Ex-diretora de presídio em Eunápolis é acusada de usar detentos para fraudar votos e favorecer políticos

Joneuma Neres está presa por, supostamente, facilitar fuga em massa e teria articulado esquema com facção criminosa ligada ao tráfico


Redação
Redação 04/07/2025 17:30 • Cidades
Ex-diretora de presídio em Eunápolis é acusada de usar detentos para fraudar votos e favorecer políticos - Reprodução/TV Bahia

As investigações do Ministério Público da Bahia (MP-BA) revelaram, nesta sexta-feira (4), um esquema de compra de votos que teria sido articulado por Joneuma Silva Neres, ex-diretora do Conjunto Penal de Eunápolis, no extremo sul do estado. Segundo o inquérito, ela negociava, junto com o detento foragido Ednaldo Pereira de Souza, conhecido como “Dadá”, a compra de votos por R$ 100 em benefício do ex-deputado federal Uldurico Pinto Jr. (MDB) e do então candidato a vereador de Eunápolis, Alberto Cley Santos Lima (PSD), o “Cley da Autoescola”.

O esquema funcionava com o fornecimento de “eleitores cativos”, que incluíam presos provisórios ligados a facções e seus familiares. Em troca, Joneuma receberia apoio político para continuar à frente do presídio, garantindo a influência da facção criminosa dentro da unidade prisional. Os encontros entre os criminosos e os políticos teriam ocorrido dentro da prisão, com o aval da gestora, que manipulava câmeras e registros para evitar detecção.

Facção expandiu poder com apoio de nomeações estratégicas

O MP aponta que Joneuma utilizou sua proximidade com Uldurico Jr., seu suposto padrinho político, para direcionar nomeações e demissões no Conjunto Penal de Eunápolis. O objetivo seria substituir funcionários que não concordavam com as irregularidades por aliados da facção, incluindo a própria irmã da ex-diretora, Jocelma Neres, que passou a atuar como advogada da organização criminosa no presídio.

Relatórios do MP indicam que a Seap (Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização) foi omissa diante de diversas denúncias. Mesmo após alertas sobre regalias concedidas a detentos e presença de equipamentos não autorizados nas celas, a secretaria manteve Joneuma no cargo por nove meses. Ela foi a primeira mulher a ocupar a direção de uma unidade prisional na Bahia, mas sua gestão é marcada por suspeitas de corrupção, abuso de poder e ligação direta com o crime organizado.

Regalias, fuga em massa e romance com líder de facção

A ex-diretora é acusada de permitir entrada de itens proibidos como freezers, ventiladores e até sanduicheiras para presos ligados à facção Primeiro Comando de Eunápolis (PCE), que tem conexões com o Comando Vermelho, do Rio de Janeiro. Além disso, as visitas de familiares de Dadá ocorriam sem inspeção, mediante autorização direta de Joneuma.

Depoimentos também indicam que a ex-diretora manteve um relacionamento amoroso com o detento, com encontros privados na sala de videoconferência do presídio. A relação teria facilitado a fuga de 16 detentos em dezembro de 2024. Eles utilizaram uma furadeira para abrir um buraco no teto da cela 44 e fugiram em veículos blindados, armados com fuzis. A ferramenta usada na fuga, segundo um ex-servidor, teria sido entregue por Joneuma e guardada inicialmente em sua própria sala.

Influência política e tentativa de apoio financeiro

Além das irregularidades dentro da gestão prisional, Joneuma também entrou na Justiça com pedido de pensão contra o ex-deputado Uldurico Jr., alegando que ele seria o pai de seu filho, nascido após sua prisão. Atualmente, ela cumpre prisão preventiva no Conjunto Penal de Itabuna, onde permanece com o bebê na cela.

Sua irmã e advogada, Jocelma Neres, nega as acusações de relacionamento com Dadá e afirma que a ex-diretora está sendo vítima de perseguição. A defesa diz ainda que não há provas de que Joneuma tenha recebido valores em troca de favores prestados à facção ou aos políticos.

Seap nega omissão, mas admite reforço no presídio

Em nota, a Seap afirmou que nunca compactuou com regalias dentro das unidades prisionais e que tem colaborado com as investigações do MP. Desde maio deste ano, a Força Penal Nacional foi enviada para atuar no Conjunto Penal de Eunápolis após um atentado que teria como alvo o novo diretor Jorge Magno Alves. Ele sobreviveu ao ataque, mas um servidor foi gravemente ferido.

As apurações do MP continuam em andamento e, até o momento, 18 pessoas foram denunciadas por envolvimento com o esquema, incluindo ex-servidores e integrantes da facção. A investigação aponta que o crime organizado encontrou respaldo dentro da estrutura estatal, favorecido por interesses políticos e omissão institucional.

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