Metas para ano novo: por que falham e como torná-las mais eficazes
Psicólogo Sérgio Manzione aponta caminhos sobre prática, que é popular em diversas culturas
Para muitos, fazer listas de resoluções e metas para o fim do ano, refletindo sobre o que passou e projetando objetivos para os meses que virão, é quase que obrigatório quando o ciclo anual está prestes a virar. Essa prática, popular em diversas culturas, é vista como uma oportunidade de recomeçar, abandonando hábitos indesejados e estabelecendo objetivos pessoais ou profissionais.
Um levantamento realizado pela University of Scranton, nos Estados Unidos, revelou que cerca de 40% das pessoas criam resoluções de Ano Novo. Entretanto, apenas 8% conseguem cumpri-las ao longo do ano, o que levanta questões sobre a eficácia dessas listas e o que realmente motiva as pessoas a adotá-las.
Ano Novo cria um ‘divisor psicológico’
A necessidade de criar resoluções pode estar ligada a uma separação mental entre o “eu do passado” e o “eu do futuro”. Segundo o conceito de “Fresh Start Effect”, desenvolvido por pesquisadores como Hengchen Dai, eventos como o Ano Novo marcam um divisor psicológico que impulsiona a motivação.
O marco temporal funciona como um ponto de transição, permitindo que as pessoas vejam o futuro como uma oportunidade de crescimento e mudança, enquanto deixam os erros e fracassos no passado. Essa ruptura simbólica pode ser poderosa para estimular ações concretas, mas nem sempre é suficiente para garantir consistência.
Embora o Ano Novo seja encarado como um recomeço, é importante questionar se essa visão é realmente eficaz ou se atende a uma necessidade psicológica de controle sobre o tempo e a vida.
O cérebro humano tende a buscar organização e sentido em ciclos temporais, e datas como o 1º de janeiro oferecem uma sensação de renovação.
Contudo, o sucesso das resoluções depende mais de estratégias práticas – como dividir objetivos maiores em metas menores e monitorar progressos – do que da força simbólica da data em si.
Por que buscamos metas para o Ano Novo: análise psicológica
O início de um novo ano frequentemente simboliza um recomeço, representando uma página em branco para muitas pessoas. Segundo o psicólogo clínico Sérgio Manzione, essa prática se relaciona diretamente com a busca por controle e significado na vida.
“Psicologicamente, isso se conecta à busca por um senso de controle sobre a vida e pela necessidade de significado. Queremos acreditar que somos capazes de melhorar, mudar ou alcançar algo que ficou pendente”.
Essa necessidade está profundamente enraizada no simbolismo do ritual coletivo do Ano Novo, que, segundo Manzione, oferece a sensação de renovação.
“Esse período, carregado de simbolismo, nos convida a refletir sobre o que fizemos e o que ainda queremos fazer. É como se disséssemos a nós mesmos: ‘Agora vai!’”.
Contudo, ele alerta que a dificuldade em concretizar essas resoluções geralmente reside na tentativa de mudar tudo de uma vez, o que pode gerar frustração.
A mente e a percepção de tempo nas resoluções
Criar metas no início do ano reflete aspectos significativos do funcionamento mental e da percepção de tempo.
“Psicologicamente, o tempo não é apenas uma sequência de dias, mas algo que organizamos internamente, de acordo com nossas experiências, expectativas e desejos”, explica Manzione. O Ano Novo funciona como um marco que separa o ‘antes’ do ‘depois’, alimentando a esperança de que o futuro é moldável.
Essa prática também evidencia nossa capacidade de planejamento e imaginação de cenários futuros. Manzione explica que mesmo que, muitas vezes, essas metas não sejam cumpridas, elas mostram nossa resiliência e desejo de evolução, qualidades intrínsecas ao ser humano.
“A percepção do tempo influencia diretamente a forma como criamos essas metas. É como se nos perguntássemos: ‘O que estou fazendo com minha vida?’”
Recomeço: realidade ou ilusão?
Para Manzione, o conceito de recomeço associado ao Ano Novo é tanto relevante quanto uma construção social.
“A relevância está no fato de que somos movidos por símbolos e narrativas que dão significado à nossa existência. O Ano Novo é exatamente isso: um marco simbólico que nos ajuda a organizar o tempo e a enxergar possibilidades de mudança”.
