A confirmação de um caso de gripe aviária em uma granja comercial no município de Montenegro, no Rio Grande do Sul, levou 24 países a suspenderem, a partir desta quarta-feira (28), a importação de carne de frango brasileira. O episódio, confirmado na última quinta-feira (15), pelo ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, desencadeou reações automáticas de parceiros comerciais internacionais, com base em protocolos sanitários firmados previamente com o Brasil.

As restrições adotadas variam conforme o país importador. Em alguns casos, o embargo afeta apenas o estado gaúcho, em outros está restrito ao município onde o foco foi registrado ou a um raio de 10 quilômetros ao redor da granja afetada. Há também situações em que o veto se estende a todo o território nacional, ainda que temporariamente.

Exportações seguem para maioria dos destinos

O Brasil mantém relações comerciais com cerca de 160 nações no setor agropecuário, sendo o maior exportador mundial de carne de frango. Segundo dados atualizados do Ministério da Agricultura, 128 países seguem com os mercados abertos à carne de frango brasileira — inclusive àquela produzida no Rio Grande do Sul — o que indica que a maioria dos parceiros confia nos mecanismos de controle sanitário do país.

Essas suspensões, no entanto, ocorrem de forma automática, conforme os termos estabelecidos nos processos de abertura de mercado, que exigem a interrupção das importações sempre que houver confirmação de doenças infecciosas em unidades comerciais.

Governo tenta conter impactos e negociar regionalização

O Ministério da Agricultura vem adotando uma série de medidas para mitigar os prejuízos comerciais. A principal estratégia envolve a negociação de acordos bilaterais que permitam a chamada “regionalização” das restrições — ou seja, limitar o embargo apenas às áreas efetivamente impactadas pela doença, mantendo abertas as exportações das demais regiões.

O Japão foi citado como exemplo bem-sucedido de regionalização: apesar do foco no Rio Grande do Sul, o país asiático manteve as compras a partir de outras regiões brasileiras. A expectativa agora é ampliar esse modelo a outras nações, como a Coreia do Sul, que já está em tratativas com o governo brasileiro.

Retomada depende do vazio sanitário

Outro fator essencial para a normalização das exportações é o cumprimento do chamado “vazio sanitário” — um período de 25 dias sem registros adicionais da doença, exigido para que o país volte a ser considerado livre da gripe aviária. A contagem regressiva já está em curso e, segundo o Ministério da Agricultura, faltam 22 dias para o término do prazo.

“Estamos prestando informações a todos os países. Agora temos de ter a paciência de passar pelos 22 dias finais do vazio sanitário para que possamos anunciar o Brasil livre de gripe aviária e avançar na repactuação com todos os países que restringiram”, afirmou o ministro Carlos Fávaro.

O governo optou por não solicitar a regionalização formal antes da conclusão desse período, para fortalecer tecnicamente sua posição nas negociações internacionais.

Efeitos internos devem ser controlados

No mercado doméstico, a suspensão das exportações tende a gerar um redirecionamento temporário da produção, mas não há risco de desabastecimento. O Brasil consome internamente cerca de 70% de toda a carne de frango produzida, o que reduz o impacto imediato sobre o setor produtivo.

Além disso, o excedente de oferta no mercado interno pode até provocar uma queda momentânea nos preços ao consumidor, segundo analistas.

Fiscalização intensificada nas regiões afetadas

Desde a confirmação do foco em Montenegro, equipes técnicas do Ministério da Agricultura foram deslocadas para o local com o objetivo de conter a disseminação do vírus. As ações incluem o isolamento da granja, controle de movimentação de aves, fiscalização sanitária em unidades vizinhas e reforço nas ações de vigilância epidemiológica em outras regiões do país.

Essas medidas são fundamentais para manter a confiança dos países que continuam importando a carne de frango brasileira e para criar as condições necessárias para a retomada dos embarques suspensos. O governo federal segue monitorando a situação em tempo real e pretende intensificar os diálogos com os países importadores assim que o vazio sanitário for oficialmente encerrado.