A Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou, nesta quinta-feira (24), a revisão das projeções para o desempenho da economia brasileira em 2025. Segundo o Informe Conjuntural do 1º trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) deve crescer 2,3%, ligeiramente abaixo dos 2,4% previstos anteriormente. A inflação medida pelo IPCA deve atingir 5,1%, superando o teto da meta estabelecida para o ano.

A estimativa de inflação foi revista em alta devido à combinação de fatores como a depreciação cambial ocorrida em 2024 e o aquecimento da atividade econômica no final do ano passado. Nesse contexto, a política monetária deverá ser mais restritiva. A expectativa é de que a taxa Selic alcance 14,75% em maio e permaneça nesse patamar até dezembro.

“A principal razão para a menor atividade econômica é a política monetária, que será mais contracionista em 2025”, destaca o documento da CNI. Além da taxa básica de juros mais elevada, a entidade projeta um recuo no ritmo de expansão do crédito, do consumo e do investimento no país.

Indústria prevê crescimento modesto

O diretor de Economia da CNI, Mário Sérgio Telles, explicou a revisão dos números. “Reduzimos um pouco a projeção de crescimento do país para esse ano, porque a desaceleração da economia está sendo mais forte do que a CNI esperava e porque o Banco Central dá sinais de que vai elevar ainda mais a taxa Selic”, afirmou.

Segundo a entidade, o crescimento estimado do PIB em 2025 será o menor dos últimos cinco anos e terá reflexo direto na indústria. Após crescer 3,3% em 2024, o setor industrial deverá registrar alta de apenas 2,0% neste ano. A indústria da transformação terá desaceleração mais acentuada, passando de 3,8% para 1,9%.

No segmento de serviços, a expansão projetada é de 1,8%, ante 1,9% estimado anteriormente. Já o setor agropecuário deve apresentar crescimento robusto de 5,5% em 2025, superando a estimativa anterior de 4,2%.

O cenário econômico mais desafiador previsto pela CNI se explica, em parte, pelos juros reais mais altos. A taxa real, que era de 7,0% ao ano em dezembro de 2024, deve atingir 9,8% ao fim de 2025, superando em 4,8 pontos percentuais a taxa neutra estimada pelo Banco Central.

O documento ressalta que, além dos juros elevados, haverá menor impulso fiscal, menor expansão da massa de rendimentos e uma desaceleração no crescimento do emprego. Isso tende a impactar negativamente o consumo das famílias e os investimentos produtivos.

“A expectativa da CNI é que a inflação só deverá ceder na segunda metade do ano e, como os juros permanecerão elevados por todo 2025, a expansão do crédito será menor”, informa a análise.

Inflação será puxada por serviços e preços administrados

A CNI detalha ainda o comportamento dos componentes do IPCA. A projeção é de que os preços de industriais e serviços apresentem aceleração ao longo do ano. Já o grupo alimentos, embora registre desaceleração, continuará exercendo forte pressão sobre o índice.

“Entre os grupos que compõem o IPCA, a CNI projeta a aceleração dos preços de Industriais e de Serviços, por um lado, e a desaceleração dos preços de Alimentos, por outro. Contudo, é importante frisar que, mesmo com a desaceleração, o grupo Alimentos continuará a ser a principal fonte de pressão sobre a inflação em 2025”, aponta o documento.

No caso dos preços administrados, a entidade prevê um desempenho semelhante ao observado em 2024, sem grandes variações.

Alta da Selic deve se encerrar em maio, segundo a entidade

Com base no atual cenário macroeconômico, a CNI projeta apenas mais uma elevação da taxa Selic em 2025, de 0,5 ponto percentual. Assim, a taxa básica atingiria 14,75% em maio, permanecendo nesse nível até o final do ano. A entidade acredita que o ciclo de alta de juros será encerrado ainda no primeiro semestre.

Essa projeção se apoia na expectativa de que a economia continuará desacelerando, com menor impulso fiscal e uma possível valorização do real frente ao dólar ao longo do segundo semestre.

A avaliação é de que esse cenário deverá ser suficiente para conter o avanço da inflação, mesmo que de forma gradual, ao longo dos próximos meses.

Risco externo cresce com tarifaço nos EUA e incertezas globais

O informe também dedica atenção ao cenário internacional. A CNI alerta que as incertezas aumentaram após o governo dos Estados Unidos, sob Donald Trump, anunciar a elevação de tarifas sobre produtos importados, o chamado “tarifaço”.

Segundo o documento, os impactos iniciais devem ser sentidos na inflação norte-americana, com elevação dos preços ao consumidor e repasse de custos na indústria. “Os bens de consumo sofrerão elevação de preços, prejudicando diretamente os consumidores americanos”, alerta a entidade.

Além disso, a alta dos custos de insumos importados deve afetar a competitividade das empresas dos EUA, com possíveis repercussões sobre o comércio internacional e o crescimento global.

No campo fiscal, a CNI estima que o governo federal continuará operando com déficit em 2025. A projeção de resultado primário é de um rombo de R$ 63,3 bilhões, o equivalente a 0,5% do PIB.

Contudo, esse valor inclui R$ 44,1 bilhões em precatórios, que não entram no cálculo oficial da meta fiscal. Descontado esse montante, o déficit seria de R$ 19,2 bilhões (0,2% do PIB), dentro da margem de tolerância prevista, que admite até R$ 31 bilhões de resultado negativo.

A entidade também destaca que a política fiscal será menos expansionista neste ano. A expectativa é de menor crescimento nas despesas e arrecadação, com uma economia de R$ 19 bilhões prevista a partir do pacote fiscal aprovado no final de 2024.