Apesar do peso simbólico, Manzione destaca que a ideia de recomeço pode ser ilusória. A mudança de calendário, por si só, não transforma nossas circunstâncias.
“Alguém que estava infeliz em dezembro não se tornará subitamente realizado em janeiro. Isso pode gerar frustração, principalmente quando criamos expectativas irreais”.
Contudo, o psicólogo ressalta que o despertar da esperança é essencial para a saúde mental e o enfrentamento dos desafios da vida.
Marcos temporais e a organização do cérebro
O psicólogo explica que marcos como a virada do ano funcionam como ‘âncoras psicológicas‘, que ajudam a dividir o tempo em fases mais manejáveis, promovendo uma sensação de controle e clareza.
“Do ponto de vista neuropsicológico, esses marcos temporais ativam áreas como o córtex pré-frontal, que está envolvido no planejamento e na tomada de decisões. Quando pensamos no Ano Novo, nosso cérebro é estimulado a fazer avaliações do passado – o que deu certo, o que deu errado – e a projetar um futuro desejado. Esse processo de reflexão e planejamento aciona um mecanismo chamado ‘viés de reinício’, no qual percebemos o marco temporal como um ponto zero, uma chance de começar de novo”.
O efeito coletivo da virada do ano também é significativo. “O fato de ser uma tradição coletiva reforça nossa motivação. É como se disséssemos a nós mesmos: ‘Se todo mundo está pensando em mudanças, talvez eu também consiga.’”, observa Manzione.
No entanto, ele alerta que metas irrealistas podem levar à frustração, já que o cérebro prefere recompensas graduais e pequenas vitórias para manter a motivação.
Por que metas para o Ano Novo falham e como lidar com a frustração
O fracasso em cumprir metas de Ano Novo frequentemente decorre de expectativas irreais, perfeccionismo e impacto social.
“Muitas vezes, elas são exageradas, vagas ou desconectadas da nossa realidade. Isso cria um abismo entre o que queremos e o que conseguimos, alimentando um ciclo de culpa e desânimo”.
Outro fator é o ‘viés de otimismo’, que leva o cérebro a subestimar dificuldades e superestimar capacidades.
“Na virada do ano, a liberação de dopamina cria a sensação de que tudo é possível. Mas, quando os desafios aparecem, a motivação inicial diminui”.
Para evitar frustrações, Manzione recomenda estabelecer metas concretas e realistas, buscando pequenas vitórias para sustentar o progresso.
Além disso, o psicólogo destaca o papel negativo do perfeccionismo.
“Muitas pessoas colocam em suas metas uma expectativa de transformação completa: ‘Vou perder 15 quilos em dois meses’, ‘Vou parar de procrastinar totalmente’. Quando essa mudança não acontece de forma rápida ou linear, o perfeccionismo transforma o progresso parcial em uma sensação de derrota. Isso faz com que a pessoa desista por não alcançar a perfeição que havia imaginado”.
Ele sugere que as pessoas priorizem o movimento contínuo, mesmo que não seja perfeito, como chave para a superação dos obstáculos.
Esperança como força motriz
Apesar das dificuldades, Manzione enfatiza o valor da esperança contida nas resoluções.
“O mais interessante é que essa busca por resoluções também revela algo bonito sobre nós: a esperança. Mesmo com as dificuldades, queremos melhorar, queremos acreditar que um novo ano trará novas possibilidades”.
Para ele, o segredo está em substituir promessas grandiosas por metas concretizáveis.
“Talvez o segredo esteja em substituir promessas grandiosas por metas pequenas e concretas, que nos ajudem a avançar passo a passo, sem deixar o cansaço ou a frustração nos paralisar. Afinal, o que importa mesmo é o movimento, não a perfeição”.
Ele aponta que definir metas para o Ano Novo pode, sim, ser uma forma de lidar com o medo de fracasso ou com a sensação de estagnação.
“Esse comportamento reflete aspectos importantes do funcionamento da nossa psique. Psicologicamente, ele é um mecanismo de enfrentamento: projetamos metas para criar a ilusão de controle sobre o futuro e minimizar a ansiedade relacionada ao que sentimos estar fora de nosso alcance. Porém, o impacto disso na saúde mental depende de como essas resoluções são criadas e geridas ao longo do ano”.
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