A Polícia Civil da Bahia prendeu, na terça-feira (17), um jogador de futebol suspeito de ter estuprado, assaltado e extorquido cerca de 16 mulheres. A prisão aconteceu na cidade de Feira de Santana, a 100 km de Salvador. O suspeito tem 25 anos e atualmente joga por um time de futebol de Goiás. Em coletiva de imprensa realizada na manhã desta quarta-feira (19), a Polícia Civil deu detalhes sobre as investigações que levaram à prisão do jogador, confirmando que ele não agiu sozinho.

O criminoso, identificado como Carlos Eduardo Bastos dos Santos, apelidado de “Tico Baiano”, era acusado de crimes contra 11 mulheres. No entanto, no decorrer das investigações, mais cinco vítimas se apresentaram após a prisão do jogador. Segundo a Polícia Civil da Bahia, ele passou a ser investigado em junho do ano passado, quando as primeiras denúncias sobre as agressões e crimes foram registradas.

Atleta acusado dos crimes

A Polícia Civil da Bahia confirmou, durante a coletiva de imprensa, que se tratava de Carlos Eduardo Bastos, jogador profissional de futebol, que é natural de Feira de Santana e atualmente joga pelo Clube Recreativo e Atlético Catalano (CRAC), time da cidade de Catalão, no estado de Goiás. Ele foi anunciado como novo contratado pelo time no último dia 1º de março e chegou a disputar o Campeonato Goiano neste ano.

Além do CRAC, o suspeito tem passagens por times baianos, como Fluminense de Feira, Bahia de Feira e Barcelona de Ilhéus. O mandado de prisão foi cumprido pela 2ª Delegacia Territorial de Feira de Santana. Até o momento, o time de Catalão, pelo qual o suspeito joga, ainda não se manifestou publicamente sobre o caso.

Modus operandi

De acordo com Yves Correia, coordenador da 1ª Coorpin de Feira de Santana, os crimes foram cometidos contra mulheres com idades entre 18 e 43 anos. Todas eram estudantes universitárias ou garotas de programa residentes na cidade de Feira de Santana.

Quando se tratava das garotas de programa, o jogador se passava por cliente e marcava encontros com elas. No momento do encontro, ele utilizava uma arma de fogo para extorquir e roubar as mulheres, obrigando-as a fazer transferências bancárias, além de roubar quantias em espécie.

Já com as estudantes, o atleta buscava universitárias que moravam sozinhas próximas às instituições de ensino superior. Segundo Yves, o suspeito costumava rondar a região da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs) em busca das vítimas. Ainda conforme o investigador, uma das vítimas foi roubada enquanto saía de casa, enquanto outras duas mulheres relataram que tiveram a casa invadida pelo jogador, que as roubou e as violentou sexualmente.

Investigações

Após ser preso, o jogador passou por acareação e foi submetido a exames de corpo de delito, além de outros exames de praxe. O atleta também foi interrogado sobre os crimes pelos quais está sendo acusado e permanece sob custódia, à disposição do Poder Judiciário. No entanto, as investigações sobre o caso continuam, buscando novas informações sobre os crimes e possíveis novas vítimas, em vista do surgimento de novas denúncias contra o jogador.

Segundo o coordenador da Coorpin, a prisão de Carlos Eduardo ocorreu na rua, próximo à residência dele em Feira de Santana. O investigador contou ainda que foram realizadas buscas de apreensão, mas a arma de fogo usada nos crimes não foi encontrada.

“Não achamos a arma de fogo, a princípio, mas, ao mesmo tempo, a Polícia Civil já apreendeu o celular dele e, lógico, ele será submetido à perícia, à extração de dados, e seguiremos em direção aos demais comparsas, porque sabemos que ele não agiu sozinho”, declarou.

O investigador também confirmou que já descartou a possibilidade dos dois comparsas serem atletas profissionais, mas confirmou que são moradores de Feira de Santana e que estão ligados a Tico.

“Nós sabemos que Feira de Santana tem uma universidade importantíssima, onde jovens saem de suas residências, tanto da capital baiana quanto de outros municípios, para cursar naquela cidade. E, diante da fragilidade por estarem longe de seus familiares e em um estado de vulnerabilidade bem maior, tornam-se alvos fáceis”, disse Rogéria Araújo, diretora do Departamento de Polícia do Interior (Depin), sobre as vítimas.

Conforme a delegada, a Polícia Civil já recebeu relatos de outras cidades do interior baiano e continuará buscando novas vítimas. “É importante que consigamos identificar outras para que o autor responda perante a lei penal pelos atos ilegais que cometeu”, completou.

Rogéria confirmou que os relatos das vítimas apontam que o jogador começou a praticar os crimes em 2022. No entanto, a denúncia só aconteceu em 2024 pelo medo, além da vergonha do abuso sexual que as vítimas sofreram.

Dados do feminicídio na Bahia

A Secretaria da Segurança Pública do Estado (SSP-BA) anunciou, em janeiro, que a Bahia registrou 106 casos de feminicídio entre janeiro e dezembro de 2024. Os dados representam uma redução de 7,8% nas mortes de mulheres, comparado ao ano anterior, quando ocorreram 115 mortes por esse tipo de crime.

De acordo com a SSP-BA, a redução dos casos se deve ao fortalecimento de políticas públicas voltadas à proteção das mulheres, especialmente por meio das ações do Departamento de Proteção à Mulher, Cidadania e Pessoas Vulneráveis (DPMCV) e do Batalhão Ronda Maria da Penha, que ampliaram sua atuação em todo o Estado.

Entretanto, segundo o relatório Feminicídios em 2023, divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 140 mulheres são assassinadas diariamente por familiares ao redor do mundo, o equivalente a uma vítima a cada 10 minutos. No Brasil, o relatório aponta que uma mulher é morta a cada seis horas, tornando o país uma das nações com os maiores índices de feminicídio.