Brasil revela desigualdades salariais: sete em cada dez trabalhadores recebem até dois salários mínimos

Pesquisa inédita do IBGE mostra disparidades regionais, de gênero e raça no mercado de trabalho e aponta cenário crítico também na Bahia


Redação
Estadão Conteúdo e Redação 09/10/2025 13:40 • Cidades
Brasil revela desigualdades salariais: sete em cada dez trabalhadores recebem até dois salários mínimos - Marcello Casal Jr./Agência Brasil
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Os dados preliminares do Censo Demográfico 2022 sobre Trabalho e Rendimento, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira (9), evidenciam que sete em cada dez trabalhadores brasileiros recebiam até dois salários mínimos em 2022 — um reflexo das desigualdades persistentes no mercado de trabalho. Na Bahia, a situação é ainda mais alarmante: 48,5% da população vivia com até meio salário mínimo mensal (R$ 606) naquele ano. Esse dado revela que quase metade dos baianos dependia de uma renda inferior a R$ 606 para sobreviver.

Em números gerais, 68% dos brasileiros empregados recebiam até dois salários mínimos, enquanto apenas 0,7% dos trabalhadores tinham rendimento superior a 20 salários mínimos. Entre esses trabalhadores, 11,2% recebiam até R$ 606 por mês, o equivalente a metade do salário mínimo vigente em 2022 (R$ 1.212). Mais de um terço dos trabalhadores (35,3%) ganhava até um salário mínimo mensal, reforçando a dimensão do problema da baixa remuneração no país.

Desigualdade por gênero e raça

O levantamento do IBGE também aponta diferenças marcantes entre gêneros: o rendimento médio mensal dos homens foi de R$ 3.115, 24,3% superior ao das mulheres, que recebiam, em média, R$ 2.506. Apesar das mulheres apresentarem maior nível de escolaridade — 28,9% tinham ensino superior completo contra 17,3% dos homens —, os homens recebiam salários superiores em todas as faixas educacionais.

A disparidade mais expressiva ocorreu entre os profissionais com formação superior completa: homens recebiam R$ 7.347, enquanto mulheres recebiam R$ 4.591.

No recorte racial, o rendimento médio também revelou desigualdades profundas:

  • Pardos: R$ 2.186
  • Pretos: R$ 2.061
  • Indígenas: R$ 1.683
  • Brancos: R$ 3.659
  • Amarelos: R$ 5.942

Entre quem possuía ensino superior completo, a diferença se acentuava ainda mais: amarelos ganhavam R$ 8.411, brancos R$ 6.547, pardos R$ 4.559, pretos R$ 4.175 e indígenas R$ 3.799.

Ocupação no mercado de trabalho e disparidades regionais

Em 2022, apenas 50 municípios brasileiros registraram nível de ocupação igual ou superior a 70%, ou seja, mais de sete em cada dez pessoas com idade de trabalhar estavam empregadas. Por outro lado, em 330 municípios o índice caiu para 30% ou menos, significando que sete em cada dez pessoas em idade laboral estavam desocupadas ou fora da força de trabalho.

Os municípios com maiores níveis de ocupação foram:

  • Fernando de Noronha (PE): 82,9%
  • Vila Maria (RS): 78,4%
  • Serra Nova Dourada (MT): 78,2%

A média nacional foi de 53,5%.

Renda média por município: disparidades extremas

O município de Nova Lima (MG) registrou a maior renda média do trabalho no país em 2022, com R$ 6.929 mensais, valor 813% superior ao registrado em Cachoeira Grande (MA), onde a média foi de apenas R$ 759. Entre os municípios com maiores rendimentos estavam cidades do Sudeste e Sul, como São Caetano do Sul (SP), Santana de Parnaíba (SP) e Petrolândia (SC). Já os menores rendimentos concentraram-se no Nordeste, especialmente no Maranhão e Piauí.

A média nacional foi de R$ 2.851 e, em 520 cidades brasileiras (9,3% do total), a renda do trabalho era inferior ao salário mínimo vigente.

Renda domiciliar e desigualdade per capita

Em termos de renda domiciliar per capita, o cenário também é desigual: a média nacional foi de R$ 1.638 por pessoa em 2022. Nova Lima (MG) liderou novamente com R$ 4.300, enquanto Uiramutã (RR) registrou o menor valor: R$ 289 mensais, cerca de R$ 9,63 por dia.

O Maranhão apresentou a menor renda média per capita entre estados (R$ 900), enquanto o Distrito Federal obteve a maior (R$ 2.999). Entre raças, indígenas registraram a menor renda (R$ 669), seguidos de pardos e pretos, enquanto brancos e amarelos recebiam quase o triplo.

Quase um terço da população (31,8%) vivia com até meio salário mínimo, e 13,3% recebiam até um quarto do salário mínimo. Essas proporções aumentavam no Norte (23,3%) e Nordeste (22,4%).

O índice de Gini — indicador que mede desigualdade de renda — foi de 0,542 no Brasil, refletindo alta concentração de riqueza, especialmente no Distrito Federal (0,584) e Rio de Janeiro (0,574).

Deslocamento para o trabalho

Outro dado relevante é o tempo gasto para chegar ao trabalho. Em 2022, 1,3 milhão de brasileiros levavam mais de duas horas diariamente para chegar ao emprego. A maior proporção estava no Rio de Janeiro (5,6%) e São Paulo (3,4%), sendo que São Paulo tinha mais trabalhadores nessa condição em números absolutos.

O transporte mais usado foi o automóvel (32,3%), seguido por ônibus (21,4%), caminhada (17,8%) e motocicleta (16,4%).

Desigualdade no Brasil e impacto na Bahia

O levantamento do IBGE deixa claro que o mercado de trabalho brasileiro continua profundamente desigual, com diferenças gritantes entre regiões, gêneros, raças e níveis educacionais. Essas desigualdades impactam diretamente a qualidade de vida e a capacidade de consumo da população. Na Bahia, quase metade da população sobrevive com menos da metade do salário mínimo, refletindo um quadro preocupante de pobreza e desigualdade no Nordeste brasileiro.

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Equipe de jornalistas e editores do portal Muita Informação

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