A Irmandade do Nosso Senhor do Bonfim e a Basílica Santuário avançaram em um acordo histórico, após anos de atuações distintas. A integração, segundo o presidente da Irmandade, Marcelo Sacramento, começou quando foi identificada a necessidade de diálogo para resolver a sobreposição de funções que, ao longo do tempo, havia ocorrido.

“Ao longo da história, por deficiência ou por falta de determinadas ações, a Basílica também acabou ganhando alguns espaços em algumas atuações que podiam ser exercidas pela Irmandade”, explicou Sacramento. A busca por unificar essas ações teve apoio da Arquidiocese e do Ministério Público, alcançando aprovação nos tribunais.

Marcelo enfatizou a receptividade das partes envolvidas e citou que o reitor, Padre Edson, mostrou-se aberto ao diálogo. Segundo ele, “nunca foi procurado para esse tipo de diálogo e que as coisas vinham de uma forma diferente”. O presidente destacou que o processo de aproximação foi conduzido de forma harmoniosa, com apoio da maioria dos envolvidos e pedidos de desculpas por parte de alguns membros da Irmandade. “Claro que tem alguns que ainda resistem um pouco, e é natural, porque você chegou num ponto em que tem um pouco de discórdia, um acirramento, um atrito”, disse.

A Irmandade, em conjunto com o reitor, está agora focada em expandir as atividades do Santuário, dando início a projetos voltados para o público, como as “Caminhadas Abençoadas”, projeto que busca valorizar as tradicionais caminhadas de fiéis, oferecendo estrutura e serviços adicionais aos participantes.

“Vamos receber, acolher essas pessoas aqui com a reserva por horário das áreas aqui da varanda. Essas estruturas poderão colocar seus isopor com isotônico, com água, com frutas. O acesso à Catedral, à nossa Basílica Santuário, vai ser feito ao som do hino do Senhor do Bonfim, com a imagem do Senhor do Bonfim”, destacou Sacramento.

Além das caminhadas, a Irmandade, em parceria com a Basílica, implantará auditorias retroativas em suas contas, uma iniciativa apoiada pelo reitor. Sacramento frisou que o procedimento visa garantir transparência na gestão financeira da Irmandade, da Basílica e dos projetos sociais, com novas medidas de governança.

“Decidimos que instauraremos a auditoria nas contas da Irmandade, nas contas do Projeto Social e nas contas da Basílica, obviamente, inclusive retroativa, três anos atrás e daqui para frente. Então, estamos estabelecendo uma nova forma de governança, extremamente transparente, clara, documentada com novos sistemas, estamos implantando novos sistemas, modernizando”, afirmou.

Respaldo legal

O advogado da Irmandade, Dr. Otoney Alcântara, destacou que o acordo foi respaldado judicialmente, após questionamentos sobre a legitimidade da atuação do cardeal na organização religiosa. “A questão é a seguinte: do ponto de vista legal, é possível o cardeal levando em consideração a legislação brasileira fazer uma intervenção numa organização religiosa, essa é a questão”, explicou o advogado.

Para Alcântara, o processo atualmente se encontra respaldado pela legislação civil brasileira, que reconhece a autoridade religiosa do cardeal dentro da organização. Ele também sublinhou que o Tribunal de Justiça confirmou a legitimidade da atuação do arcebispo sobre a Irmandade, considerando-a conforme o Código Civil e o Estatuto da Irmandade.

“O tribunal já disse: olha, do ponto de vista legal não há nenhum problema nem de forma nem de conteúdo, ponto”, declarou o advogado, garantindo que o processo foi pautado na legislação civil brasileira, com eventual apoio da legislação canônica, em observância ao pacto Brasil-Vaticano.