Professores de universidades federais e estaduais da Bahia criticaram, por meio de uma carta de repúdio, o projeto do Governo do Estado que propõe uma parceria com a Associação Cultural Brasil-Estados Unidos (Acbeu) para o ensino de inglês nas escolas. A carta, assinada por 85 docentes, denuncia a exclusão dos especialistas universitários do processo e afirma que o programa perpetua práticas elitistas e excludentes na educação linguística.
O documento ressalta que a educação linguística no Brasil, historicamente, não é inclusiva e está frequentemente nas mãos de empresas estrangeiras. Os professores, que compõem a grade de docentes das universidades federais e estaduais da Bahia, argumentam que o projeto desconsidera iniciativas anteriores e não atende às necessidades educacionais locais.
A crítica principal do documento é voltada para a falta de diálogo por parte da Secretaria da Educação do Estado da Bahia (SEC) e o abandono do projeto “Outras Palavras”, que havia sido criado para integrar o ensino de idiomas com a contribuição dos professores universitários. O projeto, apesar de anunciado, não avançou além de algumas discussões iniciais.
Além disso, existe uma preocupação com a redução da carga horária do ensino de inglês nas escolas, que caiu de duas para uma aula por semana, e, em alguns casos, foi totalmente eliminado da grade. Essa redução ocorreu em meio às reformas do Novo Ensino Médio e à aprovação do Documento Curricular Referencial da Bahia.
A professora do Instituto de Letras da UFBA Cristiane Landulfo e outros críticos destacam a necessidade de políticas linguísticas mais abrangentes que incluam não só línguas estrangeiras, mas também línguas indígenas e africanas. “Os nossos questionamentos sobre a qualidade da educação linguística, principalmente no interior da Bahia, dizem respeito às condições físicas das escolas, o acesso às novas tecnologias e ao material didático, a formação em serviço de professores, o plano de carreira dos professores da Educação Básica, a valorização do trabalho docente, a maior carga horária e menor número de alunos, especialmente nas aulas de línguas estrangeiras”, comentou.
De acordo com a professora Kelly Barros, docente da área de inglês na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, é estranho que seja feita a parceria com uma instituição como a Acbeu, que atende um público diferente do estudante de escola pública. “Respeito muito a Acbeu e trabalhei lá. Ele agrega o nome ao projeto, mas a gente não precisa de uma marca para dizer que a escola pública funciona. A gente precisa da escola pública. Não posso deixar o mesmo formato de uma escola de inglês que vai enxergar o aluno como aquele aluno que vai para a Disney uma vez por ano”, afirma a docente da UFRB.
Por outro lado, a SEC defende a parceria com a Acbeu e a ampliação do ensino de idiomas como parte de um currículo complementar, afirmando que a carga horária do inglês não foi reduzida. A Acbeu, por sua vez, justifica sua atuação com a promessa de um ensino de inglês de qualidade e personalizado, alinhado com os padrões internacionais e a formação dos professores.
Leia também:
Setembro Amarelo reforça importância do autocuidado mental
“Quem vai nos ajudar?”: Lar atende crianças e adultos em vulnerabilidade em Salvador