 91% das vítimas são agredidas diante de testemunhas - Paulo Carvalho/Agência Brasil

Um levantamento inédito, divulgado nesta segunda-feira (10), pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública em parceria com o Instituto Datafolha, revelou um dado alarmante: nove em cada dez mulheres que sofreram violência no Brasil no último ano afirmaram que as agressões ocorreram na presença de terceiros. Em 25% dos casos, as agressões foram cometidas diante dos próprios filhos das vítimas.

A pesquisa “Visível e Invisível: Vitimização de Meninas e Mulheres”, divulgada logo após o Dia Internacional da Mulher comemorado neste último sábado (8), destaca que 91,8% das mulheres que relataram violência no último ano foram agredidas com testemunhas. Amigos ou conhecidos estavam presentes em 47,3% das situações, enquanto os filhos assistiram a 27% dos casos. Outros parentes testemunharam 12,4% das violências, e apenas 7,7% dos episódios ocorreram diante de desconhecidos.

Violência presenciada: retrato preocupante

A pergunta sobre a presença de terceiros foi incluída pela primeira vez nesta quinta edição da pesquisa, realizada a cada dois anos. Foram entrevistadas 793 mulheres com 16 anos ou mais em 126 municípios brasileiros entre os dias 10 e 14 de fevereiro deste ano. O objetivo do levantamento é ampliar a compreensão da violência contra mulheres para além dos dados registrados pelas autoridades policiais.

Para Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a alta taxa de testemunhas revela uma preocupante “conivência silenciosa” com a violência doméstica.

“As pessoas no entorno sabem que essa mulher está sofrendo violência. Muitas vezes, enquanto sociedade, ainda somos coniventes com muitas formas de violência. É o famoso ‘em briga de marido e mulher não se mete a colher'”, afirma.

Conivência e banalização da violência

A diretora explica que, em muitos casos, essa conivência ocorre porque as pessoas ao redor não reconhecem a gravidade de certos comportamentos abusivos. “Você sabe que aquela mulher está em uma relação abusiva, percebe o comportamento controlador do parceiro, mas como não vê a violência física explícita, acredita que não precisa intervir”, diz Samira.

Esse ciclo de negligência e normalização é perigoso. Segundo a especialista, as agressões mais graves geralmente são precedidas por formas de violência consideradas “menores”, como humilhações e ameaças. “O tempo entre uma agressão e um feminicídio pode ser muito curto. Não há como prever quando a violência irá escalar”, alerta.

Impacto da violência testemunhada pelas crianças

Outro ponto crítico apontado pelo estudo é a exposição de crianças e adolescentes a episódios de violência doméstica. A pesquisa reforça que crescer em ambientes violentos está associado a diversos impactos negativos na saúde mental e emocional, como depressão, ansiedade, baixa autoestima e isolamento social.

“O quanto isso, de algum modo, alimenta essa máquina que se reproduz?”, questiona Samira. “Como podemos mudar essa cultura se as crianças que convivem com essas situações acabam naturalizando esses comportamentos?”

Perfil das mulheres mais afetadas pela violência

O estudo também traçou o perfil das mulheres mais vulneráveis à violência no último ano. As faixas etárias mais atingidas foram as de 25 a 34 anos (43,6%), 35 a 44 anos (39,5%) e 45 a 59 anos (38,2%). Entretanto, a pesquisa indica que a violência atinge mulheres de todas as idades, com alta prevalência entre aquelas com idades entre 16 e 59 anos.

Ao menos 21,4 milhões de mulheres brasileiras – ou 37,5% da população feminina com 16 anos ou mais – foram vítimas de algum tipo de violência em 2024. As formas mais comuns incluem agressões físicas, como socos, chutes ou empurrões, além de violências psicológicas, como humilhações e ameaças.

Como combater violência de forma eficaz

Especialistas ressaltam a importância de campanhas de conscientização que abordem as diversas formas de violência contra mulheres, desde as agressões físicas até os abusos emocionais e psicológicos. Além disso, políticas públicas voltadas ao acolhimento das vítimas e punição dos agressores são fundamentais para reverter esse cenário alarmante.

