Dia do jornalista: luta invisível contra fake news que ameaça democracia
Profissionais da informação apontam caminhos para garantir apuração de qualidade em meio à avalanche de conteúdos falsos

No Dia dos Jornalistas, celebrado nesta segunda-feira (7), a discussão sobre o papel da imprensa profissional ganha ainda mais relevância diante do crescente avanço das fake news no ambiente digital. O confronto entre conteúdos produzidos com base em técnicas jornalísticas e publicações desinformativas marca um dos principais embates informacionais da atualidade.
De um lado, circulam nas redes sociais textos com aparência de denúncias, vídeos amadores e postagens virais que se passam por informação. Do outro, reportagens apuradas, checadas e assinadas por profissionais comprometidos com a veracidade dos fatos. Para especialistas, mais do que uma disputa entre formatos, trata-se de um embate que envolve o direito humano à informação e a saúde da democracia. As informações são da Agência Brasil.
Apelo da desinformação no ambiente digital
De acordo com a pesquisadora Sílvia Dal Ben, doutoranda na Universidade do Texas, a popularidade de conteúdos enganosos também tem raízes históricas. Até o final do século 20, o acesso a conteúdos jornalísticos era limitado por fatores econômicos e tecnológicos. Com a Internet, houve uma democratização dos meios de produção e distribuição da informação.
“Essa democratização dos meios de produção e da mídia, nos últimos 30 anos, abriu espaço para públicos, leitores, espectadores, terem contato com mensagens e conteúdos jornalísticos de comunicação e de mídia que antes não tinham”, avalia.
No entanto, essa abertura também favoreceu a disseminação de conteúdos manipuladores.
“É como se a gente vivesse hoje numa Torre de Babel. As pessoas se comunicam, têm muita informação, mas parece que elas não se entendem”, afirma.
Superficialidade como obstáculo
Sílvia critica a adaptação do jornalismo ao imediatismo da internet. “A gente abriu espaço para uma alfabetização de conteúdo digital muito superficial. Nós, jornalistas, precisamos mudar essa mentalidade e as práticas jornalísticas de ficar produzindo notinhas mal apuradas e pouco aprofundadas”.
Para ela, é preciso garantir estrutura para que jornalistas possam oferecer conteúdo relevante e de qualidade.
“A base do jornalismo é informação checada. Com boa apuração, informação checada e de qualidade”.
Importância da estética e da linguagem
A professora Fabiana Moraes, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), defende que o jornalismo também precisa incorporar aspectos visuais e linguísticos das fake news, mas com responsabilidade. “A estética é a forma, mas [é necessário] preenchê-la com um conteúdo profissional, bem escrito e apurado. Ou seja, jornalismo”.
Ela lembra que há uma “densidade de disputa” que envolve sensacionalismo e desinformação, especialmente nas redes sociais. É nesse campo que as fake news prosperam, explorando o “espírito de achaque”, como define.
Distribuição estratégica e alfabetização midiática
Para enfrentar o problema, Sílvia Dal Ben propõe mudanças na forma de distribuir conteúdo. “Os jornalistas e os meios de comunicação têm que utilizar as mesmas ferramentas que os influenciadores e as personalidades de redes sociais. E distribuir os seus conteúdos de qualidade em diferentes formatos”.
Thaís de Mendonça Jorge, professora da Universidade de Brasília (UnB), complementa ao afirmar que a linguagem deve ser ajustada à realidade do público. “Nós temos que interpretar mais e fazê-las compreender como aquele tema pode ser interessante para a vida delas”.
Ela organizou o livro Desinformação – O mal do século, fruto de parceria entre a UnB e o Supremo Tribunal Federal (STF), e defende que a indústria da desinformação é estruturada para impactar públicos vulneráveis. “Eles usam esse artifício do bombardeamento. Muita gente não tem instrução e se deixa levar por essa onda”.
Caminhos possíveis para reconquistar confiança
Segundo o pesquisador Josenildo Guerra, da Universidade Federal de Sergipe (UFS), o desafio está em combinar conteúdo de qualidade com formatos acessíveis. “É muito desafiador, porque as fake news operam com informações truncadas e de certo apelo que se tornam objetos de consumo fácil”.
Ele sugere mais investimento em pesquisas para desenvolver novos produtos jornalísticos que unam precisão e atratividade.
Jornalismo como base da democracia
Para a presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Samira Castro, o compromisso com a verdade é o diferencial do jornalismo. “O jornalismo profissional tem uma força que as fake news não têm: o compromisso com a verdade, com a apuração séria, com a escuta plural e com a responsabilidade pública”.
“A credibilidade, construída com ética e consistência, é o nosso maior trunfo nesse duelo”, conclui a presidente da Fenaj.
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