Três anos, 260 dias e poucas horas. Esse é o tempo que o “Relógio do Clima”, instalado nesta última segunda-feira (3) em Salvador, marca como limite para que o planeta alcance emissão zero de gases de efeito estufa, evitando um ponto de “não retorno” ambiental. A contagem regressiva, baseada nos dados do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU, é um dos destaques do Global Artivism 2025, evento internacional que antecipa as discussões da COP 30, programada para ocorrer a partir da próxima segunda-feira (10), em Belém.

A conferência, que segue até quarta-feira (5), transformou Salvador em um grande centro de diálogo sobre arte, sustentabilidade e direitos humanos. A abertura oficial ocorreu no Hotel da Bahia by Wish, com a presença da deputada Erika Hilton, do ativista sul-africano Kumi Naidoo embaixador do movimento e de representantes de diferentes países. Durante o dia, o público acompanhou palestras, rodas de conversa e intervenções artísticas com foco em filantropia, protagonismo de mulheres negras e emergência climática.

‘Relógio do Clima’: um símbolo de esperança e ação

O “Relógio do Clima” idealizado pelo ativista Raul de Lima foi apresentado como uma obra de arte interativa e educativa, que busca conscientizar sem alarmar. Em entrevista, Raul explicou que a instalação, presente também em países como Itália e Coreia do Sul, além de estar no gabinete da ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, pretende ser uma “porta para a esperança”.

“A gente gosta muito de olhar para o relógio e pensar que é uma janela de esperança. A gente tem esse tempo para mitigação climática. Então a gente tem esse tempo para pensar como a gente traz mais gente para essa conversa. Como a gente traz mais gente para esse lado que está acreditando que é possível fazer uma transformação”, destacou Raul ao G1 Bahia.

Ao final do primeiro dia, os participantes se reuniram na Praça Campo Grande, onde artistas realizaram uma intervenção coletiva para simbolizar o compromisso da sociedade civil na luta contra o colapso climático.

Global Artivism leva arte, ciência e espiritualidade ao centro de Salvador

Durante os três dias de evento, o Global Artivism 2025 se espalha por diferentes espaços da cidade, incluindo o Goethe-Institut, Praça das Artes, Cinema do Museu, Espaço Cultural da Barroquinha, Teatro Gregório de Mattos, Casa do Carnaval da Bahia, Museu da Misericórdia e Sociedade Protetora dos Desvalidos. As atividades incluem shows, debates, exibições de filmes e performances, abordando temas como genocídio palestino, cinema negro e trans, e o papel da arte como resistência social.

Idealizado pelo rapper sul-africano Ricky Rick, o evento nasceu após a morte de seu filho, em um gesto de transformar o luto em ação coletiva. O objetivo, segundo os organizadores, é criar um espaço seguro para o diálogo global entre ativistas e artistas comprometidos com causas sociais e ambientais.

Margareth Menezes foi decisiva para trazer evento à Bahia

A decisão de realizar o Global Artivism 2025 em Salvador surgiu após uma conversa entre Ricky Rick e a ministra da Cultura, Margareth Menezes. Segundo Piti Canellas, coordenadora-geral da conferência, a ministra defendeu que a Bahia, com sua representatividade cultural e ancestralidade, seria o lugar ideal para sediar um encontro dessa magnitude.

“O ano passado foi na África do Sul e esse ano, quando ele veio para o G20, ele falou para Margareth Menezes que estava indo para Santarém fazer o evento do ativismo lá, porque a COP ia acontecer em Belém. E aí ela falou: ‘Por que você vai trazer uma convenção dessa tão maravilhosa, com tantos artistas do mundo inteiro, e levar para Santarém? Você tem que trazer para a Bahia”, relatou Piti.

O Global Artivism 2025 será encerrado, nesta próxima quarta-feira (5), com a elaboração de um documento internacional, reunindo as principais propostas e soluções apresentadas nos painéis e intervenções. O material será encaminhado pelos representantes à COP 30, que começa na próxima segunda-feira (10), em Belém.