O sepultamento do médium e líder espírita Divaldo Franco será realizado, nesta quinta-feira (15), às 10h, no Cemitério Bosque da Paz, em Salvador. A cerimônia será aberta ao público, como desejava o fundador da Mansão do Caminho. A escolha do local foi feita para acomodar o grande número de fiéis, amigos e admiradores que quiserem prestar as últimas homenagens ao líder religioso.

O corpo de Divaldo foi velado ao longo desta última quarta-feira (14), no ginásio de esportes da Mansão do Caminho, instituição filantrópica fundada por ele em 1952. Em respeito ao seu pedido, o caixão permaneceu fechado, como forma de preservar “a memória sorridente” que deixou entre aqueles com quem conviveu.

Último pedido foi por simplicidade e doações

Mesmo no fim da vida, Divaldo Franco manteve a coerência com sua trajetória marcada pela humildade e doação ao próximo. Ele pediu que o velório fosse simples, sem cortejo em carro aberto e sem flores. Em vez disso, sugeriu que os recursos fossem convertidos em doações para a Mansão do Caminho, que hoje atende milhares de pessoas em situação de vulnerabilidade social.

“Ele sempre falava de amor e ele nos demonstrou na prática o que é pertencer ao amor de alguém. Que não é só no laço sanguíneo, mas é no coração”, disse Maria da Paz, acolhida aos 4 anos de idade.

Comoção e homenagens oficiais

O falecimento de Divaldo, ocorrido às 21h45 da terça-feira (13), gerou forte comoção. Na Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA), os trabalhos foram interrompidos para um minuto de silêncio proposto pelo deputado Fabrício Falcão (PCdoB). “Uma figura universal, que dedicou sua vida ao espiritismo e ao humanismo, levando palavras de fé, amor e paz por onde passou”, declarou.

A presidente da Casa, Ivana Bastos (PSD), decretou luto oficial de três dias. Na Câmara Municipal de Salvador (CMS), o presidente Carlos Muniz (PSDB) também abriu os trabalhos com homenagem, seguida por falas emocionadas como a da vereadora Marcelle Moraes (União Brasil):

“Não posso dizer que foi uma partida triste, porque eu tenho certeza de que o céu está em festa com a chegada desse grande líder espiritual, que deixa um legado de amor, respeito e doação ao próximo aqui na Terra.”

Autoridades como o governador Jerônimo Rodrigues (PT), o prefeito Bruno Reis (União Brasil), artistas e instituições esportivas também manifestaram pesar pela morte do médium nas redes sociais.

Trajetória e legado espiritual

Nascido em Feira de Santana em 1927, Divaldo Franco teve os primeiros sinais de mediunidade ainda na infância. Aos 20 anos, psicografou sua primeira mensagem e não parou mais. Ao longo da vida, publicou 263 livros mediúnicos, muitos deles ditados pelo espírito Joanna de Ângelis, traduzidos para mais de 17 idiomas. Viajou o mundo com mais de 20 mil palestras, e foi reconhecido como Embaixador da Paz por diversas entidades internacionais.

“Todos esperam que a paz venha dos governos, que decrete. Nunca se terá paz por decreto, é a transformação moral do indivíduo para a melhor. Quando o indivíduo se melhora, o mundo se torna mais feliz”, dizia Divaldo.

Mesmo com tantas honrarias, recusava homenagens individuais, preferindo que os reconhecimentos fossem direcionados à causa da fraternidade.

Mansão do Caminho: um projeto de amor que continua

O maior legado de Divaldo Franco talvez seja a Mansão do Caminho, que hoje oferece educação, assistência médica, social e espiritual para mais de 1,6 mil crianças e adolescentes, além de realizar cerca de 5 mil atendimentos diários. O presidente da instituição, Mário Sérgio Almeida, garantiu que o trabalho continuará firme.

“Ele preparou o caminho e o caminho não parou com ele. Então, o bem não para. O bem é um longo caminho, e nós vamos continuar no bem, ampliando o nosso serviço e atendendo a comunidade toda.”

Problemas de saúde e últimos dias

Desde novembro de 2023, Divaldo enfrentava um câncer na bexiga. A doença foi descoberta após desconfortos urinários, e o médium passou por tratamentos intercalados com internações. Em abril deste ano, chegou a entrar em remissão, mas passou a enfrentar dificuldades para absorver nutrientes, sendo alimentado por sonda.

Mesmo debilitado, permaneceu lúcido até os últimos momentos, sempre amparado por familiares, amigos e pelos “filhos do coração” que criou ao longo de décadas. “Nós somos filhos do amor. Homens e mulheres que largaram suas vidas, seus afazeres, seus filhos, para cuidar dos filhos alheios”, afirmou Edilson Pereira da Silva, um dos acolhidos por Divaldo na infância.