O jornalista, escritor e membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), Cícero Sandroni, faleceu nesta terça-feira (17), aos 90 anos. A informação foi confirmada pela própria ABL, que destacou sua relevante contribuição para o jornalismo e a literatura brasileira. Nascido em São Paulo, em 26 de fevereiro de 1935, Sandroni teve uma carreira que atravessou décadas e veículos de grande expressão, com passagens marcantes por Tribuna da Imprensa, Correio da Manhã, Jornal do Brasil e O Globo.

Autor de obras como O Diabo só chega ao meio-dia, Cícero Sandroni também teve papel ativo na vida cultural e institucional do país, sendo presidente da ABL entre 2008 e 2009. Era casado com Laura Constância de Athayde Sandroni, com quem teve cinco filhos: Carlos, Clara, Eduardo, Luciana e Paula. Também deixa um neto, Pedro.

Início da carreira e cobertura histórica

A trajetória de Sandroni no jornalismo começou em 1954, na Tribuna da Imprensa, periódico fundado por Carlos Lacerda. Na sequência, trabalhou no Correio da Manhã e se destacou na cobertura de política externa pelo Jornal do Brasil e O Globo, jornais que marcaram a imprensa brasileira nas décadas de 1960 e 1970.

Em abril de 1960, fez parte da equipe de jornalistas que cobriu a inauguração de Brasília, evento emblemático na história nacional. Na ocasião, foi convidado a integrar a equipe da Prefeitura do então recém-inaugurado Distrito Federal, onde assumiu a Secretaria de Imprensa.

Atuação durante o regime militar e empreendedorismo editorial

Durante o período do regime militar, Sandroni continuou atuando na imprensa, com passagens por O Cruzeiro e pela Tribuna da Imprensa, agora sob a direção de Hélio Fernandes. Demonstrando espírito empreendedor, fundou com Odylo Pacheco, Álvaro Pacheco e o diplomata Pedro Penner da Cunha uma empresa gráfica, que deu origem à revista Ficção, voltada à publicação de contos inéditos.

Posteriormente, fundou com o mesmo parceiro a editora Edinova, considerada inovadora na publicação de literatura latino-americana e obras do chamado nouveau roman francês, movimento literário de vanguarda que influenciou autores e leitores no Brasil.

Atuação em revistas e contribuição literária

Ao longo de sua carreira, Cícero Sandroni também colaborou com diversas revistas de circulação nacional, como Fatos e Fotos, Manchete, Tendência e Elle, além de escrever resenhas literárias no jornal O Globo. Seu interesse pela crítica literária e pela difusão da literatura nacional e internacional marcou sua atuação como editor e colunista.

Presença na Academia Brasileira de Letras

Em 2003, Sandroni foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras, assumindo a cadeira número 6. Durante sua trajetória na instituição, chegou à presidência entre 2008 e 2009, sucedendo o acadêmico Marcos Vinicios Vilaça. Sua gestão foi marcada pelo incentivo à aproximação da ABL com o público jovem e pela valorização da literatura contemporânea.

A ABL, em nota oficial, lamentou profundamente a morte do acadêmico, destacando seu “inestimável legado à cultura brasileira” e sua contribuição “tanto nas letras quanto no jornalismo”.

Legado

Cícero Sandroni deixa um legado multifacetado que atravessa o jornalismo político, a crítica literária, a edição e a atuação institucional na literatura brasileira. Seu trabalho ajudou a formar gerações de leitores e jornalistas, ao mesmo tempo em que participou ativamente de momentos históricos da vida nacional.