Atlas da Violência 2025: Bahia tem maior número de homicídios do Brasil e supera Rio em 55%

Estado enfrenta crise de segurança com altos índices de mortes entre jovens, negros e mulheres


Daniel Freitas
Daniel Freitas 12/05/2025 13:40 • Cidades
Atlas da Violência 2025: Bahia tem maior número de homicídios do Brasil e supera Rio em 55% - Paulo Pinto/Agência Brasil

A Bahia foi o estado com o maior número absoluto de homicídios registrados no Brasil em 2023, de acordo com o Atlas da Violência 2025 divulgado, nesta segunda-feira (12), pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). Foram 6.616 mortes violentas intencionais, número que coloca o Estado na liderança nacional, com 55,1% a mais ao Rio de Janeiro, que aparece na segunda posição do ranking.

O relatório aponta que, embora o país tenha apresentado uma leve queda no número total de homicídios, a violência letal continua concentrada em determinadas regiões, especialmente no Nordeste. Nesse cenário, a Bahia se destaca negativamente por reunir os maiores números absolutos de assassinatos, incluindo jovens, mulheres e a população negra. O Atlas também chama atenção para a violência contra indígenas e pessoas LGBTQIAPN+, o que evidencia a persistência de padrões estruturais de discriminação e exclusão social.

Violência segue alta no Brasil, apesar de leve queda nas taxas de homicídios

Embora o Brasil tenha registrado uma leve redução no número total de homicídios em 2023, com 45.747 mortes violentas contabilizadas, cerca de 125 por dia, os dados do Atlas da Violência 2025 revelam que o problema da criminalidade permanece grave em diversas regiões do país. A taxa nacional de homicídios caiu de 21,7 para 21,2 por 100 mil habitantes, a menor já registrada desde o início da série histórica, mas estados como a Bahia destoam dessa tendência.

O estado nordestino lidera em números absolutos de assassinatos, com 6.616 casos no ano passado, evidenciando a disparidade regional na evolução dos indicadores de segurança. Enquanto algumas unidades da federação demonstram avanços consistentes na redução da violência, como São Paulo e Santa Catarina, outras — como Amapá, Pernambuco e a própria Bahia — continuam com índices alarmantes, especialmente nos homicídios cometidos com armas de fogo e na vitimização de jovens e da população negra.

Armas de fogo e adolescentes no foco da violência

A Bahia também figura entre os três estados com mais de 30 homicídios por 100 mil habitantes cometidos com armas de fogo, apresentando um índice de 36,6 por 100 mil. Quando se observa o recorte etário, o Estado contabilizou 945 homicídios de adolescentes entre 15 e 19 anos em 2023.

Embora represente uma leve queda de 4,8% em relação a 2022, o número ainda é considerado elevado e reflete a fragilidade das políticas de prevenção voltadas para essa população.

Homicídio entre negros segue alto mesmo com redução geral

Apesar da queda no número absoluto de homicídios no Brasil nos últimos 10 anos, os dados do Atlas da Violência 2024 mostram que a desigualdade racial permanece profunda e alarmante. Em 2023, pessoas negras pretas e pardas tiveram um risco 2,7 vezes maior de serem assassinadas em comparação às não negras. O estudo, divulgado pelo Ipea e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, aponta que, mesmo com avanços legislativos e políticas públicas de promoção da igualdade racial, o padrão de violência letal contra a população negra não apenas resiste, como se intensificou em relação a 2013.

Violência contra indígenas segue acima da média nacional

O Atlas da Violência revelou que, apesar de uma tendência de queda ao longo da última década, a taxa de homicídios entre indígenas ainda supera a média nacional. Em 2023, foram registrados 234 assassinatos de pessoas indígenas, resultando em uma taxa de 22,8 homicídios por 100 mil habitantes acima da média brasileira, que foi de 21,2.

O cenário é especialmente grave em Roraima, onde o índice chegou a 235,3 por 100 mil, e no Mato Grosso do Sul, com 178,7. A ausência de dados por etnia impede uma análise mais precisa dos riscos enfrentados por povos específicos, mas o estudo aponta que a violência está frequentemente associada a disputas territoriais, avanço do agronegócio e negação de direitos tradicionais, sobretudo em regiões como o Centro-oeste.

Violência contra mulheres permanece estável, mas alarmante em alguns estados, como Bahia

Em 2023, o Brasil registrou 3.903 homicídios de mulheres, o que representa uma taxa de 3,5 assassinatos para cada 100 mil habitantes. O índice permanece praticamente estável desde 2019, indicando uma estagnação nos avanços para a redução da violência letal contra as mulheres.

O Atlas da Violência aponta que a queda geral de homicídios no país não se refletiu de forma equivalente nesse grupo. O risco é ainda mais elevado em estados como Roraima, onde a taxa foi de 10,4 o triplo da média nacional, seguido por Amazonas, Bahia e Rondônia, todos com índice de 5,9. Por outro lado, os menores índices foram registrados em São Paulo (1,6), Minas Gerais (2,6), Distrito Federal (2,7) e Santa Catarina (2,8).

Casos de violência contra população LGBTQIAPN+ disparam

Já os dados sobre a população LGBTQIAPN+ no Atlas da Violência 2025 revelam um aumento significativo nas notificações de agressões registradas no sistema de saúde. Em 2023, os casos de violência contra homossexuais e bissexuais saltaram 35%, passando de 14,5 mil em 2022 para 19,6 mil.

Além disso, os registros de agressões contra pessoas trans e travestis subiram 43%, de 3,8 mil para 5,5 mil. Embora os dados não permitam afirmar que todas as ocorrências tenham motivação LGBTfóbica, os pesquisadores alertam para a gravidade do cenário e para a vulnerabilidade desse grupo diante da violência física, muitas vezes ligada à discriminação estrutural e à exclusão social.

Daniel Freitas

Daniel Freitas

Formado em jornalismo pela Universidade Salvador (Unifacs), é apaixonado por esportes, com experiência em assessoria de imprensa. Chegou à equipe do Portal Muita Informação em 2024 com uma vontade imensa de aprender e agregar.

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