Pelo menos dez adolescentes foram baleados em Salvador e na Região Metropolitana (RMS) durante o mês de maio, segundo o mais recente levantamento do Instituto Fogo Cruzado. O número é o maior já registrado pela organização em um único mês na Bahia, desde o início da coleta de dados no estado. Dos dez casos, sete ocorreram na capital — com três mortes e quatro feridos —, dois em Lauro de Freitas e um em Camaçari, onde o jovem não resistiu aos ferimentos.

O dado integra o quinto relatório mensal de 2025 do instituto, que aponta 137 tiroteios registrados no mês de maio, resultando em 122 mortes e 28 pessoas feridas. Os dados apontam ainda que as principais vítimas são as pessoas mais jovens, moradores de zonas periféricas.  

Caso Ryan Gabriel expõe disputa armada e fragilidade social

Um dos episódios mais impactantes do mês foi o assassinato de Ryan Gabriel Ferreira Santos, de 17 anos, morto em 18 de maio durante uma troca de tiros entre grupos criminosos rivais na Rua João Paulo II, localidade de Alagados, no bairro do Uruguai, em Salvador. Além dele, outros três indivíduos foram baleados no ataque, entre os quais dois adolescentes de 15 e 17 anos.

Para Tailane Muniz, coordenadora regional do Instituto Fogo Cruzado na Bahia, o dado revela um padrão preocupante. Segundo ela, “é sintomático que nossas vítimas sejam cada vez mais jovens. Se não há política de proteção da população, os mais vulneráveis estarão nessa estatística, inevitavelmente. O que é preocupante, sobretudo porque este mesmo grupo etário deveria ser prioridade no quesito garantia de direitos”.

Mapa da violência armada na capital e RMS

O relatório do Fogo Cruzado ainda detalha a distribuição geográfica dos tiroteios e mortes na capital e cidades vizinhas:

• Salvador: 96 tiroteios, 78 mortos e 21 feridos
  
• Camaçari: 13 tiroteios, 15 mortos e 4 feridos
  
• Lauro de Freitas: 10 tiroteios, 12 mortos e 2 feridos
  
• Dias D’Ávila: 5 tiroteios e 7 mortos
  
• Simões Filho: 4 tiroteios, 1 morto e 1 ferido
  
• Vera Cruz: 3 tiroteios e 3 mortos
  

Os dados reforçam a concentração da violência em áreas urbanas densamente povoadas e em regiões com baixos indicadores sociais.

Bahia tem segunda maior taxa de homicídios entre jovens no país

O Atlas da Violência 2025, divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) nesta segunda-feira (12), traz mais um dado preocupante: a Bahia foi o segundo estado com maior taxa de homicídios entre jovens em 2023, com 113,7 mortes por 100 mil pessoas entre 15 e 29 anos. A taxa é mais que o dobro da média nacional, de 45,1 por 100 mil, e quase 12 vezes maior que a observada em São Paulo, estado com menor índice do país.

Mesmo com uma redução de 3,4% em relação a 2022, a Bahia continua figurando entre os estados com os piores indicadores de violência letal contra jovens. O relatório mostra que os homens continuam sendo as principais vítimas: em 2023, a taxa entre homens de 15 a 29 anos chegou a 220,6 por 100 mil, quase o dobro da média entre os jovens no geral.

Armas de fogo são o principal instrumento dos homicídios

Assim como em outros estados brasileiros, as armas de fogo continuam sendo o principal instrumento usado nas mortes violentas registradas na Bahia. Elas são seguidas por instrumentos perfurantes, como facas, e objetos contundentes. A violência armada, associada à ausência de políticas públicas eficazes e às desigualdades sociais, segue afetando principalmente jovens negros e pobres.

Estado lidera número absoluto de homicídios no Brasil

Além de ostentar uma das maiores taxas proporcionais de homicídios entre jovens, a Bahia também liderou o ranking nacional em números absolutos. Em 2023, foram 6.616 mortes violentas intencionais registradas no estado, colocando-o à frente de outras unidades da federação:

1. Bahia – 6.616 homicídios
   
2. Rio de Janeiro – 4.292
   
3. Pernambuco – 3.697
   
4. São Paulo – 3.043
   
5. Ceará – 2.992
   

O levantamento do Fogo Cruzado e os dados do Atlas da Violência revelam uma realidade dramática e persistente que desafia o poder público. Especialistas reforçam que, enquanto políticas de segurança pública não forem articuladas com investimentos em educação, cultura, esporte e oportunidades para a juventude, a estatística continuará sendo cruel com os mais jovens e vulneráveis.