O Fórum Brasileiro de Segurança Pública defende a necessidade de ampliar os canais de denúncia e fortalecer redes de apoio. Para as vítimas, o Disque 180 é um dos principais serviços de acolhimento e orientação, disponível 24 horas por dia de forma gratuita e sigilosa.

Com os dados apresentados, fica claro que a violência contra mulheres é um problema estrutural que demanda ações coordenadas e um compromisso efetivo da sociedade e do poder público para sua erradicação.

Redação

Redação

Mais Lidas

Cidades

Últimas Notícias

Preço da Hora Bahia revela onde economizar até 57% nos itens da Semana Santa em Salvador -
Cidades 17/04/2025 às 12:05

Preço da Hora Bahia revela onde economizar até 57% nos itens da Semana Santa em Salvador

Alerta para quem vai às compras: peixe e feijão têm diferença de até R$ 12 no feriadão da Páscoa


Feriadão de Semana Santa e Tiradentes: veja o que abre e fecha em Salvador e RMS -
Cidades 17/04/2025 às 11:24

Feriadão de Semana Santa e Tiradentes: veja o que abre e fecha em Salvador e RMS

Durante período, muitos estabelecimentos terão horários especiais e alguns serviços fechados


Wagner aponta falha na comunicação, reconhece desgaste do governo Lula, mas aposta na recuperação até 2026 -
Política 17/04/2025 às 10:43

Wagner aponta falha na comunicação, reconhece desgaste do governo Lula, mas aposta na recuperação até 2026

Senador defende articulação com Estados para resolver crise na segurança


Escalada de violência em disputa por terra leva Força Nacional ao Extremo-sul da Bahia -
Política 17/04/2025 às 10:02

Escalada de violência em disputa por terra leva Força Nacional ao Extremo-sul da Bahia

Decisão atende recomendação do governo federal após episódios de violência e pressões por demarcações territoriais


Resumo BBB 25 de quarta-feira (16/4): Clima de despedida marca festa do Top 5 antes da eliminação no BBB 25 -
BBB 25 17/04/2025 às 09:21

Resumo BBB 25 de quarta-feira (16/4): Clima de despedida marca festa do Top 5 antes da eliminação no BBB 25

Jantar exclusivo, homenagens e desabafo de emparedados movimentaram madrugada na casa mais vigiada do país


Maria Milza tem processo de beatificação aprovado pelo Vaticano e pode se tornar segunda santa baiana -
Cidades 17/04/2025 às 08:40

Maria Milza tem processo de beatificação aprovado pelo Vaticano e pode se tornar segunda santa baiana

Fase diocesana será iniciada no dia 15 de agosto, data em que se completam 102 anos do nascimento da agricultora baiana


ProPatinhas: novo plano do governo quer acabar com abandono de pets no Brasil -
Política 17/04/2025 às 08:00

ProPatinhas: novo plano do governo quer acabar com abandono de pets no Brasil

RG animal, castração e rastreamento: conheça pacote federal para proteger cães e gatos que será lançado pelo presidente Lula


Salvador ganha 11 novos ônibus com ar-condicionado e reforça frota do BRT e do transporte convencional -
Cidades 17/04/2025 às 07:30

Salvador ganha 11 novos ônibus com ar-condicionado e reforça frota do BRT e do transporte convencional

Oito novos veículos serão integrados ao BRT Salvador, enquanto três atenderão à linha convencional


Semana Santa em Salvador: veja programação completa das celebrações presididas por Dom Sergio da Rocha -
Cidades 17/04/2025 às 07:00

Semana Santa em Salvador: veja programação completa das celebrações presididas por Dom Sergio da Rocha

Programação da Arquidiocese vai do Tríduo Pascal ao Domingo da Páscoa com celebrações solenes no Centro Histórico


Alexandre Silveira minimiza ruído com Haddad e garante acordo sobre ampliação da tarifa social de energia -
Política 16/04/2025 às 23:05

Alexandre Silveira minimiza ruído com Haddad e garante acordo sobre ampliação da tarifa social de energia

Conforme ministro de Minas e Energia, não há conflito com Ministério da Fazenda, apenas uma 'falha de comunicação'